quinta-feira, 24 de março de 2011

AO IRMÃO FRANKLIN




em certas tardes de ressaca

(como agora)

olho a vida la fora acontecendo

e nada agrada ao sentimento

aqui de dentro.




só se destaca a solidão dos seres,

presos aos seus afazares.

a pergunta que me inunda

e que não vai calar nunca

é 'pra que?

será que sabem o que estão a fazer?'




sera que andam pelo patrão?

por um pedaço de pão?

paixão?

ou por outros adereços

de preços inimaginaveis?

nascem reis, quedam-se impérios,

astros e naves cruzam o céu

e ninguém percebe o papel,

o mistério dessa jornada.

ninguém questiona nada!

nem mesmo se estão no fim

ou no começo.




é claro que eu também desconheço

questão tão além de mim.

talvez eu nem dê importância

para onde vai a humanidade.

isto esta em outra estância

que, na verdade,

não compete a minha realidade.




em todos esses anos

sendo mediano, fuleiro

e trapaceiro de mim mesmo,

não almejo desvendar esse roteiro.

que fique de sobejo.




só sei que esta lá!

aguardando o momento

em que cada elemento

vai transmutar.

o momento vai chegar!


 


por hora,

espero que a tarde lá fora

passe mais depressa;

pois aqui no meu exílio

existe um bar

perto de um trilho

onde esse tipo de conversa

nas garrafas ficam imersas.

sábado, 19 de março de 2011



'porra! tu é mal educado pra caralho, heim? como é que  você atrapalha assim minha leitura, seu muleque?'
'desculpa ai tio.' disse o rapaz para o velho, se chegando para o lado.
'desculpa o caralho! ninguém respeita mais ninguém nessa merda de cidade. você anda por ai e só o que vê é são esses putos aterrorizando as pessoas. 
ouve funk no ônibus, pixa muro, fuma maconha no meio da rua e agora nem deixam as pessoas normais lerem os jornais...'
e eu, que também lia a capa do jornal do lado externo da banca, perguntei com ironia:
'porque o senhor não compra o jornal e vai ler na santa paz da sua casa?'
'vá se fudê você também, seu baiano!' respondeu-me o velho.

sábado, 12 de março de 2011







 
 
"bela morena.
cachorra na cama.
garganta profunda.
bunda durinha.
atendo com amiguinha.
pra você que gosta de algo mais.
taxa vinte reais."
 
tentava eu
ligar, pro meu irmão,
do orelhão.

quinta-feira, 10 de março de 2011








'água de coco! agua de coco! eu tenho a agua de coco natural engarrafada que vai matar a sua sede. vai uma, senhora?'
a descontração do vendedor de água me chamou a atenção ao se destacar dos zumbis que esperavam o ônibus no ponto. passei a observá-lo. logo na sequência, um outro vendedor desceu do ônibus e os dois começaram o seguinte diálogo:
'vendi três aqualeve hoje sem fazer esforço. vou na distribuidora e pegar mais . vendo umas quinze até o fim do dia.
'e a água de coco? você já bebeu dela?'
'cê tá louco? recebi quatro reclamações dela ontem...'
'pode crê! o povo compra, dá um gole e larga ai nos bancos do ponto.
'o cara da distribuidora disse que vai parar de vender ela pra gente.'
'você já viu a validade dela? vai ver tá vencida...'
'tá nada! a bichinha é ruim mesmo!'
e riram à beça. eu ri também. só ai perceberam que eu os observava.
então, o primeiro vendedor assumiu um ar taciturno e saiu gritando:
'água boa de coco! água boa de coco! deliciosa e refrescante...'