segunda-feira, 30 de julho de 2012

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quarta passada foi o dia do escritor e, claro, seria um dia como outro qualquer se eu não tivesse ido na cooperifa (lugar que gosto muito) e visto marcelino freire (de quem sou fã) recitando uma poesia muito engraçadinha onde ele dizia matar o próximo cabra que nele chegasse perguntando como faz para publicar livro e qual acessoria de impressa certa a ser contratada para melhor aparecer. ri à vera com o texto dele, mas fiquei inibido em lhe perguntar depois como eu faço pra lançar o meu livro.
a literatura na quebrada vem recebendo uma boa visibilidade por conta dos saraus periféricos que vem acontecendo quase que diariamente, mas ainda há vários pontos a serem superados pelos nossos escritores.
o primeiro, que eu acho, é a qualidade dos escritos. dada a dita visibilidade e algumas facilidades, muitos são os lançamentos que, como diz o mano brow, só faz peso na terra. ai alguém diz pra mim: 'já somos tão criticados... não precisamos de críticos. a academia vai ter que nos engolir!' concordo; em partes.
que a critica venha de nós para nós. que não fiquemos no tapinha nas costas e nos aplausos mecânicos à quem nem sabe que o seu livro é ruim. outro ponto que devemos atentar é a produção e a comercialização do material. já foi o tempo que o poeta vendia suas obras mimeografadas nas mesinhas da vila madalena. hoje da pra manguear nos muitos saraus que acontecem em são paulo e até com lançamento!
mas ainda falta uma orientação aos escritores no sentido técnico da coisa. a agência solano trindade fez um grande trabalho no  livro "manda busca' do luan luando. um exemplo do que pode estar sendo feito no âmbito comercial. existem ai outros tantos pontos a serem tocados para que a coisa alavanque e todos os artistas de talento da quebrada (que são muitos) possam se defender com o seu material sem se curvar ao sistema.
até porque, a politica vigente das grandes livrarias hoje de obter o livro consignado à 50% do preço de capa com prazo de 90 dias para pagar é um tanto agressiva. ninguém precisa disso. e esse acordo pro livro ficar de lombada lá na prateleira. se quiser aquela pilhinha na mesa central, ainda tem que pagar a ação.
ééééé, marcelino...  o bang é doido. rs.
e eu, poeta fuleiro que tem rascunhos para uns quatro livros (que não vale um), pensei essa oração para são francisco de sales, dito padroeiro dos escritores, para que ele interceda por mim. e fé no café.





ó poderoso são francisco de sales,  chamado santo dos escritores, advogado das causas literárias, refugio dos sem inspiração, ordenador das ideias poéticas confusas, iluminais os humildes escritores sem editora . intercedei junto à jesus cristo nosso senhor para que a chama da imaginação não nos abandone. rogai ao poderoso nosso pai para que nossos textos atinjam o leitor. afastai-nos do clichê, da ideia pronta, do senso comum, do verso barato. fazei com que nossa pena não cesse de escrever obras ao vosso louvor e outros textinhos mais sacanas, já que ninguém é de ferro. vós sabeis o quanto sofre o coração de um escritor sem reconhecimento, sem prêmios, sem padrinhos, sem grana para a edição paga.
dai-nos a força e a perseverança necessária para empreender a difícil e pedregosa trilha do reconhecimento literário. e já que estamos aqui nos pedidos, afogue (lentamente) os críticos que nos caluniam no rio de enxofre borbulhante do inferno. principalmente aqueles que por insegurança, só incensam os já consagrados.
amém!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

VI(S)AGENS




tinha quatro anos esse rafaelzinho quando, pego na mão da mãe, vinha da feira e foi na calçada que ele se deparou com um homem que orientava o motorista de um caminhão a estacionar rente a guia pela quarta vez. dessas tentativas anteriores só nós sabemos, menos rafalzinho que levado ali naquele instante, ouviu o homem exclamar em bom tom: 'puta que pariu! tá apanhando, heim?'
foi só um momento. uma passada. mas a mente de rafaelzinho ficou lá olhando...
bem depois, de noite, esparramado no tapete da sala, rafaelzinho punha a mão para o alto, mexia os dedinhos e divagava. a mãe, percebendo a quietude do filho, puxou assunto:
'o que você tá fazendo ai, faelzinho?'
'tô pensando...'
'pensando em que, meu amor?'
'na puta que pariu.'
apanhou.

sábado, 21 de julho de 2012













chegado bem diante dos arrecifes, o menor erro de manobra bastaria agora para soçobrarmos,todos.
tudo estalaria, racharia, bateria, espatifaria e se espalharia pela praia. todas as nossas imundices e horrendos pudores diante dos curiosos aflitos. eu não tenho do que me orgulhar. não que tivesse cometido, eu, algo terminantemente criminoso. não. mas me sinto culpado mesmo assim. sou sobretudo culpado de desejar no fundo que tudo aquilo continue e inclusive não vejo mais inconveniente em que fossemos todos juntos vagabundear cada vez mais longe dentro da noite.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

essa poesia eu fiz à uns três anos atrás para recitar após uma primorosa dança que a minha amada lú faz com cimitarras árabes. dias antes da referida apresentação, a li na cooperifa para perceber a aceitação da mesma e também como ensaio para o dia da dança. o povo achou bonito, aplaudiu e eu fiquei bem satisfeito.
mas foi sair do microfone e o zinho chegar em mim com pilhéria dizendo que eu fiz essa poesia para um travesti. mandei ele à merda. mas a verdade é que só recitei ela de novo na noite da apresentação da lú e depois ela foi para a grossa pasta das poesias fugazes. mas certas coisas tem a capacidade de recussitar em ocasiões propicias e essa poesia não me sai da cabeça nos ultimos dias. os tempos são de mudanças e tudo que quero daqui pra frente são essas cartas na mão: entendimento, amor e sorte. para todos nós.








que bela cartada!
sorte vir na minha mão
essa dama de espada.

então;
que venha o amor.
o amor é o coringa
no jogo da vida.

cavo o baralho
na expectativa
dessa carta decisiva;
mas seja como for...

no pano verde
do cotidiano
os planos
são de paz.

tanto tempo faz
que vivo morrendo
de amor...

e agora,
com a dama de espada
na mão,
tenho a firme convicção
de que o coringa esta pra vir.

o amor irá garantir
o meu lugar na mesa.
essa dama de espada
é o meu trunfo.
ela é forte.
teremos o nosso triunfo.

e pode ter certeza
que o jogo não para.
só param os jogadores.
a dama de espada
engrandece
os meus valores.

as apostas
são as máximas!
sortudo!

com a dama de espada
vou para o nada.
ou para o tudo.

domingo, 15 de julho de 2012


 
a ágata espanta a tristeza!
tem beleza em harmonia
e uma alegria escandalosa.
tem prosa bem envolvente
que a gente gosta de ouvir.
siri ela apanha com a mão
de tão corajosa que é.
tem fé num futuro melhor
e sabe de cór a lição...
canção ela sabe também,
que nem uma grande cantora.
é moura, é cerqueira, é filha
maravilha que desponta,
conta história encantada
e piada hilariante.
saltitante bailarina,
disciplina cuidadosa.
curiosa igual nunca vi.
magali, ela põe no chão,
dogão, morango e bala...
nem fala de boca cheia!
sereia da minha praia,
alfaia do meu batuque,
truque mais genial;
tal qual o nascer da rosa.
melosa e sentimental
igualzinha ao seu papai.
ai que vontade que dá
de apertar essa menina!
minha sina é amar ela:
ágata, formosa e bela...

sexta-feira, 13 de julho de 2012


 









tomado por todo lado
de um estado
alterado

mudança dança
na mente
de forma eloquente
e acertiva

novo e vivo
entendimento
da alento...
reativa esperança

tenho tido
festa nos
sentidos

o lirismo
do abismo
no qual caio
feito pluma

arde-me uma vontade
de ir além
do planenejado
de estar do lado

explodir em cores
os valores, os pudores
por amores na vida
já tão curta e dividida
em fatias desastradas

pincelada que´strala
na lingua e na tela,
vestindo o destino
com roupa de gala

ela, a vida,
tem que ser
bem tratada...

mesmo ela sendo ingrata,
me esguelo na bravata
de que ela vale a pena
e os problemas
cri-criamos
é a graça dessa estrada
que ao findar
vai dar em nada...

(que seja a estrada
                              doce
                              criativa
                              engraçada
                              e que se passe com pouco dinheiro)

segunda-feira, 2 de julho de 2012






se eu te desejar
e o meu corpo ardente
clamar por ti no momento
em que não puderes vir,
eu não saberei guardar,
sem tormento,
o favo desse mel no alento
do meu corpo quente
que, comovidamente,
acha o movimento
e o jeito perfeito 
para te esperar.

e onde eu estiver
e passar sem medo,
passa um homem
que agita o ar,
contagia o espirito,
estremece a terra
e revolta o mar.

o amor é doce
mas misterioso
e o melhor perigo
de quem ama 
é se entregar!

(quero mais!)


quinta-feira, 28 de junho de 2012





essa música que voltou a tocar na festa é a mesma que ouço de longe, dos tempos que eu era menino.
é a mesmíssima música que não para, aqui e ali, pelas bordas da cidade, pelas vilas do interior e nos lugares aonde os pobres vão no fim do dia para saber como as coisas estão. 'é o paraíso!', dizem.
e vamos bebe-la, a cerveja quente!
mas esse garçom realmente está com um bafo desgraçado de mentira por debaixo de todas as histórias que ele diz. e quando dão o troco, vem junto umas moedas bem estranhas, tão estranhas que nos dias seguintes eu ainda as fico examinando e nunca elas vão pra frente quando eu faço caridades.
isso que é festa, ora se é! me divirto quando posso, entre a fome e a prisão.
tem que se aproveitar a festa para formar a personalidade, sempre desconfiando das coisas e das pessoas dessas horas. pensamos que elas, as coisas, vão falar e ai elas não dizem nada e vez em quando são tragadas para dentro da noite sem que compreendemos o que tinham para contar.
eu, pelo menos, é a minha experiencia.

terça-feira, 26 de junho de 2012






eu sou a água clara
na boca do cangaceiro
em tudo que é fevereiro.
eu sou o cheiro de mar.

estou no vento poderoso
que vai movendo o veleiro.
sou o próprio contratempo.
eu torno tudo passageiro.

destilo línguas de fogo
qual passagem pro inferno.
queima, queima babilônia!
com mais lenha, eu sou eterno.

eu crio terra fértil
aonde comem os animais.
faço esculturas de barro
retratando os ancestrais.

matei hades e anúbis,
não poupei nem o diabo...
não sofrerei com a morte
pois conheço meu passado.

fui inicio turbulento,
hoje linha de chegada.
semente do universo;
voo e não deixo pegada.

fui explosão criadora,
gigante dos povos nórdicos.
costela fêmea de adão
e o famoso filho pródigo.

olho cego pra frente,
edifico a minha estrada.
tenho nada, sou tudo;
ao ter tudo, não sou nada.

segunda-feira, 18 de junho de 2012









foi a mesma solitude que me levou a  frequentar o meretrício e por uma das moças do lugar, valdenice, passei a nutrir um forte sentimento de confiança que entre as criaturas amedrontadas, faz as vezes de amor.
nos tornamos íntimos pelo corpo e pelo espirito e íamos juntos passear na praia alguns dias da semana.
ela sempre pagava tudo já que faturava em torno de quinze vezes mais por dia no bordel do que eu na loja. naquelas noites eu me obrigava a ser amável quando ia encontra-la. é preciso ser alegre com as mulheres, pelo menos no inicio.
uma noite, sem mais nem menos, ela me ofereceu cinquenta reais. primeiro eu recusei. não me atrevia. pensava no que minha mãe diria numa situação dessas e depois eu refleti que minha mãe, coitada, nunca tinha me oferecido tanto. essa valdenice, cá entre nós, que mulher! que generosa! um festim de desejos! mesmo assim eu voltava a me afligir. gigolô?... pensava.
ah, se eu tivesse a encontrado mais cedo, a valdenice, quando ainda era tempo de pegar uma estrada ao invés de outra... antes de perder meu entusiasmo com aquela filha da puta da tânia ou com aquela bostinha da márcia. a natureza era mais forte. só isso. a vida tinha me testado num gênero eu eu não conseguia mais sair desse gênero. eu tinha ido num rumo de inquietação. eu gostava muito de valdenice, é verdade, mas gostava ainda mais desse meu vício, dessa vontade de fugir de todo lugar a procura de não sei o que.
acabei, de tanta gentileza,  por lhe confessar a mania que me atormentava, de dar o fora de tudo. ela me viu debater durante dias e dias sobre fantasmas e orgulho e não ficou impaciente, não. muito pelo contrario. tentava apenas me ajudar a superar essa inútil e tola angustia. mas isso não adiantava nada, ser boa comigo.
ela era sincera demais para ter muitas coisas a dizer à respeito de uma tristeza. ai de novo fiquei com aquela sensação de que a vida me escondia o que eu queria saber dela. a vida. a verdadeira amante dos verdadeiros homens. então fui perdendo o fervor de beijar valdenice e à vendo cada vez menos.
é no cansaço e na solidão que o divino sai do homem. eu tinha vergonha de não ser rico em sentimentos e tudo o mais e também, de mesmo assim, julgar a humanidade mais baixa do que ela é de fato. e ainda eu tinha essa queda horrorosa pelos fantasmas. talvez não totalmente por culpa minha. a vida forçava a passar tempo demais com os fantasmas. eu não parava de deixar as pessoas.
quando comuniquei minha partida à valdenice, ela me disse: 'você já esta longe, meu amor. você está fazendo exatamente o que tem vontade de fazer, não está? é isso que é importante... é só isso que conta...'
quase que eu quis ficar.
para deixa-la, decerto, precisei de muita loucura e de um tipo frio e abjeto. seja como for, encorporei em minha alma as gentilezas e os sonhos que valdenice me deu naqueles poucos meses em mongaguá.
ela não mora mais na mesma casa. foi tudo que consegui saber.
boa e admirável valdenice.  quero, se acaso me leia de algum lugar que não sei, que bem saiba que não mudei, que ainda a amo e para sempre, do meu jeito, que pode vir aqui quando quiser partilhar  minha comida e meu imprevisível destino. se não for mais tão bela, pois bem, paciência! a gente se arranja!
trago tanta beleza dela em mim, que ainda tenho o suficiente para nós dois e para no minimo trinta anos, o tempo de tudo se acabar.

sábado, 16 de junho de 2012








ultimamente, nas madrugadas de sexta pra sábado, ele tem feito muito isso.
raramente no meio da semana. ele é meio paradão. mas nas noites de sábado, uma luz diferente o ilumina e ele vai se movimentar por ai. gosta de estar por toda a cidade. mesmo duro, está pelas esquinas. para em rodas de samba, nas portas das boates, em postos de gasolina e aonde tenha consumo livre de álcool. assim, sua energia vai além de suas possibilidades e é nas primeiras horas das manhãs de sábado que ele sente uma vontade incontrolável de se movimentar. correr por ai. dessa vez foi parar na rebouças, na altura da henrique schaumann.e foi ali que ele fez mais uma vitima. uma maserati.
maldito poste bêbado!

terça-feira, 12 de junho de 2012










tento ser forte
e conto com a sorte.
o risco de morte
aqui é real.

olho o jornal
e me dá arrepio.
não é só no Rio
que a coisa vai mal.

a cidade
é uma armadilha.

vejo minha filha
em tão tenra idade;
não sabe a maldade
que conduz as crianças
da estação sem luz
à um destino apagado.

seguem fio desencapado
e ninguém fica chocado...
só quando se vê acuado,
ameaçado por um caco
na mão de um pirralho
que não tarda
meter-lhe o talho.

talhado coração
de galinha à cabidela
cidadão.
terá fim essa situação?

quarta-feira, 30 de maio de 2012








em algum lugar
do meu sonho
uma fera
me espera.
me ponho
a abrir picada
na mata fechada
sabendo não dar
em nada
a minha fuga
desse encontro.
ela vai me pegar
e pronto!
sinto o halito
dela no ar,
seu cheiro almíscar...
não dá
pra escapar.
tenso, penso
em enfrentar
a criatura.
lutar essa dura lida;
mas ela é tão linda...
eu vou é me entregar.
logo me vejo
sobejo de desejo
em uma casa
abandonada
e subindo
uma escada
que me leva
a teia dela.
serei a ceia
dessa bela fera.
mas ao vê-la
de verdade
me arde
o desespero.
seu pêlo é curto
e vermelho,
iguais às unhas
rubras, curvas
e afiadas.
os olhos,
dois pedaços
de carvão,
que nem de
tubarão
numa cara 
meio ofídica.
um corpo esguio
que me enche
de arrepio.
me deixa vazio...
sem pensar direito,
logo me jogo
à fera
para que ela
rasgue meu peito,
abra minha cabeça
e desfaleça
os meus sentidos
no ato da apropriação.
acordo em rápidos gemidos
e de tesão.





sábado, 26 de maio de 2012





FOGO, FERRO E MAR





foi em 1915 que isso se sucedeu.
a primeira grande guerra acontecia e tudo era nebuloso e incerto na inglaterra.
nesse cenário encontra-se thon, que andava muito apreensivo com aqueles tempos. por essa época, ele era um popular líder sindical e seus discursos moviam a massa. seu verbo fluente falava das amarguras do povo e de suas aspirações. a guerra não era uma delas. logo o governo britânico viu em thon uma ameaça e se valendo de sua descendência alemã, meteu-o na cadeia. não demorou muito para que, além dos muros, a liberdade do líder fosse tramada. thon seria resgatado da prisão e embarcaria em um vapor que seguia para a américa. documentos falsos foram providenciados para que ele fosse incorporado à equipe de foguistas do navio. até então, nunca saíra da inglaterra e a emoção da aventura o excitava. mas ao chegar na casa de máquinas, thon viu que a sua liberdade sairia caro.  acostumado aos palanques e escritórios, thon se viu no inferno ao ter que investir com a pá cheia de carvão contra a boca do forno incandescente que fazia as hélices funcionarem. ele duvidou de suas forças para tão tenebrosa tarefa. pensou que morreria naquela atmosfera escaldante, mas pouco a pouco foi absorvido pela indiferença do espaço-tempo, sensação tão conhecida pelos exilados e infelizes. fazia seu trabalho de forma mecânica e solitária em meio ao barulho das maquinas e das labaredas que lhe queimavam os pêlos do braço e as pestanas. a policia na inglaterra também trabalhava e em investigação e investigação, soube do paradeiro certeiro de thon e telegrafou para o navio dando a identidade verdadeira do pseudo-foguista. no quarto dia da partida, toda a tripulação já sabia do fugitivo.
ele era vigiado e, por sinistra ironia, sabendo que thon faria qualquer coisa pela liberdade, era posto nas caldeiras mais quentes e que davam mais trabalho. seguia resignado. assim foi por muitos dias, até que o navio entrou no rio hudson. thon olhava os arranha-ceús de nova iorque já pensando na liberdade quando um oficial do navio o chamou: 'sr. thon...' estremeceu. a sorte o abandonou. lhe chamavam pelo nome.
'como vê, sei quem você é. desde o começo eu sabia. não mandei prende-lo antes para não desfalcar a equipe dos foguistas. mas agora, em nova iorque, o senhor será substituído. teje preso!'
thon abaixou a cabeça arrasado. 'levem esse homem.' finalizou o oficial.
ele foi posto então em ferros e jogado em uma cela infestada de ratos. desembarcou de volta em liverpool meio morto e meio louco. por pura crueldade deixaram-no trabalhar até nova iorque, e pelo mesmo motivo o puseram, na volta, acorrentado no porão de um navio da onde não podia fugir.

sexta-feira, 25 de maio de 2012








grande hipócrita me elejo
dentro dessa sociedade
então vou falar a vontade
de certas cenas que vejo

me vejo sempre ganhando
grana em cima da miséria
eu juro que a causa é séria
e por trás vou tripudiando

digo que é muito bizarro
esse sistema de saúde
mas me contento amiúde
com um maço um cigarro

eu fiz um projeto pro VAI
para ir contra a violência
mas agrido sem clemência
meu filho, meu irmão e meu pai

sou um artista ativista
lutando pelos direitos
mas tudo fica perfeito
se eu saio na revista

as leis e suas sevícias
digo não aguentar mais
mas dou cinquenta reais
nos acertos com policia

afirmo de forma arrogante
que o trânsito é um horror
mas quando estou no metrô
só vou na escada rolante

digo que vivo várias fita
na zona sul e na asa norte
mas prefiro até a morte
ao por o pé em palafita

'a periferia é uma beleza!'
afirmo por onde eu ando
mas quando é fim de ano
vou tirar onda em veneza

e em quantos interesses
ponho o nome de amor?
relações mais sem pudor
que troco todos os meses

aceito qualquer emprego
que me dê uma assistência
e supra a minha carência
das coisas eu tenho apego


a culpa de toda a desgraça
costumo jogar no politico
os quais sempre critico
sob efeito da cachaça


as minhas palavras a esmo
são cheias de demagogia
e não demora, algum dia
vomitarei em mim mesmo

quarta-feira, 23 de maio de 2012






ligo ou não te ligo
nesse domingo?
me sinto mendigo
implorando atenção.
sua ausência é atribuída
à sua vida corrida,
mas eu desconfio que não.

em dado momento
dessa relação
criei um departamento
para a sua jurisdição.

falando assim,
burocraticamente,
você simplesmente
abandonou a função.


mas cada um
faz o que quer, né?
eu sou só um homem,
você é a mulher.

não me avexo. 
por um tempo
me fecho
pra sanar a confusão
instalada no coração.

eu existindo,
te bendigo.
mas nesse domingo
não te ligo, não.




segunda-feira, 21 de maio de 2012








todos eles eram de circo. desses antigos, de roda gigante e cartomante. somavam-se por volta de trinta pessoas fazendo com que o circo acontecesse de cidade em cidade. nos idos dos anos quarenta do século passado, em plena caatinga nordestina, faziam-se raros. entre eles, um mais ainda. rodriguez apresentava um destacado show de 'girls' dentre as atrações do parque. uma dupla de mulheres coreografadas, dançavam foxtrot, can can, hula hula ao passo que se despiam ao som do ritmo. o ponto alto do show era o nu frontal, quando os ávidos espectadores jogavam moedas no palco para as beldades. rodriguez acompanhava o show de espingarda em punho ao lado de um cartaz onde se lia: 'se as dançarinas forem tocadas, encerra-se o show.'
era assim que rodriguez protegia a esposa e a a filha carmela, menina despreocupante, já que é com a esposa de rodriguez que desenrolou-se o drama. e senhores... há, sim, dramas também no circo.
dora era uma morena daquelas roxa, vinda de minas. conhecera rodriguez em uma das primeiras noites nos cabarés de petrolina. ela se encantara pelo bigode á lá gable do esbelto rapaz de fala enrolada. saíram do bordel direto para o idílio. nos tempos em que viveram sem serem nômades, errando pelo sertão, rodriguez caftinou dora.  rodriguez, marido fiel e atencioso e dora, esposa fogosa e prestativa. um descuido dele ou de quem e dora ficou de menino. rodriguez, muito sem jeito, aceitou acompanhar a trupe de um primo de zaragoza que passava por jequié. a ideia do show veio depois de dora dar a luz a carmela e voltar a ser a exuberante mulher coxuda e peituda que deixava rodriguez louco. os mambembes, muito mente aberta, acolheram o trio e não se incomodaram com a ousadia do show de rodriguez e muito menos com alguns distintos cavalheiros que dora recebia em sua tenda após as apresentações. rodriguez aceitava, brincando com a menina pelo parque fechado ou ajudando um e outro companheiro a carregar caixas e a bater lona.
isso era passado, pois já nos tempos em que a filha de dezessete anos aderira ao show, rodriguez andava desanimado e desgostoso de dora. não que não à amasse. isso não! só não sentia mais aquele calor ao toque da mulher, preferindo estar sempre cansado ao ponto de dormir. dora continuava a mesma. fêmea fera de gosto afoito pelo coito. doía em dora o desinteresse do homem amado. tinha a atenção variada de todos eles, mas não mais a de rodriguez. vendo a mulher sofrendo pelos cantos e sem brilho nos shows, rodriguez não teve outra ideia se não arrumar um outro amor para dora. nessa época, o espanhol era muito amigo de um dos palhaços que ali se apresentava. severino era querido por todos e o seu palhaço 'rapadura' era anunciado em cartaz. a proposta de rodriguez foi aceita de primeira por severino. forte desejo o palhaço já sentia por dora, se imaginando naquela sessão extra. dora que prometera nunca se entregar a homem nenhum do circo, não viu problemas quando rodriguez comunicou o encontro e foi muito verdadeiro quando ela perguntou de quem tinha sido a idéia. e o palhaço foi ao encontro. muitas vezes.
nos próximos meses, rodriguez sentia que  plano tinha sucesso ao ver a esposa voltar a sorrir, cantar e dançar como outrora. severino também estava exultante. hilário. até rodriguez recuperou o desejo pela mulher e se viu em apuros quando em uma noite, requisitou o amor de sua dora. dora chorou e disse que não podia. disse ainda que o amor alegre do palhaço tinha tomado o lugar do desinteresse do marido. 
rodriguez perguntou com o coração apertado: 'e o que devo eu fazer?'. 
dora, virando de lado, disse entre um sorriso: 'você sabe bem o que fazer...'
no dia seguinte, rodriguez espreitou o melhor momento em que se viu a sós com severino. 
muito sério, com olhar duro e voz cortante, rodriguez disse: ' acabou, severino. você me deve cento e vinte cruzeiros.' o palhaço imerso na desilusão, ainda balbuciou chocado: 'te dou depois, lá na minha tenda.'
rodriguez consentiu e o amor voltou aos lugares que lhe cabia.













quinta-feira, 17 de maio de 2012









existiu um homem. um cro-magnon que desprezado por sua tribo, vivia solitário e infeliz.
mas excelente caçador que era, conseguia pelo menos arranjar o que comer. mesmo assim ele sentia fome. não sabia bem do que. carne com certeza não era. era de algo mais...
numa manhã ele saiu ao sol mais cedo do que de costume e olhou o cenário familiar a sua volta. o vale. seu mundo verde e luxuriante. foi ai que um ruido atras e acima dele se fez notar. com os músculos tensos, pronto para lutar, ele se virou. algo estava parado na entrada da caverna. ele logo o reconheceu como uma fêmea, mas muito diferente de todas que já tinha visto. ele a queria. e com o desejo, veio uma inquietação em sua mente. uma consciência que dançou pelo seu corpo, se espalhando da cabeça aos pés.
o homem tentou alcança-la, mas ela subiu mais e mais ainda até chegar ao topo da rocha, onde parou com o sol formando uma áurea em torno do seu corpo. a luz parecia envolve-la, deixando o homem cego. quando ele pode ver novamente, nada mais havia ali. nem mesmo aquela consciencia. ele voltou a ser tão ingenuo e estupido como seria por séculos. exceto por alguns breves momentos em cada uma de suas futuras vidas.
quarenta mil anos depois, o homem renasceu como um camponês escocês. um dia ele estava consertando a cerca que separava as terras do seu patrão do pântano e ela apareceu com os pés imersos no solo lodoso e com os cabelos mudando de cor. vermelho para branco. instantaneamente ele se lembrou. ele a desejou e a perseguiu pelo pântano através da nevoa. mas a neblina a envolveu e tudo desapareceu. cem anos mais tarde, um pescador na frança teve a mesma visão. ele então se lembrou e a lembrança o fez gemer por ela, mas a mulher se desvaneceu no entardecer antes que ele pudesse alcança-la. depois disso, era ele um marinheiro.
foi numa véspera de natal em um terminal de ônibus que ele a viu. bastou vê-la pra se lembrar e a desejar.
mas em todas as vezes, ela se afastava dele de forma mágica e inoportuna. ele ainda tentou acompanha-la dizendo: 'por favor! eu preciso falar com você! me espera!' sem sucesso. nos instantes finais, antes que a sua consciência verdadeira voltasse  a hibernar, ele chorou e esbravejou: 'maldita! eu tenho perseguido você por mais de mil gerações. ou entra na minha vida de uma vez ou vá para o inferno. já estou farto disso!'
não estava.
nos séculos seguintes, a humanidade atingiu o auge da sua evolução. o homem já não mais utilizava maquinas movidas por motores a combustão, mas viajava através das estrelas com asas de pura energia tiradas de fontes da própria criação. esses frágeis humanos seguiam imbuídos de conhecimento, e esse saber os protegia do frio, do calor e do vácuo. eles viajavam por todos os lugares. aprendiam muito e passaram a amar tudo o que conheciam. gradualmente a raça percebeu que sua continuidade não tinha mais propósito. assim ela voltou para o nada, contente com o que foi e feliz por não ser mais. mas antes de desaparecer, a raça decretou que um dos seus deveria ficar como um marco. o escolhido havia sido o homem das cavernas,  o fazendeiro, o pescador, o marinheiro... e agora ele era o monumento da sua espécie.
o tempo não mais contado, deu lugar à eternidade e ele ainda persistia, adormecido para sempre.
então, ao acordar, viu-se sozinho e percebendo que não havia necessidade de solidão, foi até um lugar onde a vida estava começando e tocou os átomos, esculpindo e moldando de acordo com as suas lembranças e deu à sua criação consciência e sexualidade feminina. e o tempo voltou a existir, envolvendo o corpo da mulher e a levando eras e eras no passado, colocando-a no topo de uma rocha, num pântano, numa praia, numa rodoviária e finalmente o tempo a devolveu ao homem e ele a recebeu.
e aqui, no começo e fim de tudo, eles se tocaram.

terça-feira, 15 de maio de 2012






CONCERTO PARA UM JOVEM CÃO




do pouco pó que lhe absorveu,
apenas o escuro revelou.
o vinho que não consumiu
virou sangue.
a carne que não quis,
fez-se corpo amargo e estranho.
amo seus caminhos.
amo seus cabelos.
amo a sua voz.
meu amor é mais.
meu amor é etc.
aquilo que a vida não fez
a navalha trouxe.
de tudo que foi abismado,
sobrou apenas uma tempestade de gritos.
que seja compassiva a sua dor
e menos imensa a minha calma.
sofro de delicadezas
e de mundos de uma única solidão.
esperto seja jesus cristo
que foi homem de um amor só.





quinta-feira, 10 de maio de 2012







CORDEL AOS FILHOS NUNCA ESQUECIDOS







como pode esse nosso país
estando em plena evolução,
não ver que destino infeliz
procede pro seu  cidadão
seguem a mesma diretriz
o juiz, a policia e o ladrão.

quanta tragédias diária
que a gente já não viu?
massacre da candelária.
o sandro do buso no rio.
pobre é tido como pária,
não é cidadão no brasil

o cabra já nasce lascado
se for pobre e brasileiro.
direito? só de ficar calado!
e como já é tão costumeiro
percebe logo que o estado
só serve a quem tem dinheiro.

a gente segura as pontas
e procura andar no trilho.
pagamos as nossas contas
vivendo sempre no rastilho
e o estado nos desaponta
matando os nossos filhos.

em maio de dois mil e seis
o fogo chegou ao estopim.
arrancaram com estupidez
as flores do nosso jardim.
dada as ordens lá do xadrez
o caldo entornou enfim.

tava em plena expansão
o tal crime organizado
que teve até condição
de enquadrar o estado
mostrando pra população
que o bang tava embaçado.

foi pra quase uma semana
os ataques do PCC.
foram cenas desumanas
que vimos pela TV.
cenas que bem explana
a politica do PSDB.

tinha ônibus incendiado.
e a escola ficou fechada.
o comercio ficou lacrado
a mente ficou preocupada
e o coração tão apertado...
aquilo era uma bofetada.

o que até ninguém sabia
era de uma retaliação
de forma covarde e fria
da rendida corporação:
resolveu que descontaria
nos filhos da própria nação.

a rua virou zona de guerra
dominada por mascarados.
e os filhos da nossa terra
foram sem dó massacrados.
por bandos de besta-feras
agindo em nome do estado.

quem teve o filho perdido
até hoje não acha suporte.
esperam pra ver punidos
quem trouxe tanta má sorte
e lutamos pra ver extinguido
a 'resistência seguida de morte'.

e é por isso que a gente se atiça
pra mostrar o que esta escondido.
não teremos nenhuma preguiça
em dar o grito tão sucumbido:
'JUSTIÇA! JUSTIÇA! JUSTIÇA!'
aos filhos nunca esquecidos.

terça-feira, 8 de maio de 2012




A FARRA E O BOI


 



meu pai nasceu temporão e já com aquele irmão que chamavam guto.
esse meu tio, junto ao meu avô, tocava a fazenda com doze cabeças de gado em vez que meu pai nasceu.
minha vóinha tangia os três.
mas foi com meu tio guto que aconteceu o legal. se é que foi pra ele.
porque eu mesmo nunca nem falei com ele ou vi foto.
foi assim: ele já tinha dezesseis e era folgazão, tocava um violão e, vez em quando, tomava um pifão. namorava. ficava por ali em são francisco do conde, são félix, cabuçu e santo amaro. entre a criação e o mar. suas duas paixões. era o pastor daquelas cabeças que se guiavam pelo cajado do aboio afinado que meu tio entoava.
isso quem conta é vóinha, que precisou vir de lá por conta das dores. se trata aqui pertinho no einstein.
meu pai mesmo nunca falou do tio guto assim. tio guto.
o povo achava engraçado aquele moço festeiro que trazia a sua platéia bovina pára onde tava a farra.
pois era isso mesmo. o gado da fazenda seguia o meu tio pra cima e pra baixo, de dia e de noite para onde ele fosse, bastava ele aboiar quatro ou cinco tons.
em dia de festa, os bicho ficava ali tudo quietinho pastando e muitas vezes até dormia até duas, três, quatro horas da manhã quando meu tio tinha que ir para o trabalho depois do sono rápido. sempre o gado na rabeira.
meu avô não gostava muito disso, não. quanto aos afazeres, meu tio era produtivo e detreminante na renda que geria nossa familia. mas as noitadas, as cantorias, as damas na garupa...
tudo isso afetava o humor do meu avô. via tudo com maus olhos que eclipsavam as virtudes de meu tio guto. chamava-o mandrião.
com vinte e dois, vovô disse ao meu tio que mendes lhe tinha arrumado trabalho na petrobrás. que fortuna! tanta gente na região querendo uma boquinha daquela... e o gado, pai? será reduzido, guto.
parcela do salário de meu tio guto supriria a diminuição do trabalho na fazenda.
de quatro cabeças dou conta do leite e do corte, disse vovô.
meu tio juntou umas poucas coisas e se foi para a plataforma de candeias trabalhar como auxiliar de soldador. três meses em alto mar logo na primeira ida. mergulhava de escafandro.
até tava gostando daquele mundo novo que ele tanto quis saber outrora. via tanto cardume, polvo, tanta raia, tanto brilho de solda... um dia viu um cação de uns três metros!
tudo isso ele disse pra vóinha quando ele voltou antes dos três meses por conta do acidente.
porque teve um acidente. um parafuso rompeu do capacete do meu tio guto à uma profundidade de quarenta metros. se meu tio não é de circo, morria afogado lá. chegou à tona vivo e, ao acordar no hospital, viu que nada mais ouvia. a pressão do fundo do mar rompeu os tímpanos do meu tio guto.
aposentou nessa idade com salário da época.
ao voltar pra fazenda, encontrou um meu avô arrependido e solicito em aprovar todas as excentricidades do meu tio guto, que não eram muitas.
com quase sessenta, meu tio guto é que vive lá tangendo o gado, tocando viola e gemendo alto com as raparigas em seu mundo tranquilo e silencioso.

sexta-feira, 4 de maio de 2012





esse cordel eu fiz em 2007 quando a praça da sé virou campo de batalha por conta do abuso da policia no show dos racionais mc´s . não lembro qual edição era da virada cultural, mas o povo ficou super afim de ver os racionais.  o show que estava marcado pra meia noite teve três horas de atraso, o que levou um pessoal embriagado que estava lá, subir numa banca de jornal e começar a arrancar as telhas do estabelecimento. 
a policia sempre muito bem preparada para esses casos, sentou o cacete em quem estava ao alcance deles,  descambando tudo num corre corre que até quem não é de briga, teve que brigar naquele dia. quem tava comigo nessa era baltazar do preto soul  que não me deixa mentir. tivemos que proteger umas meninas que tavam lá com a gente em meio à lagrimas lacrimogênicas. o papa recém canonizado chegou aqui uns dias depois. e como sempre, fiz o que queria e pus o pastor alemão no meio da fuleragem. fuleragem também é essa virada cultural que joga areia no olho do cidadão, prometendo cultura em quarenta e oito horas sendo que o resto do ano, tudo é entregue as baratas. é certo que logo logo veremos notícias das fraudes e de lavagem de dinheiro que são encobertos por essas quarenta e oito horas. a cultura em são paulo também esta sucateada, assim como outros setores. quem já foi nas viradas anteriores sabe que além das atrações, podem ser vistos os maiores disparates indo de embriaguez, brigas e até violência sexual . precisamos estar atento e ver o que serve e o que não serve para nós e não deixar que esse filha da puta do kassab empurre a politica podre dele na nossa guela abaixo.





A VIRADA DE BENTO PRA RACIONAL


bento, menino maluco
de uma cidade alemã,
cresceu cheio de traumas
em uma família cristã.
no peito trazia um conflito,
pois dos racionais era fã.

imagine aquele menino
nascido no estrangeiro...
no estado da baviera
tido como desordeiro,
por ser fã da maior banda
do nosso rap brasileiro.

mas a santa vocação
acabou mais alto falando.
e pelos escalões da igreja
aos poucos foi se ordenando.
até tornar-se o sumo pontífice:
o maioral lá do vaticano.

mesmo tomado o papado
ele ainda tinha a maior fé
de ver os antigos ídolos:
vocês sabem bem que é...
e surgiu a oportunidade
de vê-los na praça da sé.

quando soube do evento,
bento não quis discutir.
programou a sua visita
para com o show coincidir.
pois há mais de 70 anos
essa festa queria curtir.

quando chegou ao brasil
trocou logo o figurino.
pôs uma beca nervosa
ficou estilo esporte fino.
e dirigiu-se pro centro,
alegre que nem menino.

começou curtindo a noite
dançando na pinacoteca
junto com o periafricania:
sentiu-se numa discoteca.
ainda viu clube do balanço
e um tal de carlos careqa

já era umas três da manhã
e bento foi logo pensando:
"já chega a hora do show
que tanto venho esperando.
vou fumar mais essa pontinha
e vou com deus me guiando."

mas quando ele chegou lá
falou assim: "eita porra!!!!"
ficou um tanto assustado
no meio daquela zorra.
aquela muvuca de gente
parecia sodoma e gomorra.

tinha nêgo emaconhado
tudo curtindo uma luz.
tinha  cego e aleijado;
malucos fazendo jus.
e um bebo que dizia
que era o próprio jesus.

conformou-se com o fato,                                                                                                           
doido tem pra todo lado...
e o papa já tinha bebido
e já tava meio chapado.
e cada um dos malucos
por ele foi perdoado.

o que o papa não perdoou
foi a a truculência policial.
que destratava o publico, 
com seu jeito habitual
e acabou com o show
de forma vil e brutal.

quando bento deu por si
a treta tava generalizada.
era bomba e pedra voando.
soco, chute e garrafada.
doido de lacrimogêneo
não via nem falava nada.

o papa apavorado
com a treta no centro.
correu para se esconder
no mosteiro da são bento.
"valei-me, meu joão paulo;
outra dessa eu não guento..."

depois daquele susto,
o papa logo evocou
nosso jesus nazareno
e uma decisão tomou:
excomungou os polícia
e os maluco canonizou.

e essa é a história verídica
sem delongas e demais.
do papa que veio de fora
curtir show dos racionais.
e espero que no brasil
ele não volte nunca mais.

sexta-feira, 27 de abril de 2012





foi num dia desses
que a três meses
eu não à via,
que ela veio pela via
e parou na minha
cara a cara.

saquei que ela
já bem sabia
o meu horário
e meu itinerário
que passa a porta
de um motel.

não sei se chamava roma
não sei se chamava paris
mas foi onde aquela santa
me levou próximo ao céu,
para me fazer feliz.

os mais fortes fluidos
trocados naquele período,
foi um ótimo cataplasma
na pergunta fantasma
que assombrava
o meu trimestre:
porque ela não vinha
se tinha sido tão bom
também nas outras vezes?
três meses
por quatro horas...
ora bolas!

de uma mulher dessa
não se puxa conversa.
ela é uma daiana,
que caça minha carcaça
nas ruas por onde passa.
uma deusa patcha mama,
soberana em me tirar
a contrariedade 
da cidade.

é a alma invisível da rua
que contempla-me nua
na surpresa
de uma esquina.

anjo-mulher-menina;
sou sua presa
na cidade estricnina.



segunda-feira, 23 de abril de 2012





carrego no corpo e na alma
o que jamais alcançarei.
em um gosto que provei,
em um perfume que sorvi,
o passado jorra palpável
e altamente audível
alterando o pouco que sei.
o espírito menino
habita o corpo velho.
a minha mulher infância
fuma comigo em fumaças
que sugerem antigas figuras.
 há o homem,
mas há o poeta.
eles nascem e morrem
em certas partes de mim.
as sombras deles
ficam na estrada.



quinta-feira, 19 de abril de 2012

A PELEJA NO FREAKSHOW
D´AONDE O MIGUEL SE ORIGINOU





já vem O Augusto inventar
mais uma de suas histórias.
se escrevo é só pela farra.
não quero fama, nem glória.
só quero quem queira escutar
a minha mais douda oratória.

todo mundo sabe que eu
sou um bom cabra da peste.
e sempre me dou muito bem
quando eu estou no nordeste.
mas foi lá paras bandas de riba
que quase não passo num teste.

foi numa quarta feira
e era noite de são brás.
andava só na madrugada
e no poste eu vi um cartaz:
'o circo esta na cidade
com seres fenomenais!'

e eu gosto tanto de circo,
que logo pensei: 'que sarro!'
mas o cartaz também avisava
que o show era um tanto bizarro...
diziam que antes do fim,
medrosos 'puxavam o carro'.

não me intimidei com o aviso
pois cabra sem medo eu sou.
'se for até uns três contos,
hoje mesmo lá eu vou.'
peguei o cartaz e sai
procurando o freakshow.

eu andei por mais de hora
sem ver uma alma penada.
foi quando, como milagre,
surgiu na curva da estrada
o circo com sua lona
totalmente iluminada.

cheguei na bilheteria
e perguntei: 'quanto é?'
o bilheteiro respondeu:
'paga o quanto que quiser.'
o cabra era metade homem
e a outra metade mulher.

dei então quinze centavos
e lembrei das casas bahia.
ele(?) me deu a entrada
me olhando com antipatia.
eu dei um tchauzinho pr´aquilo
sorrindo com muita ironia.

no corredor da entrada
eu fiquei impressionado
com um homem que estava
em um canto acocorado.
ele media dois metros!
assim mesmo, agachado.

localizar a poltrona 
não foi grade desafio.
dava pra ver a meia-luz
que o lugar tava vazio.
mas quando tudo clariô,
senti um grande arrepio.

no meio do picadeiro
tinha um monte de esquisito.
um homem igual caveira,
um com cara de cabrito,
um outro com quatro braço...
eu quase que solto um grito!

era uma cena dantesca.
tinha bem uns trinta e três.
palavra que descreva aquilo
não existe em português.
pensei que tinha morrido,
e tinha descido de vez...

um anão se destacou
no meio daquele escarcéu,
estendeu a mão e falou:
'prazer. meu nome é miguel."
meu queixo foi no joelho
e pensei: 'meu deus do céu!'

pro circo ele foi vendido
por um tio que tanto gostava.
perguntei se era estudado.
respondeu: 'eu fiz a oitava.
e veja como estou agora:
com os malucos, comendo fava...

e se você esta aqui,
maluco você também é!
venha! se junte a nós!
você pode ser o pajé...'
eu pensei com meus botão:
'vou mesmo é dá no pé!'

mas todo mundo bem sabe
que eu também sou esquisito.
e eu logo me afeiçoei
ao pequeno miguelito.
e disse assim pra ele:
'vamu prum circo bunito!'

olhei para o naniquinho
e falei assim: 'ô miguel;
cê sabe fazer o que?'
'eu sei bem ler um cordel'
peguei o bichinho no colo
e corri que nem um corcel.

hoje vocês podem ver
lá mesmo na cooperifa,
esse monstro abençoado
sem nem me pagar tarifa.
e quem falar mal do miguel
prometo que meto a bifa.

e foi assim que apareceu
essa estranha criatura
que sempre vem nos trazer
graça, simpatia e cultura.
narrou o poeta fuleiro
mais uma louca aventura.