quinta-feira, 30 de junho de 2011




estive ontem no sarau da cooperifa depois de longos quatro meses.
desde que me mudei para o litoral, não tem uma quarta feira que, vai chegando nove da noite, eu sinta banzo.
mas a vida continua e meu mister, antes de fazer poesias, é ganhar o pão.
ontem me deu na veneta ir no sarau. e foi legal!
descobri que essa minha saudade é infundada, pois tava tudo lá como deixei.
os mesmos poetas e as mesmas poesias....
valeu rever o boca, o lobão, o helber, a rose, o miguel, ô nêgo jam, o luís henrique, o shidon, o papo bom que tive com a lú, e toda aquela energia que só quem vai lá manja.
e claro, conversar com zé batidão é sempre um evento.
caro querido que já me deu ótimos conselhos e me encanta com a sua sagaz simplicidade.
logo logo eu pago aquela dolorosa lá, tá zé?
kkkkkkkkkkkkkkkkkk
ontem me lembrei que tudo na vida tem o seu encanto e o 'x' da questão é não deslumbrar com o brilho.
vou tirar minha carta de motorista e essas subidas serão mais frequentes.
espero ver todos em todos os lugares.
eu vou ficando por aqui.
com uma saudade a menos....








O GRANDE ENCONTRO DE ZÉ BATIDÃO COM LAMPIÃO
                                                                                                                                                             




                                                                                                                                                             
vou contar uma história
com ares de ficção,
que vem homenagear
dois cabras lá do sertão.
vou narrar o grande encontro
de lampião com o zé batidão.

esses dois cabras porretas
vieram ao mundo com bravura.
não nasceram na riqueza.
tiveram uma infância dura.
e hoje, nas linhas da história,
o nome dos dois figura.

o caso é que Lampião,
para fugir dos macaco,
abandonou o sertão
e alugou um barraco
ali no Jardim Letícia
e prometeu: "nunca mais mato!"

vivia com maria bonita,
corisco era seu vizinho.
vendia ervas e especiarias
que plantavam num  canteirinho.
festa e fartura não faltava
naquele harmonioso ninho.

e foi justamente essas ervas
que levaram o zé ao letícia.
ele precisava de ingredientes
para fazer um rango delicia,
pois quarta ia ter festa
no sarau da cooperifa.

quando o zé viu o grupo,
ficou logo comovido.
pois na casa de lampião
ele foi muito bem recebido.
tanto de um como de outro,
histórias já tinham ouvido.

e o zé foi misturando
manjericão com alecrim.
fez um tutu com costela;                                                                                                                      
maria, um bonito pudim...
e quando corisco ofereceu uma dose
o zé disse: "só um tikin!"

o zé ensinou receitas
para as mulheres rendeiras.
lampião o presenteou
com chapéu de couro e algibeira.
e prometeu levar o grupo
no sarau da quarta-feira.

quando chegou quarta-feira
o sarau tava lotadaço.
todos queriam ver
os bravos heróis do cangaço.
só que ninguém suspeitava
que ia rolar um imbaço.

lampião e seus cangaceiros
sentaram ali numa mesa.
pediram quinze escondidinhos
e três caixas de cerveja.
e gritou: "sentem comigo,
que hoje, eu pago a despesa."

mas sempre tem uns bico
pra cortar  nosso barato.
quando a gente pensa que não
apareceu os macaco.
tavam em oito viatura,
um helicóptero e três tático.

lampião ficou arrasado,
pois estava cansado de guerra.
e foi pra não brigar com ninguém
que abandonou sua terra.
tinha jurado não matar

e vivia feliz na favela.
                                                                                                                                                         
o clima ficou pesado.
o sarau emudeceu.
até mesmo sergio vaz
naquele dia tremeu.
e o cerco só foi dissolvido
quando o zé intercedeu:

"aqui só tem gente justa!
gente trabalhadeira!
gente que, tirando o Augusto,
trabalha a semana inteira
e vem curtir com os amigos
o sarau na quarta-feira."

foi ai que os policiais 
desistiram da missão.
todos abaixaram as armas
por ordem do capitão.
e foram tomar a gostosinha
do nosso herói: batidão!"

essa história ninguém me contou;
foi eu mesmo que assisti!
depois que os hômi foram embora
o sarau voltou a sorrir.
e desde então, toda quarta-feira,
lampião está por ali.

e, graças a deus, o zé
vai estar sempre presente.
lidando com os cachibremas...
pendurando a conta pra gente...
deus lhe dê muita saúde
e a todos os seus descendentes.













terça-feira, 28 de junho de 2011





FIM DE ROMANCE XVI











eu nem queria estar fazendo isso aqui.
mas depois que você foi embora
sem nem se despedir
eu tive que me distrair

esse amor morto
fundiu o motor
fudeu
começa a deteriorar
e me sufoca
sem ar

uma hora melhora.
acho que melhora.
mas agora
tá foda!

meu peito atado aquela corda
que te dei uma noite no bar.
queria eu voltar lá
só pra verificar
se eu ia te achar
dançando igual
insana.


ahhhhhhhhh
na certa outra seria
a minha conduta.
eu ia te esganar;
vadia
filha da puta!








segunda-feira, 27 de junho de 2011

PARA IZILDA







as coisas que perdemos no  caminho
são bolhas de sabão
de colorido momentâneo
seguido de triste explosão.
 
as coisas que perdemos no caminho
vão para o subterrâneo
de nossas lembranças.
se perdem em nossas (an)danças.
 
as coisas que perdemos no caminho
é como o dinheiro do marinheiro
que cai nos balcões
dos bares do cais
para nunca mais
ver os tufões nos mares.
 
as coisas que perdemos no caminho
voam com os passarinhos.
 
vêem-nos como um filme
assistido.
um vestido
sem cor.
 
das coisas que perdemos no caminho
nunca saberemos o valor.

quinta-feira, 23 de junho de 2011











estudava eu na primeira ou na segunda séria do primeiro grau (hoje, fundamental) quando em uma tarde, a professora entrou anunciando que passaria um ditado para a sala.
sempre me dei bem nesse exercício e, despreocupadamente, tirei aquele papel quadradinho da bolsa e fiz o cabeçalho.
nessa tarde, o ditado era de vinte palavras, as quais dividi em quatro colunas de cinco linhas.
as palavras foram anunciadas repetidas vezes pela professora e os alunos, em silêncio, iam copiando em suas folhas.
fui o primeiros a acabar e entreguei confiante, para a surpresa da professora que acabava de ditar a ultima palavra da lição.
ah! esqueci de dizer que os ditados daquela megera tinha uma regra, dentre tantas: quem errasse uma palavra, teria de copiar cinquenta vezes da forma certa.
então...
eu já estava rabiscando uma linda rosa dos ventos na minha carteira verde-piscina quando ouvi ela dizer:
'augusto, já corrigi o seu ditado.' fui até a mesa dela para ver meu dez.
assustou-me aquele X em cima de uma das minhas palavras preferidas até hoje: muito.
ela também estava lá em vermelho à cima do meu 'muinto'.
eu estava certo de que aquela coisa entre minha garganta e meu nariz era um 'ene'.
'professora, a senhora tem certeza que esse 'muinto' tá errado?'
ela me olhou irônica e disse: 'tenho! vai copiar cinquenta vezes.'
ainda meio aturdido, voltei para a carteira e comecei o castigo. agora em cinco colunas de dez.
mas não parava de pensar no erro: 'muito. muito. palavra feia da porra!'
engraçado como toda a palavra repetida muitas vezes se tornam estranhas e sem sentido.
no meu caso, isso também se aplica à algumas pessoas...
acabei aquela merda e fui levar pra professora a segunda folha, enquanto alguns retardatários ainda faziam o ditado de vinte palavras.
foi eu entregar e dar as costas e ouvi ela dizer: 'que palhaçada é essa, augusto? você acha que eu tô aqui de brincadeira? pode escrever agora cento e cinquenta vezes! e enquanto não acabar, não sai da sala!'
puta que pariu! eu tinha escrito cinquenta vezes 'muinto' de novo. e sem errar!
foi foda! as lagrimas tamparam minha garganta e eu não tive como explicar pra professora que eu não tinha feito aquilo de propósito.
até hoje eu tenho certas funções que vão além do meu comando...
peguei a folha e comecei: 'muito muito muito muito muito...'
cheguei a apagar alguns 'enes' no começo.
fiz 'muito' cento e cinquenta vezes e perdi o recreio.
e mesmo assim, errei muito na minha vida depois disso...

sexta-feira, 17 de junho de 2011





NO POÇO DAS ANTAS











levando em conta
o que vou falar
vale lembrar
que estou no vale
da perfeição.

não o de lágrimas
da minha oração;
pareço estar no paraíso!
por isso,
falar é preciso:

só o sol,
solene,
dessa cena ficará.

talvez essa pedra
que estou sentado,
também perdurará.

verde água lagarta;
tudo vira pó de areia...
dada a ação do homem
que mata até o amor
que corre na veia.

esse veio cristalino
já foi queda barulhenta.
agora molha minha pele.
me alimenta.

basta eu olhar
pra que tudo se revele
e me dê a certeza
que ninguém vai vir com machado
pra cima da minha natureza!

 

quinta-feira, 16 de junho de 2011




CRÔNICAS DO SEU LUNGAGUÁ







'bom dia.'
'boa.'
'você conserta fogão aqui?'
'não, senhor. só aparelhos eletrodomésticos e ferramentas.'
'pôxa... será que você não tem um fogão velho ai pra me vender, não?'
'eu tenho um em casa, chefe. 
mas não posso vender porque é nele que eu faço a minha comida...'
'tá certo então. obrigado.'
'de nada. bom dia.'



terça-feira, 14 de junho de 2011





FIM DE ROMANCE VII











passei noites sem dormir, amor.
e foi por ti, sim, benzinho.
passei horas a pensar também
se deveria ser-te inteirinho.

o meu coração queria jorrar
no momento de te encontrar.
meu coração chegava a arder
do desejo de saber você.
a minha boca queria provar
os beijos que a tua tinha pra dar.
e o meu corpo quis conhecer
o que o teu corpo queria dizer.

e lá na rua a passear, amor,
foi quando eu te vi
junto a mim, sem reparar,
juntos sim!
quase parei de respirar, amor,
quando você fingiu
que não me viu...

o meu coração não vai mais esperar
o momento de te encontrar.
o meu coração nem quer saber
do desejo que tem de te ver.
a minha boca não vai mais beijar
aquela que não se soube entregar.
e o meu corpo já não quer ouvir
o que o seu corpo tem pra dizer.