segunda-feira, 18 de junho de 2012









foi a mesma solitude que me levou a  frequentar o meretrício e por uma das moças do lugar, valdenice, passei a nutrir um forte sentimento de confiança que entre as criaturas amedrontadas, faz as vezes de amor.
nos tornamos íntimos pelo corpo e pelo espirito e íamos juntos passear na praia alguns dias da semana.
ela sempre pagava tudo já que faturava em torno de quinze vezes mais por dia no bordel do que eu na loja. naquelas noites eu me obrigava a ser amável quando ia encontra-la. é preciso ser alegre com as mulheres, pelo menos no inicio.
uma noite, sem mais nem menos, ela me ofereceu cinquenta reais. primeiro eu recusei. não me atrevia. pensava no que minha mãe diria numa situação dessas e depois eu refleti que minha mãe, coitada, nunca tinha me oferecido tanto. essa valdenice, cá entre nós, que mulher! que generosa! um festim de desejos! mesmo assim eu voltava a me afligir. gigolô?... pensava.
ah, se eu tivesse a encontrado mais cedo, a valdenice, quando ainda era tempo de pegar uma estrada ao invés de outra... antes de perder meu entusiasmo com aquela filha da puta da tânia ou com aquela bostinha da márcia. a natureza era mais forte. só isso. a vida tinha me testado num gênero eu eu não conseguia mais sair desse gênero. eu tinha ido num rumo de inquietação. eu gostava muito de valdenice, é verdade, mas gostava ainda mais desse meu vício, dessa vontade de fugir de todo lugar a procura de não sei o que.
acabei, de tanta gentileza,  por lhe confessar a mania que me atormentava, de dar o fora de tudo. ela me viu debater durante dias e dias sobre fantasmas e orgulho e não ficou impaciente, não. muito pelo contrario. tentava apenas me ajudar a superar essa inútil e tola angustia. mas isso não adiantava nada, ser boa comigo.
ela era sincera demais para ter muitas coisas a dizer à respeito de uma tristeza. ai de novo fiquei com aquela sensação de que a vida me escondia o que eu queria saber dela. a vida. a verdadeira amante dos verdadeiros homens. então fui perdendo o fervor de beijar valdenice e à vendo cada vez menos.
é no cansaço e na solidão que o divino sai do homem. eu tinha vergonha de não ser rico em sentimentos e tudo o mais e também, de mesmo assim, julgar a humanidade mais baixa do que ela é de fato. e ainda eu tinha essa queda horrorosa pelos fantasmas. talvez não totalmente por culpa minha. a vida forçava a passar tempo demais com os fantasmas. eu não parava de deixar as pessoas.
quando comuniquei minha partida à valdenice, ela me disse: 'você já esta longe, meu amor. você está fazendo exatamente o que tem vontade de fazer, não está? é isso que é importante... é só isso que conta...'
quase que eu quis ficar.
para deixa-la, decerto, precisei de muita loucura e de um tipo frio e abjeto. seja como for, encorporei em minha alma as gentilezas e os sonhos que valdenice me deu naqueles poucos meses em mongaguá.
ela não mora mais na mesma casa. foi tudo que consegui saber.
boa e admirável valdenice.  quero, se acaso me leia de algum lugar que não sei, que bem saiba que não mudei, que ainda a amo e para sempre, do meu jeito, que pode vir aqui quando quiser partilhar  minha comida e meu imprevisível destino. se não for mais tão bela, pois bem, paciência! a gente se arranja!
trago tanta beleza dela em mim, que ainda tenho o suficiente para nós dois e para no minimo trinta anos, o tempo de tudo se acabar.

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