sábado, 25 de dezembro de 2010

é vinte e cinco de dezembro
e eu, tristemente, me lembro
dos adoentados
dos presos 
e dos abrigos lotados.
papai do céu, papai noel
foram para o beleléu.
filho, me da um beijo!
pai, me passa o copo!
de todos os meus desejos
são esses que agora eu topo



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

sábado e domingo passado estive no rio de janeiro com a primeira caravana de poesia organizado pelo alessando buzzo da suburbano convicto e pelo fernando do sarau da vila fundão.
desse bonde também participou o povo do elo da corrente, do sarau da brasa, do binho, os poetas do tiête e de outros coletivos literários das periferias de são paulo.
já morei no rio de janeiro e de lá eu tenho as melhores lembranças e impressões.
carioca é gente boa, sim. filho da puta tem em todo lugar. rixa mais boba...
as penúltimas noticias que chegaram de lá através da imprensa para mim, dão conta de que o rio de janairo, agora sim, está lindo. se essa beleza se refere à algum tipo de erradicação da violência na dita cidade maravilhosa, a imprensa mentiu de novo.
cito aqui dois extremos que ilustram como o rio de janeiro continua lindo e dividido:
na tarde de sábado estivemos na grota, comunidade que faz parte do complexo do alemão. era dia de festa.
fora os poetas que se apresentariam naquela tarde, teriam outras atividades artísticas e sociais acontecendo abaixo daqueles teleféricos. grafiteiros tomavam as ruas ao redor do palco. crianças riam e corriam. a duzentos metros, na avenida principal, o exercito ostentava tanques e armas pesadíssimas.
tipo sarajevo mesmo. tensão no ar. estavamos ali de visita, não tinha por que abordar. mas conversando com os locais, eles disseram que o morro não esta tão 'pacificado' assim. abusos ainda acontecem.
feita a apresentação na grota, seguimos para o morro do fallet, no centro do rio de janeiro.
não sei porque cargas d´agua, descemos por um caminho diferente de um pessoal que saiu andando logo que o ônibus parou. eu, fernando, pézão, camila e outras pessoas que agora não lembro, dado o meu estado etílico, descemos escadas longínquas até chegar em um largo no coração do morro onde aconteceria as apresentações. 
logo vi a uns oitenta metros um grupo onde um individuo saracoteava uma arma do tamanho de uma picareta. não sei identificar nem carros e nem armas. sei lá que porra era aquela.
a boca miúda, logo nos chegou a informação que não era para tirar fotos. teve gente que tirou. eu mesmo tirei umas com um palhaçinho que por lá se divertia. 
ali também tinha abusos.
dado esses acontecimentos, fui tomado por uma dúvida: 'até que ponto precisamos que as intituições cuidem de nós? até o quando o povo vai viver instituído?' sai de lá sem resposta
no mais; pelos lugares que passamos (ramos, nova iguaçu, borel), fomos muito bem acolhidos e tratados.
as pessoas se identificavam automaticamente com a gente ao saber o motivo da nossa visita ali: ler poesias! 
elas se encantavam e contavam histórias da comunidade relativas a essa elegia. algumas até arriscaram os primeiros versos. 
a magia das palavras sempre vão tocar as pessoas. de um modo ou de outro.
aproveito a deixa para me desculpar com as pessoas que se sentiram perturbadas pelo meu comportamento dionisíaco. naquele fim de semana, especificamente, eu não tinha tomado os meus remédios, já sabendo das cervejas que tomaria.kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
escusas escusas. escusas.
para a maioria (mais de quarenta) que se divertiu levando poesia, música e alegria para essas comunidades tão pejorativamente retratada, fica o meu respeito e admiração, assim como ao povo que ficou lá e, com certeza, pelo menos um vai usar o conhecimento, a força da palavra para mudar algo ao seu redor.
e essa é a mensagem que eu deixo nesse ultimo post do ano: se não conseguimos mudar as coisas, mudemos nós. 
já quintana diria: 'cuide do jardim, as borboletas virão.'
estou indo pra casa de mãinha com meus filinhos e de lá não saio tão cedo. talvez o ano que vem...
para todos: A GLÓRIA!



estamos aqui no tablado,
feito de ouro e prata
e filó de nylon!


eles querem salvar 
as glórias nacionais.
as glórias nacionais!
coitados...




ninguém me salva.
ninguém me engana.
eu sou alegre,
eu sou contente,
eu sou cigana.

eu sou terrível.
eu sou o samba.
a voz do morto,
os pés do torto,
o cais do porto,
a vez do louco,
a paz do mundo:
Na Glória!


eu canto com o mundo que roda.
eu e o paulinho da viola
viva o paulinho da viola!


eu canto com o mundo que roda
mesmo do lado de fora,
mesmo que eu não cante agora.



ninguém me atende,
ninguém me chama.
mas ninguém me prende;
ninguém me engana!


eu sou valente.
eu sou o samba.
a voz do morto
atrás do muro.
a vez de tudo
e a paz do mundo
na Glória!



CAETANO VELOSO



sexta-feira, 17 de dezembro de 2010






foi coagido por um trinta e oito que eu entrei naquele bar.
não que o referido ambiente seja à mim desprezível. eu até estava esperando o ônibus para ir no zé batidão, mas quis o destino que eu estivesse na hora errada e no lugar errado.
garoava. a rua estava vazia. sentei nos degraus da entrada de uma loja e ali fiquei lendo, protegido pelo toldo.
levantava a vista somente para ver os ônibus que não me serviam passarem molhados e de janelas fechadas.
o chácara santana, nada.
entretido estava com o 'não verás país nenhum' quando fui puxado pela manga do casaco. 
de primeira, pensei ser dodô, nêgo véio que sempre se aproxima de mim sorrateiramente para me aplicar um susto e dar a sua famosa gargalhada.
mas logo que, vesgo, vi o cano do trinta e oito encostado na ponta do meu nariz tive certeza que era outra coisa.
'que porra é essa, meu velho?' perguntei abrindo os braços. 
'cala a boca, caralho! levanta. levanta.' me disse aquele estranho, tornando a me agarrar pelo casaco. 
pensei : 'pronto! acabou. vão sentar o dedo no véio. será ele pé de pato ou marido traido?'
sem resposta para a minha breve lucubração. fui conduzido ao bar do edson que fica a uns seis metros na mesma calçada do ponto onde eu estava.
quando vi o edson em pé fora do balcão, e quatro barflys que estavam por ali rendidos por mais dois caras de pistola na mão, até relaxei. pensei: 'ufa. é só um assalto...'
a porta de aço foi abaixada para os meninos trabalharem com mais desenvoltura.
'a gente vai levar o que der. quem levar uma vai tomar pipoco, entedeu? nóis não tá aqui de brincadeira não, caraio! fika de cabeça baixa e mãozinha pra frente ai. todo mundo, porra!'
ai foi akilo: carteira e celular de todo mundo, todos os maços de cigarro, isqueiros, super bonder, garrafas de bebidas. peças de carne. limpeza geral.
eu mesmo não tinha nada de substancial. sete paus na carteira, identidade já providenciada, bilhete único... 
fui mais testemunha do que assaltado.
'já pegou a grana do bar ai, negão?
'ainda não, negão. tô fazendo o recolhe das carne aki.'
'ô negão, pega o pintoso ali pra conferir a féria.'
de cabeça baixa, percebi que o edson saiu do lugar aonde ele estava em posição de estátua.
'só isso, caraio? aê negão, esse filho da puta tá de brincadeira comigo! ó o dinheiro que ele quer dar pra nóis, ó. ó. tá fudido, viado. pega logo o resto, caraio!'
ai meu estômago embrulhou. tentei rezar. sem chance. só via a carinha do davi e da ágata se acabando de dar risada. não sei porque pensei: 'não quero ouvir nenhum barulho agora.'
'pô cara. é só isso mesmo o que tem. você até viu que eu tirei dinheiro que nem tava no caixa. choveu o dia inteiro. foi muito devagar mesmo.' desculpou-se o edson. é de fuder!
'pega essa porra ai mesmo e vamu saí fora, negão. aqui já tá dominado, já.'
ufa de novo.
às minhas costas ouvi perguntar: 'de quem é essa mochila?'
'é minha.' respondi.
'o que é que tem aqui dentro dela?'
'livros.'
'vou esvaziar ela pra poder carregar as coisas do bar, tudo bem?'
tudo bem? tudo bem? 'vai tomá no cú!' pensei com meus botões. não respondi nada.
'todo mundo de cabeça encostada na parede ai que a gente vai sair fora. se abrir a porta na sequencia vai levar bala. pode ficar ai quietinhos por um tempo.'
ouvimos a porta abrir e fechar. nos viramos automaticamente. todos com cara de bosta.
impotentes. envergonhados. falávamos por sussurros. o bar estava uma zona só. coisas jogadas pelo chão. 
um dos caras disse: 'abre essa porta que eu tô ficando nervoso, caraio!'
ai eu ri. já se tinham passado uns três minutos. um bom tempo pra quem quer fugir.
levantaram a porta de aço e tinha um chácara santana me esperando bem ali. à uns seis metros fora do ponto. ri de novo.
'ô motorista, dá uma carona pra mim. acabei de ser assaltado aqui nesse bar.'
o motorista abriu a porta de trás, eu subi e ele ficou uns segundos conversando com o edson na porta da frente. conheciam-se. 
encontrei a linda elisandra dentro do busão e comecei a contar a história. 'levaram minha identidade, mas deixaram um loyola brandão e um lápís sem ponta.' ela riu e disse: 'já tô vendo um conto dessa história...'
isso foi o que aconteceu.
o conto vem já-já.







segunda-feira, 13 de dezembro de 2010





LA DOLCE VITA





pelo vidro do carro onde eu agonizava, divisei uma mulher estonteante, gostosa mesmo, prestes a atravessar a rua.
foi ai que eu relaxei e tive a certeza que aquela minha quase morte não seria consumada.



domingo, 12 de dezembro de 2010









pra defender a merenda
aceitei fazer poesia
por encomenda.

o bom censo
não recomenda
que a poesia
seja a emenda
que sirva de ponte
sobre a fenda
que liga a barriga
na merenda.
fazer o que?
preciso de renda.

barriga vazia
tem nem poesia.





ABANDONO





aponto meu lápis no asfalto
e no ato escrevo o que falta.
a minha letra esta brava!
o meus escrito não é bonito.
e desacredito que faça sentido
pra alguém, fora eu.

essa letra mesmo nasceu
apertada em um busão.
com fome e sem um tostão.
só me restou escreve-la...
'e dá para encher a barriga?'
eu lhe digo, gente amiga:

enche, sim, a barriga
desses reis da intriga
que dão um novo formato
ao velho capitão do mato;
a matéria esta no laço
e o artista no estrelato.

querem globo.
querem folha.
e não mais andar à sapato.
querem carro caro
e não depender de salário.

tá errado?
eu mesmo acho que não.
eu só acho que a arte
não deve de ter patrão.
isso influi na produção
e a deixa tendenciosa.

fica igual à essa joça
que eu fiz passando perreio.
poesia;
pra que é que tu veio?
não sabe que eu entristeço
ao ver que até a rua
tem um preço?
eu acho isso tão feio...





sábado, 4 de dezembro de 2010















caros queridos;
quinta feira a noite estive no jardim monte alegre, participando do sarau do elo da corrente. 
confesso que nesses anos de frequentador de saraus, nunca participei de um tão emocionante. quando chegou a noticia que o bar do santista tinha sido lacrado , fiquei injuriado por ver a prefeitura agindo arbitrariamente mais uma vez. se o bar não tem um alvará de funcionamento, tenho certeza que não é por sacanagem ou preguiça do santista. os tramites para receber tal documento passam por longos caminhos burocráticos e taxas abusivas. ninguém quer pagar para trabalhar. ai, vai o pobre do fiscal desavisado e põe um papel véio lá na porta do bar, embargando o bang.
mas meu povo é de luta. quando chegou a convocação pro sarau-protesto, não teve como eu me esquivar. nunca tinha ido no sarau do elo. em tempo: toda quarta é de lei eu estar na cooperifa. é no quintal da minha casa. tropeço bêbado no alto da ladeira e já caio de banho tomado na minha cama. na noite seguinte, o véio geralmente tá de rê bordosa ou então, colo na fundão, que é beeem mais perto de casa. disse à mim mesmo: "vou, vou e vou!" e fui. noite mágica. o sarau rolou a poucos metros do bar do santista, na futura garagem do tio do michel (quando for bater a lagem, é nóis!).só gente boa de vários coletivos.
a brasa tava lá, quilombaque, as belas d´ademar, e de tantos outros cantos. apesar de estarmos com uma bucha na mão, o que eu vi ali foi a celebração da amizade e da fé num futuro onde o respeito predomine, um futuro permeado de música, poesia, igualdade e trabalho funcional onde o retorno é garantido. 
respeito. muito respeito encontrei de baixo daquela lona. a chuva, que não foi convidada, veio somar. foi uma grande correria para acomoda-la, mas logo ela se enturmou com o meu povo e as meninas foram lá dançar com ela. eu fiquei só admirando a agua que vinha lavar nossas almas. os tambores gritaram alto. akins puxou o sambão.  e eu, sentei em baixo de um pé de arvore do outro lado da rua e fiz essa rima cotó para ilustrar o que eu fui fazer lá. o amor estava no ar. eu voltei apaixonado. 
pelo sarau do elo da corrente, pelo meu povo, pela vida e por uma mulher. noite mágica...




se o bar do santista tá fechado,
nóis não fica atarantado;
faz sarau do outro lado lado.

o que não pode fechar
é o canal com a poesia,
que gera forte energia
para o tambor e pra flor.

a palavra não será calada!
pode lacrar.
pode latir.
a palavra da perifa
vai se sobressair.

gente igual a raquel,
igual ao michel,
não deixará 
a cultura ao léu.

e a gente aqui presente,
cada elo dessa corrente,
estaremos sempre com eles
buscando a vida coerente.



P.S.  O bar do santista já tá liberado. oxalá!









quarta-feira, 1 de dezembro de 2010















venho ventando
vontade desconexa
hora mais perplexa
que perco pensando
no que devo fazer

idéia imatura brota
no meio da flor da pele
e o que ela me sugere
traz revolta e derrota
para dentro do meu ser

por eu morar na favela
e não ter um automóvel,
sou tido como ignóbil
por uma grande parcela
do seu parco entender

de longe ganhei a cena
e digo: "parei contigo!"
prefiro ser um mendigo
com a alma  ádvena
do que ser igual a você






segunda-feira, 29 de novembro de 2010









dodói






subia danúbia
no bonde
do desajeitado
desejo.

dentro da condução
um estranho realejo
descreveu que,
aonde o bonde
fazia final,
era mesmo um lugar
supra-sentimental.

esquisito por estar
sem lá ficar

danúbia então foi tomada
de uma grande desarmonia.
olhou ara os lados calada,
mas logo disse em pilhéria:
"peguei a condução errada.
essa é a van filosofia."









no olho nasce o tesão.
depois, se cria na mão.
não avisa. alisa e tira camisa
para ter a melhor sensação.

na palma da mão tem escrito
encontros implacáveis
que podem ser favoráveis.
deleite-se nesse delito!

mão curiosa e cautelosa
vagando em morena pele.
pela linha que revele
uma estrela poderosa,
que goza e deixa sem ar;
possante luz a brilhar...

mão criadeira de maneiras
de estar do jeito certo.
de bem star perto.
repartindo sentido rico,
escritos e carinhos lúdicos
que guardo na palma da mão,
no coração e na sola do pé...
abre o olho, mulher!!!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

quem tá no erro sabe: a coisa tá feia no rio de janeiro!
aqui em casa não tem tv, mas acompanho nos jornais impressos e no radio a guerra que assola a minha querida guanabara a alguns anos e se intensificou na ultima semana. 
jogo de cartas marcadas, onde o povo é o desavisado que é rapelado. 
quando isso vai acabar? será que acaba? oremos...



 


us cara tão sentando o dedo.
e eu poeta, fuleiro e notívago
me sinto indigno desse medo.

a matemática é fatal:
duas motos+quatro caras+
trezentos e oitenta...
é igual a tchau!

quantos amigos meus
foram levados por essa ventania.
o ultimo, não faz nem cinco dia.
mas de dez presenciaram,
nem foram na delegacia.
se calaram. claro!
sabem que podem pagar caro
por não aceitar covardia.

e quem mora na periferia
sabe da doutrinação.
da antiga lei do cão
que deixa a vida osso.
quem quer corda no pescoço?

mas já estamos com ela!
e não é só aqui na favela.
no cruzamento do brasil
a miséria se aglomera.
e gera essa besta fera
que entra por sua janela.
pela televisão,
e corrompe tudo que é bom.
meninos em desatino
de pistola na mão.
se fazem deuses do seu micro verso
as vezes, de um jeito tão perverso
que custa crer em perdão.

então...
isso é só um desabafo
desse poeta safo
que não guenta mais porrada.
a letra tá dada!
iraque? aqui é piada.
na policia ou no bandido?
aonde a bala vai ser achada?

e a poesia é minoria.
pra esse poeta véio
andar tranquilo no sereno
ainda falta ganhar
muito terreno.
eu não me engano;
é lá fora do meu sonho,
que o bicho tá pegando.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

BILHETE ÚNICO (direto ao ponto)



caros apostadores;
por motivo de falecimento, o bicho não corre hoje.

                                             a banca

olá;
tentei te acordar... tive que ir trabalhar.
fiz um chá de boldo que está sobre o fogão. ajuda.
antes de ir, me deixe seu nome e telefone.
pode ser nesse papel mesmo. beijos.

                                              tiago

querido;
estou na minha mãe. suas malas estão no quarto.
quando eu voltar, não esteja.

                                               ana

pai;
amanhã preciso levar esse boletim.
assina e não me assassina.
no outro bimestre, dou o melhor de mim.

                                               fabinho

                                       
homem da luz;
tô na correria pra pagar a conta.
favor não cortar essa!

                                              chico


vagabunda;
pegue esses cem mil e nunca mais me procure.
está dado o desquite.
     
                                             assis


querido irmão;
veja o estado da casa... surtei de novo!
não perca tempo limpando o sangue. 
junte você também poucas coisas e saia dai.
acho que a policia já foi avisada.

                                            desculpe           

seu getúlio;
não tente me encontrar. você pode se complicar.
deixei em sua conta fantasma o suficiente para
sua empresa não vir a bancarrota e parar de explorar 
os otários que enchem o seu rabo de dinheiro.
dona marina manda lembranças e diz não mais voltar,
'seu velho sujo' (palavras dela...)

                                         seu humilde e servil criado:
                                               abelardo


mãezinha;
se o fabinho ligar, diga que eu estava com cólica 
e fui dormir cedo. vou numa festa com a ligia
e dormirei na casa dela. o luis pediu pra você 
ligar pra ele. o vinho que vocês gostam está
em baixo da pia. divirtam-se!
                                         
                                               claudinha




meus filhos;
a dívida divida entre vocês.
da onde eu estiver, lhes cuidarei.
                                            adeus.

                                                dr. simão

sábado, 20 de novembro de 2010





eu pintei a casa dela.
ela queria amarela.
e eu, cego,
peguei no pincel
como um menino
colorindo algum papel.
foi um escracel!
 
eu salvei a vida dela.
foi na rua que sai da favela.
levei a mão em seus peitos,
e desse jeito,
a livrei do atropelo
eminente.
 
eu amei tanto ela
por essas vielas...
entre dedadas
e mentiras
deslavadas.
 
ela era o meu solo.
quando eu havia
ela era agua
no meu colo.
 
sujeitamente
saudade
na(o) mente

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

EXERCÍCIO:eu me lembro de ter tido sorte...







sai da cooperifa e fui pro jú. era o ultimo dia da fafá lá. cara querida que nos serve com cervejas e simpatias. tinha eu uma lata de spray na bolsa e, duas e pouca, fiz um desenho para ela no espaço onde era um itaú. bebemos, cantamos, dançamos e outras 'cositas más'. cinco horas. vamu embora?
eu e mais duas pessoas (pediram anonimato) entramos na belina véia. sentido são luis. na joão dia, o giroflex ilumina o carro. paramos para o enquadro.
"vocês tão vindo lá daquela festa no borba gato?"
"sim senhor, senhor soldado."
"tem arma ou droga em cima?"
"não senhor, senhor soldado."
"todo mundo de rg na mão e bolsa aberta no chão. lá é o que? um bar?"
"não, senhor soldado. é casa de um amigo."
"se eu quiser entrar lá de boa eu entro?"
"depende. se o senhor for meu amigo..."
"documento do carro."
claro. licenciamento atrasado. o que esperar de uma belina véia com bagageiro e tudo?
"e esse spray aki é o que? é você que anda pixando por ai 'vote nulo'?"
"não, senhor soldado. é que eu faço uma atividade com as crianças numa ong da periferia e esse é meu material de trabalho."
"quem é que toca violão de vocês três?"
madureira (kkkkkkkkkk) se apresenta. forrozeiro vagabundo.
"se você tocar uma do roberto a gente deixa vocês irem de boa. se não vamos ver essa lance do licenciamento ai..."
silêncio. madureira começa um: " lá. lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá...."
os policiais impacientes: "e a letra, porra? canta essa merda ai!"
e eu, com a voz embargadamente etílica, emendo: "tanta gente se esqueceu. que a verdade tá pra vir..."
todos racharam o bico. rolou até um improviso.
"pode ir senhores. cuidado nos faróis. e você moça? não tem receio de andar com esses malucos a essa hora da madrugada?"
"eu sou a namorada do augusto. vamos juntos pra casa."
'tô sabendo... vão com cuidado."
peguei minha bolsa no chão e disparei: "senhor soldado; o senhor se importa de eu perguntar em quem o senhor vai votar nesse domingo?'
"eu? eu voto nulo!" mais risadas.
no carro, madureira confessa: "porra! se não fosse chico science..."

terça-feira, 16 de novembro de 2010

meninos;
orem sempre
pro santo dos assassinos.

meninas;
respeitem muito
a nossa senhora da esquina.

talvez vocês precisem deles...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

leve como a alma tem que ser.






e eu, já tão pecado,
me encharco do salgado
que é dado por seus poros.

me ajoelho, oro e te devoro
com ares de doce recato.
pentelhos no palato
brecam o ato
do minete.
o seu cheiro
é dominante.

devo seguir adiante
nesse encontro
delirante
que me desfaz
por inteiro?

sei que passei do ponto.
me rendi ao seu encanto
de sereia virtual.

por favor, não leve a mal
a minha errónea conduta.
sei que sou filho da puta
mas minha mãe é uma santa.

sei que não mais adianta
tentar esquecer o momento
de tão grande contentamento...

linda figura fugaz;
eu juro que dar-te-ei
no escuro
instantes do mais puro
pau duro.
e nada mais.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

UM DOMINGO QUALQUER

estava eu na avenida cidade jardim no domingo pela manhã e um passarinho veio planando das arvores e se agarrou na camisa que eu vestia. peguei ele com cuidado e logo vi que era um filhote de colibri. assim como ele, o jardim angela apareceu na minha frente, dei o sinal e subi com ele no ônibus. ele estava fraquinho e mesmo assim, ele as vezes batia as asas vigorosamente buscando sair da proteção de minhas mãos. ao chegar na casa do peu, ensinei minha filha a alimenta-lo com uma mistura de agua e açúcar, a qual ela molhava o dedo e encostava no bico dele. ele chicoteava o dedinho dela com um fiozinho que parecia ser uma língua. as crianças se divertiram muito fazendo isso. tava sol de uma da tarde. tirei a camisa e fiz um ninho para ele na sombra da varanda, bem na muretinha, onde ele devidamente alimentado, piou por uns quarenta minutos ininterruptamente. dei ordens para que as crianças não pusessem mais a mão nele e que o deixassem descansar. o seu piado embalou várias cervejas e a lasanha maravilhosa que a michelle preparou. de repente, olhei para a camisa e cadê o passarinho? ali só tinha um cocôzinho.
procurei-o pelo quintal para que ele não fritasse ao sol,com cuidado para não pisa-lo e quando olhei para frente, lá estava ele equilibrado no fio de luz, já na rua.
o peu chamou minha filha para mostrar. ela queria que eu pegasse ele de volta. eu disse que era pra ela dizer tchau pra ele. depois da despedida ela voltou pra brincadeira dela e eu dirigi ao passarinho um olhar de gato e pensei: 'ele vai morrer. ele vai cair e morrer.' na mesma hora eu pensei com mais certeza: 'vai nada. ele se livrou dos carros do centro. comeu um pouquinho. ele vai é viver!'. e ele ficou ali no fio bastante tempo.piando. e eu olhando. de repente ele aproveitou uma lufada de vento e se jogou lá pro lado do jardim lídia, numa planada que achei tão acertada quanto a primeira.
e lá se foi o milagre do domingo.
chegando na minha casa a noite, soube que mataram o chico no sábado.
chiquitita que vi crescer humilhando os adversários no campo do morrão e na quadra do sinhá.
chiquitita que fazia todos rirem com suas observações e os apelidos que dava aos desavisados.
welington que trabalhava de cobrador de ônibus, tinha dois filhos e deixou um terceiro na barriga da namorada. não era santo, mas também não era um inseto. desabei na frente de meus filhos. eles me perguntaram se o chico era amigo do donaldo, que também foi exterminado de forma covarde e que eles presenciaram minha dor quando a noticia chegou. pior que era.
todos amigos a mais de vinte anos.
não quero mais dor. não quero que meus filhos me vejam assim. não quero ver ninguém assim.
eu só quero ajudar passarinhos...














era para ser
um domingo
qualquer.

mas aquela mulher
quis fazer intervenção.
eu não tinha a intenção
de voltar naquele lugar.
mas ela foi me ligar
bem na parte da manhã.
essa hora o meu afã
esta aberto com os chakras.
e ela, muito velhaca,
me fez falta com os dois pés.
esqueci todo o revés
da nossa situação
e me meti no busão
que sempre desanda
para onde ela manda.
(era esse o lugar)
cheguei na casa dela
com uma flor amarela
e um sonho de valsa
no bolso da calça.
ela fez mil reverências
e disse que minha ausência
as vezes gritava muito...
e que tinha o intuito
de fazer um macarrão.
pegou na minha ereção
e se meteu na cozinha.
ouvi a minha vozinha
dizendo na mente: "fudeu!
será que você esqueceu
como foi o ultimo fim?"
ouvi também um "plim-plim"
que vinha da televisão,
andei até o fogão
aonde a agua fervia
e pus em cima da pia
essa mesma poesia.
ela me olhou espantada
e eu sai sem dizer nada.

você vê como é;
era pra ser
um domingo qualquer...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

não consigo mais por imagens. e mesmo que conseguisse, não seria das melhores...







muitas sextas-fritas depois
nós dois
estamos em casa.

em meio a uma crise
de asma
vejo o fantasma
da sua pessoa
vindo em forma de garoa
do inferno
ou shangri-lá
sei lá...

ele quer me assustar
me pussuir
querendo fuder
o meu existir

só mesmo doente
me assombra novamente
esse passado
exorcizado

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

estou assim como você.






meu gatinho chernobyl
dormiu entre blusas sujas
que estavam no sofá
e que ainda estão por lá.

bill não sentiu frio.
mas creio que ele previu
que as suas sete vidas
logo serão perdidas
entre essas blusas fedidas.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Fino - Ta Aqui

olha que trampo lôko! táki!
fino, menino fino (e de vasto figurino.rs) fez esse rap falando de coisas que muito valorizo.
ele captou bem a essência da quebrada que estamos buscando.
o fino chegou na cooperifa na humilde e hoje é bem mais do que da familia.
é guerreiro que produz e tá na função de fazer a periferia mudar. daqui não mudaremos!
valeu parça!



sábado, 23 de outubro de 2010

dia letárgico graças a  uma noite delirante.
dada a visitinha dos meus bb´s, ainda fiz comida, assisti  "o pequeno nicolau" (muito bom!) com eles e ainda fizemos alguns desenhos.
disse à eles: "podemos fazer tudo hoje, contanto que eu fique sentado ou deitado."
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
hoje, só amanhã.



o que esta acontecendo?
minha cabeça pendulo
não para de ritmar...

e essa fumaça?
tão vendo?
nessa fumaça passa
visões de além-mar.
e nela, da pra escutar
antigas cantigas
e os ais 
dos meus ancestrais
que atravessaram eras
envoltos em lutas 
e quimeras;
para hoje
 me assombrar...

o que querem essas visões
de príncipes e ladrões
que ordenam danças inebriantes.
ágeis quadris deslizam sob mirra.
minha cabeça gira. vejo ouro
e diamante. sinto um som pulsante
que causa frissom.
meu deus! k-bom!

picolé.odalisca. narguilé.
tento ficar de pé...
mas eu não tô acreditando!
eu tô me teletransportando
pra dentro de uma garrafa
aonde tem um país
onde o povo é infeliz
e vive em grande estafa.

e o que tava na fumaça,
comigo pra lá também foi...
e desse país virei rei
depois que a todos mostrei
o prazer.
a poesia.
com o povo libertado,
voltei para o meu estado
da mais pura letargia.



quinta-feira, 21 de outubro de 2010

EXERCÍCIO: eu me lembro de uma raiva...





"cobrador, esse ônibus passa na avenida santa catarina?"
"tá vendo essa placa? nas avenidas que estiver escrito ai ele vai passar."
"êêêê. não precisa ser mal educado..."
"mal educado é você, filho da puta, que não me disse por favor e nem obrigado. 
e se você latir mais uma vez eu vou ai, arranco sua cabeça e bebo o seu sangue pelo pescoço."
a velha sentada se benzeu, o filho da puta riu e eu tô afastado pela caixa.
EXERCÍCIO: eu me lembro de um cheiro...






lembro do seu cheiro
e me sinto inteiro
encharcado de saudade
a boca enche de gosto
e volto pr´aquela tarde
(era julho ou agosto?)
em que te fui oito sentidos
e toda a nossa libido
desembocou num motel.
paredes cobertas de mel
e o forro da cama no chão.
a minha ereção
entrou em erupção
sobre você.
e ali mesmo do quarto
o período foi renovado.
na saída podemos ver
que o céu tinha mudado...
são essas lembranças que guardo
no salão nobre da minha mente:
o nosso querer fremente.
o seu cheiro de presente.
a saudade de uma mulher
e aquele céu-café
escuro e quente.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010



todos sabem que adoro filmes de terror e tudo que é ligado ao sobrenatural. 
ainda vou compilar os meus cordéis que tratam do assunto...
aproveitando essa onda 'vampirística' que assola a literatura, resolvi pitacar do meu jeito.
essa poesia me valeu uma 'catracada' de sérgio vaz que, ao ouvi-la no sarau, disse que não aguenta mais ver o nome dele envolvido em minhas fuleragens e que eu parasse de palhaçada se não ele ia me 'chamar no rodo'. kkkkkkkkkkkkkkkk
ô indio véio; não aguce a mente desse bufão... 
bem sabes que és o meu preferido e tudo que eu falo é brincando.rs
ainda escreverei odes louvando as mudanças que a cooperifa fez na minha vida.
pro bem e pro mal!     kkkkkkkkkkkkkkk
crianças: não tentem isso em casa. e nem em lugar nenhum!




sendo eu muito inxirido
nas arte de versejá,
eu nunca que fico inibido
na hora de declamá,
assim, para tanto ouvido
minhas venturas sem par.

certa vez aconteceu,
numa rua da quebrada,
de estar andando eu
e mais cinco camarada.
estavamos no apogeu
da mais linda madrugada.

a gente fazia piada
fumava maconha e ria.
só um tinha namorada,
o resto era da orgia.
mas assim, de noitada,
os seis eram confraria.

os buteco tava fechado.
e ninguém tinha dinheiro.
convoquei os aliado
afim de traçar roteiro.
eu disse: 'u distino certo
é nóis i tudo pru putêro!"

só quem fez objeção
foi o cabra comprometido.
não sei se por pura razão
ou se por sexto sentido,
ou por estar com o cartão...
previu que estava fodido.

foi logo dizendo:"parei.
me inclua fora dessa.
depois que eu me casei,
nem gosto dessas conversa.
dos putêro eu era rei,
mas a ela fiz promessa..."

caimos na gargalhada
ao ouvir tal disparate.
eu disse: "meu camarada;
não me venha com tatibitate!
dessa nossa caminhada
você tem que fazer parte."

ele tentou se esquivar,
mas a gente o coagiu.
"se for esse o motivo,
vá pra puta que o pariu!
seja um cabra mais altivo!
onde é que já se viu?"

o bróder ficou sentido
ao ver nossa idignação.
"como pode um individuo
abandonar os irmão?"
e dado por convencido
seguiu com nóis na função.

a gente pegou o bandeira
e descemu em santo amaro,
afim de tomar fogueira
num lugar não muito caro.
nóis tava no fim da feira,
mas fomos para o descaro.

invadimos o primeiro bordel
que apareceu na frente.
foi como chegar ao céu.
lá tudo era diferente.
me abordou um pitél
linda de costa e de frente.

a gente sentou na mesa
e pediu uma rodada.
grande foi minha surpresa
a resposta que foi dada:
"aceitem essa gentileza.
hoje aqui não paguem nada."

perguntei:"e as menina?
podem nos acompanhar?
ela disse: "ta lá em cima.
querendo posso chamar..."
eu disse: "ô minha linda,
demorô ducê ir lá."

a moça subiu as escada
e eu fique assanhado.
disse assim aos camarada
"eita que aqui é animado."
mal sabendo da cilada
que a gente tinha entrado

logo desceu pro salão 
umas dezessete véia
pensei ser alucinação,
mas a coisa era séria.
grande foi minha aflição
naquela cena funérea.

eu di um murro na mesa
e gritei: "isso é piada?"
não venha com essa vileza
pra mim e pros camarada.
viemos atras das princesas,
e não dessa veiarada.

a bela deu um sorriso
e disse assim :"meus amigos,
aqui nesse paraíso
vocês vão achar abrigo.
do contrario, lhe aviso,
vocês correm grande perigo.

essas dezessete damas
são todas rainhas vampiras.
deitem-se em suas camas
pra ver o que que elas vira.
se tornam lindas mucamas;
garanto que não é mentira.

toda a beleza delas
logo será restaurada.
cês deixem de xurumelas
e subam logo as escadas!
vocês vão é cumprir tabela
e nelas dar uma furunfada."

eu disse: "eu me recuso
a ser assim enganado.
isso é um grande abuso
comigo e com os aliado.
esse caso ta muito confuso
e eu tô ficando irritado.

as véia olhava pra gente
e dava uma estranha risada
com aquelas boca sem dente
e as cara tudo enrugada.
mas a coisa ficou deprimente
quando elas ficaram pelada.

ai eu fechei o olho
e falei:"vamu simbora!"
eu não entro nesse molho
nem esperando melhora.
se é pra escolher, eu escolho
é a gente ir embora agora!"

as véia deu um rugido
dum barulho gutural.
pensei:"tamu fudido!
as coisas vão muito mal..."
então, no salão foi ouvido,
o galo e seu canto matinal.

as véia se retrairam
e a moça ficou mofina.
meus amigos conseguiram
abrir logo as cortina
raios de sol refletiram
e mudaram a nossa sina.

saimos dali a milhão
e corremos até veleiros...
retomada a respiração
eu disse os meus companheiros.
"amanhã vou chamar o serjão
pra colá naquele puteiro..."

mas foi só uma piada
para findar a epopéia.
pois desde aquela roubada
eu mudei a minha idéia;
não chamo mais os camarada,
vou sozinho ver as véia.