sábado, 31 de março de 2012










tu és tão quadrada
qual os quarteirões
das ruas em que
foste criada.

eu não.
há na minha
percepção
a quebrada,
a viela,
o escadão
e o campo de terra
onde lá impera
a pelota do destino
que eu, menino,
toco com graça
brincante.

não viste 
que estava diante
de um universo 
pulsante
de paixão 
e novidades.

separados pela cidade
que nos formou sem entender,
aceitemos as poucas causas
da gente nunca ser.




quinta-feira, 29 de março de 2012







faço amor com o motor.
e é todo dia; trabalho.
como diria oliveira:
'poeta é o caralho!'
sou humano, falho,
ser todo atrapalho
na via que me guia
atras de entender amor.
e lá da lua, o vigia,
assiste com ar de ironia
eu nessa lida que ilude.
seja como for...
sigo eu e o motor
e amiúde vou.
o liquidificador
é bem menos complicado
que esse povo descolado.

quarta-feira, 28 de março de 2012



PECADOS PICADOS






quando adoeci para morrer, quis que me dessem uma enfermeira moça e bonita.
o médico então me mandou irmã catarina, linda e boa como nenhuma outra seria linda e boa daquele jeito. fiquei encantado. eu a obedecia com prazer: remédio azedo, dieta enjoada, o termômetro, as injeções...
o que irmã catarina me oferecesse com suas mãos brancas e finas se transformava no melhor que podia haver. numa manhã de domingo, a irmã catarina perguntou: 'posso lhe fazer um pedido?'
'pode, pode. não recusarei o que quiser.'
'é bem fácil o que quero e que felicidade será para mim!'
'diga.'
'quero que se confesse e comungue, sim?'
'logo isso, minha irmãzinha? isso não, perdoe. saria bem fácil, sei, mas e as consequências? mande que eu me levante e vá buscar debaixo das ondas os sinos das torres de atlântida e eu me levantarei, irei e voltarei com eles. confessar, comungar, não.'
a irmã catarina baixou a cabeça, triste. eu fingi adormecer e acordei sorrindo: 'irmã catarina...'
'estou aqui.'
'dormi. sonhei que tinha morrido e fui depressa pro céu. talvez por causa das minhas barbas, consegui entrar sem dificuldade. lá dentro, são pedro indagou: 'como se chama?' mal ouviu meu nome, perdeu as cores, pôs-se a tremer e a gaguejar: 'não é este o seu lugar. retire-se. não me crie embaraços.' ai eu disse assim:
'são pedro, fui tratado pela irmã catarina, sabe?' que alivio para o pobre negador! 'ah, bom.'
continuei: 'ela até queria que eu me confessasse e comungasse...'
'e confessou-se? comungou?'
'não... na terra, não. o céu, porém, me parece tão agradável que para não ter que o deixar, rogo que me chame um padre para escutar os meus pecados e me servir a santa hóstia.'
são pedro entusiasmou-se. convocou os anjos mensageiros e distribuiu-os à procura de um padre.
esperei na portaria, esperei, no minimo, umas quatro horas dos relógios do mundo. afinal os anjos mensageiros regressaram. sozinhos. tinham procurado em vão. não havia nenhum padre no céu.

terça-feira, 27 de março de 2012







vejo a tempestade
lá além da serra.
a tempestade é ela
inundando a cidadela
chamada de meu juízo.
entro indeciso na van
que me leva a vã promessa
de fogo ser vela.
num sopro subo.
me molha, incubo.
a sua chuva
me cai como luva.
inunda. 

segunda-feira, 19 de março de 2012







O TRIANGLI
 



quando eu recebi a carta de heraldo dizendo que tinha trabalho pra mim em são paulo, senti um bumbo no peito. a oito meses ele tinha saído de jequié rumo as incertezas da cidade grande. eu só não fui com ele na ocasião porque mãinha não autorizou a aventura. 'tá doido, meu filho. sair daqui sem garantias pra morrer de fome em são paulo? morra por aqui mesmo...' a carta agora era o meu passe livre. a minha garantia. heraldo era meu amigo da vida toda e sabia que eu dependia daquela carta para me ir. a lavoura na caatinga já não representava muita coisa e eu sustentava a família com a caça que eu trazia da zona da mata. me doía ver meus sobrinhos agoniados de calor e fome. a pensão que mãinha recebia desde a morte de painho, era tão defasada que mal dava pra farinha. foi esse o cenário que deixei para trás ao embarcar no são geraldo com promessa de mandar um dinheirinho todo mês. o ano era setenta e três e quando desembarquei na luz, logo me encantou o colorido na fachada da rodoviária. mas bastou algumas horas para eu perceber que o colorido se limitava apanas aquelas placas de acrílico. era mês de junho e tanto prédio e garoa deixava tudo cinza. na tiradentes peguei um ônibus que me levou até a brigadeiro luis antonio, lugar onde residia heraldo. ele ficou radiante em me ver ali em pé na calçada com a velha mala de papelão que tinha sido de meu avô. não tinha como avisa-lo da minha vinda. seu eu tivesse escrito uma carta confirmando, na certa eu teria chegado primeiro. nessa noite tomamos caipirinha e ouvimos rádio até tarde da noite. e que noite. nunca tinha passado tanto frio em minha vida e os poucos panos que heraldo providenciou para que minha cama fosse feita no canto, não impediram que meus ossos congelassem e a vontade de estar em casa me assombrasse. na manhã seguinte, eu e heraldo fomos andando até o canteiro de obra no itaim bibi, onde ele me apresentou para nelson que pegou minha certidão de nascimento e já me registrou como auxiliar de servente. o trabalho era duro. não dava tempo pra pensar no frio e na saudade de casa. as horas vagas eram preenchidas com o carteado lá na pensão, idas ao parque do ibirapuera e no forró do zé lagoa em pinheiros.
o nosso quarto de pensão era na verdade um porão. fora a porta que ficava sempre aberta para o quintal, a única ventilação era uma gradinha que dava pro nível da rua, aonde só víamos os pés dos paulistanos apressados andando pela brigadeiro. mesmo parecendo ruim, o quarto era amplo e limpo. de vez em quando , lá eu botava flores que trazia do parque para lembrar de mãinha e agradar a vista.  era ali que eu e heraldo dividíamos nossas esperanças e coabitávamos em harmonia. o tempo foi passando. outras obras se engatavam nas que terminavam e eu e heraldo eramos dois irmãos. era assim que a gente se apresentava. e foi assim que ele me apresentou para odete, morena mineira que trabalhava em casa de família no jardim europa. heraldo já tinha falado da mulher boa que dançou com ele a noite inteira no forró e ria fácil. só falava nela na verdade. não dei muita importância quando ele a levou lá na brigadeiro em uma tarde de sábado e ficamos ali ouvindo amado e tomando caipirinhas. era ela mesmo muito irreverente e ria de todas as histórias que a gente contava. antes de se ir, odete deixou a pia limpa e fez uma panela de feijão que serviu para a marmita dos dois a semana inteira. delícia. e no outro fim de semana ela veio de novo. e no outro...
ela vinha e trazia o bem estar junto. ficávamos ali os três fritando batatas, tomando sangue de boi e ouvindo os melhores forrós que a radio américa tocava naquela época. era assim os nossas tarde de sábado. a noite, lá ia eu para as farras deixando os dois parentes entregues aos amores. domingo, quando eu acordava às duas, elá já estava lá rindo e querendo saber de namoradas que eu arranjara. eu desconversava porque o meu lance era a obra, a dança no salão e mandar o dinheirinho de mãinha todo mês. era esse o foco. até que sobrou um pra eu e heraldo comprarmos uma brásilia setenta e seis. zerada. cada um deu uma parte da grana. só dava nós três pra cima e pra baixo naquela caranga. fomos eu, odete e heraldo pra são vicente numa manhã de sábado. e eu acho que foi ali que tudo começou. o sol, o mar, as batidas de limão... tudo conjuminou para que eu visse odete com outros olhos. foi ali naquela areia cinza cimentada que prestei atenção o quão bela ela era. companheira. cuidadeira. quis ela pra mim em segredo. e ela também já tava me querendo, pois em menos de uma semana dessa nossa viagem, ela lá na pensão disse a heraldo que o coração dela tinha mudado. e apontou eu. a gente tava no meio de uma bebedeira de sábado e vi que ia dar besteira. mas foi só impressão... heraldo disse que entendia e que assim que resolvesse o problema da habitação, iria se mudar para deixar os parentes em paz. calado que eu tava, calado fiquei. abri os braços assim e sai sem rumo até um tanto assustado. quando voltei tarde da noite, cada um tava numa cama. odete na minha de canto. deitei ali com ela sentindo todo o cheiro novo e adormeci. na manhã seguinte tudo estava igual. batata frita, vinho e forró. não sei o que eles acertaram na minha ausência, mas o tempo passou e heraldo não se preocupou em arrumar nova casa. e nem ninguém. morávamos os três juntos agora e a cama de canto ficou para odete que a forrava com uma  colcha verde ou amarela, conforme o seu desejo. a verde era de heraldo. a amarela, minha. ainda hoje, chamamos odete de flor.

sexta-feira, 16 de março de 2012



VISITA-ME



 

em certas madrugadas solitárias e etílicas, quando a fumaça do cigarro se torna densa demais, abro as janelas da minha casa pra abastecer-me de vento frio e fresco. e é nessa hora que entram os anjos vagabundos.
bebem comigo, mexem nos meus armários, quebram minhas louças... alguns puxam meus cabelos e fazem-me cócegas. outros afagam meu rosto, onde a barba cresce difícil e dura. depois rodeiam-me, cantam e compõe, não sei como, máscaras humanas. fico um pouco assustado. mas eles, percebendo a minha palidez, amenizam o meu medo fazendo séries de perguntas, indiscrições, de rodeios antes de dizerem o que querem afinal. perguntam-me pelos meu sofrimentos de amor, pelo meu pai e pelos meus filhos. e por mais que conheçam a condição miserável do homem, chego as vezes a desconfiar que eles me invejam...

quarta-feira, 14 de março de 2012



ESSE É PRA VOCÊ, MY LOVE.

(manda a minha, viu?)


 




essa pobre poesia só queria te tocar
estar no seu dia a dia. no lar. no bar.
no altar da sua cama, toda semana,
a semana inteira. sagrada e profana.

essa poesia feia quer te por à loucura.
quer ser a sua cultura. a sua bela figura.
a pimenta quente que atormenta a vista.
ser a alta velocidade que te põe na pista.

essa poesia serva quer fazer a sua comida,
quer dobrar a sua roupa e te ajudar na lida.
quer te banhar e preservar a sua juventude.
quer te fazer massagens. cuidar da sua saúde.

essa poesia descalça quer correr com você.
quer ficar na varanda e ver a lua amanhecer.
quer mergulhar fundo no rio, dançar na praça.
quer te fazer rir. tirar a sua roupa e a mordaça.

essa poesia fuleira te quer de toda maneira.
ela te quer irmã, filha, amiga e companheira
quer aconchegar-se no seu colo, ficar perto
e não ser mais esse grão de areia no deserto...

                                          por isso sou triste.

terça-feira, 13 de março de 2012




O BURACO





 





será que não te ocorreu perdoar enquanto você cavava esse buraco? realmente é uma pena que uma amizade que parecia imperecível tenha sido destruída pelo mero toque dos lábios dela. eu não tinha a menor ideia que você sabia, até te ver ali do meu lado com a arma na mão. três meses? sério? você sabia de nós esse tempo todo e só se afastou para traçar esse plano? plano dos bons, tenho que admitir: uma tarde de caça na serra do mar. uma das nossas atividades favoritas. especialmente há alguns anos atrás, antes de sossegarmos um pouco. naquela época, vivíamos muitas aventuras juntos e eramos inseparáveis. era da hora! as vezes eramos imprudentes, mas quase sempre imponentes. mas ai você quis me matar aqui nesse lugar que conhecemos tão bem. há inúmeras maneiras de esconder um corpo no meio dese mato, né? diabos! já havíamos brincado com isso antes, creio, enquanto bebíamos umas cachaças perto da fogueira. e quem iria questionar você e a sua história da minha morte por aqui? quem iria questionar a nossa amizade de toda vida? enquanto discutíamos a nossa viagem, nunca passou pela minha cabeça que entre seus planos estava a minha morte. mas por que? até onde me consta, você não sabia nada da minha traição. conheço-o tão bem, suponho que você deva ter notado algum sinal, mas acho que eu estava muito absorvido pelo amor de sua esposa e ocupado demais fazendo planos, meus próprios planos, para tirar vantagem dessa viagem e te matar.
eu não queria que... isso acontecesse. começou tão sutilmente. um olhar quase imperceptível dado num momento de desconfortável silêncio. depois veio um roçar de ombros (ou será que foi de mão?)... será que foi ela que levou isso adiante? ou será que eu que fiquei cego com a minha obsessão? será que ela queria mais do que já tinha? você e eu eramos tão parecidos... as pessoas chegavam a dizer que parecíamos irmãos. ou será que a curiosidade acabou se transformando no mais simples e complexo dos sentimentos? amor.
não sei. sei que eu estava afundando e não sabia disso. esse seu buraco é bem profundo. bem mais do que aquele que eu cavei para te enterrar. e você nem deixou sinais óbvios do seu trabalho inspirado. a viagem aos parentes dela em itariri foi uma artimanha da sua parte. ela bem queria adiar a viagem. estávamos no auge da nossa paixão um pelo outro. as horas que podíamos ficar juntos eram tão limitadas... mas como ela mesmo me disse, você parecia tão determinado em ir que ela não teve como evitar. quando você retornou sozinho e me falou que a irmã dela estava com a saúde debilitada, eu sabia que ela seria a primeira a se oferecer a ficar pra tomar conta. não tinha motivo algum pra suspeitar de alguma coisa, tinha? só agora, só agora na escuridão do seu olhar e vendo ela de bruços lá dentro do buraco, posso ver seu plano na totalidade e a beleza horrível de tudo.

segunda-feira, 12 de março de 2012



SACO DE VIDA!






derley bateu em alzira bem no dia das mães. e foi na cara. por alguma causa não justificada, ele agarrou o cabelo de alzira e esfregou no prato de macarrão à bolonhesa que ela fez pela manhã. as crianças calaram apavoradas. derley despejou suas ébreis retóricas sobre toda a família suja de medo e saiu  porta afora afim de tomar outras doses. alzira recolheu as dores e os cacos do prato pelo chão. sentiu-se envergonhada perante as meninas. a vergonha maior que a dor não cabia nela. aquele pirão de vergonha entalado na garganta de alzira não descia. a mais novinha agachou pra ajudar a mãe. a mais velha até defendia o pai e ficou ali quieta sentada. foi com a pequenina que, ali agachadas, alzira trocou um trato no olhar. chega de apanhar! naquele mesmo dia o plano começou a nascer. alzira sentia-se um lixo por deixar que derley acabasse assim com o seu domingo. com a sua vida. meu deus; esse homem me mata uma hora dessas! e as meninas sem mim? derley não cuida de nada a não ser da água, da luz e do feijão. ele sempre chegava em casa com sapatos e roupas velhas que os ricos davam pra o jardineiro. como alzira odiava ver as filhas vestidas de menino. achava tudo um lixo. ela. a casa. a vida... a vida, não. o lixo era derley. porque se igualara à ele por tanto tempo? alzira é muito mais do que derley. alzira bota ordem. alzira gera vida, porra! da barriga dela saíram aquelas duas mulheres que ela tinha que defender. e da barriga de derley? o que saia? saia só merda. aquele saco de merda... derley mata plantas. amputa-as. faz de tudo artificial com elas para alegras as vistas dos ricaços. uma hora mata ela... aquele monte de lixo! ele vai ver só... sorriu alzira.
certo fim de tarde,  derley chegou em casa com mais dois bêbados trazendo um freezer desses horizontais em um carrinho de mão. 'pra que você quer isso, derley?'. 'pra enfiar no seu rabo, porra! cala a boca e vem aqui ajudar.' quando alzira fez menção de ir, os três bêbados despejaram o freezer na calçada em meio a gargalhadas e saíram pra devolver o carrinho. coube a alzira por aquele trambolho na cozinha com a ajuda de uma vizinha. o aparelho bem acoplou-se na minuscula parede que parecia ter sido feita para ele. começou a gostar do bichinho. era uma velharia que, não sei porque, sabia servir para alguma coisa. funciona? ligado na tomada, o bichinho roncava. um zumbido metálico e continuo que deu um click nas idéias de alzira. desligou o freezer assustada e pôs a mão na parte interna do aparelho. estava frio como a sua própria alma. gelava rápido. o bichinho... correu pelo quintal em direção da rua não dando tempo da mais velha perguntar aonde ia alzira. sabemos nós que alzira foi na lan house da rua de trás com a cabeça a mil. tinha que ser rápida. tinha que ser essa noite. alzira achou no google o que precisava e, pasmem, tinha o produto lá na prateleira alta onde derley guardava seus apetrechos de jardinagem. uma porção daquele pó na comida do marido produziria o efeito desejado. e assim foi. derley deve ter apagado por ai, pois chegou em casa depois das onze e quieto, já meio curado da bebedeira. engoliu a comida preparada e deito-se sem se banhar. para não mais. a normalidade da manhã fez com que as meninas nem percebessem que o pai não tinha se levantado para trabalhar. tomaram o café com pão que alzira lhes preparou e foram pra escola. entravam às sete horas. alzira as acompanhou do portão com o olhar até elas sumirem na esquina do fim da rua. ela tinha quatro horas. entrou no quarto aonde o homem morto jazia na cama. espalhou plásticos pelo quarto. trouxe as ferramentas de derley também. desmembrou o marido com precisão cirúrgica. era dez e meia da manhã quando o quarto estava impecavelmente limpo e no freezer, oito sacos pretos que já começavam a congelar e seriam postos no lixo nas próximas terças, quintas e sábado, quando ela ouvisse o barulho do caminhão na rua. a mais velha chorou um pouquinho quando o pai não apareceu. mas foi só na primeira semana...

quinta-feira, 8 de março de 2012






EU (M)ACHO QUE SE FODEU.








ninguém nem os via naquele canto de bar; mas é privilégio nosso saber agora o que os outros não ouviram e nem podem ouvir. eis:
'sabe qual é a verdade, bróder? eu  nunca vi mulé niúma dispensar o cabra da pensão só pelo prazer de abrir a boca e dizer: "não preciso de filho da puta nenhum pra criar o meu!"'
'eu acho que deve ter. deve ter...'
'deve ter, mas eu nunca vi. ganhadores de maga sena. essa mesmo que acaba de desligar o celular na minha cara toda bravinha, me cobra trezentos reais que eu pulei uns meses atrás ai. porra, ela é sei lá o que da TAM. salarião. viaja o brasil todo...'
'eu acho que ela ainda te quer.'
'quer o caralho! antes fosse... ela quer é me perturbar. me humilhar. ela quer que eu pague, por não sei qual preço, a juventude que ela passou ao meu lado.'
'eu acho que trezentos conto, vira.'
'não é os trezentos reais. trezentos reais ela gasta em creme, don. e tá bem mais bela do que era. parou de fumar. faz iôga... mas isso não importa! o que ela não suporta é eu ser como sou e o meu filho me amar, me procurar. sei lá até quando, né? ele tá crescendo e vai percebendo as coisas... mas por ela, eu já tinha tido um fim.'
'eu acho você uma pessoa difícil.'
'difícil? difícil? eu sou é até bem fácil... eles é que querem ser sofisticados! eu sou da velha escola, don. roberto carlos e essas porra ai...'
'eu acho que é por isso que você tá na merda...'
'pode até ser. prefiro. cara; sabe o que ela fazia sempre? ela usava o órgão  sexual, bicho. se eu transava com ela um dia, ficava subentendido que no dia seguinte ela estava desobrigada. se eu me mostrava bom e cooperativo, era recompensado com uma foda. se eu tivesse sido menos agradável ou me atrevesse fazer alguma critica, ela se vingava me evitando. é grotesco quando eu penso como ela se comportava comigo. puta merda! ela era pior do que a pior das putas...'
'eu acho que ela tava cansada de você...'
'cansado tava eu quando vinha do trampo e pegava o hélinho na creche. quem você acha que dava comida, banho e botava ele pra nanar enquanto ela se graduava? era o papai aqui! e teve sexta dela nem vir pra casa....'
'eu acho que se fosse eu, também iria pra farra...'
'mérito dela, shock.'
'pois é. vais fazer o que?'
'... me arruma trezentos paus até o mês que vem aê?'

sábado, 3 de março de 2012





QUEM SABE SE VALERIA
FAZER MINHA HISTÓRIA
OU A SUA?






agora pensando em dagmar e na sua vingancinha justificada, chego a lembrar daquela  vez que poderia ter acontecido de eu estar acampado a alguns meses na trindade e alguém ter me arrumado uns bicos nas pousadas de parati. dessa vez seria terça-feira e, atrasado que eu poderia estar, uma jovem senhora se dispusesse a me dar uma carona. ela bem podia se chamar gisela... ou vera... sei que a carona me livraria dos possíveis olhares fulminantes do patrão, quiçá da dispensa das funções que eu ali fizesse. lavar pratos e coisas assim... enfim. talvez fosse dali que vinha a verba das minhas cachaças e então eu tinha que ter um certo cuidado, né? e deu-se. nessa altura já seriam seis e meia da noite e eu deveria estar na pousada às oito. então subiríamos o deus me livre de boa, ouvindo um som, quem sabe pitando um, até chegar no trevo do patrimônio, onde ela teria dito que conhecia um atalho que varava umas quedinhas d´agua lá pros lado do vale da pedra branca. 'não! não!' diria eu de forma categórica, 'eu sei aonde é que você tá falando. vamos aqui pela BR 101 mesmo que é mais rápido.' então ela dava de ombros e seguiria pela estrada mesmo. talvez depois de uns dois quilômetros, um policial nos pararia no posto rodoviário: 'habilitação e documento, senhorita!" (isso é certo que ele diria.) 'olha seu guarda; eu tive um probleminha com o licenciamento e a minha carta de habilitação e o documento do carro estão lá em são paulo com o meu despachante.' vixi! eu ficaria quieto. o guarda pediria o RG dela e lá se ia pra casinha. ai eu diria assim: 'é verdade isso ai que você falou pra ele?' então ela começaria a socar o volante e dizer: 'eu sabia! eu sabia que não deveria ter te ouvido. a gente quer ajudar as pessoas e só se fode. eu disse que era pra gente ir lá pelo vale... eu disse!' perplexo, eu diria: ' se eu soubesse da situação dos seus documentos, nunca que eu pediria pra você vir pela BR. porque você não me disse que o carro tava sem documentos?' e seria bem nessa hora que ela viraria  com os olhos injetados em ódio e gritaria para mim: 'PORQUE EU NÃO SOU OBRIGADA A EXPOR AS MINHAS FRAGILIDADES PARA VOCÊ!'
quieto eu ficaria de novo ao constatar que eu estava diante de uma pessoa desequilibrada emocionalmente e sairia do carro sem fazer movimentos bruscos. aliviado, eu veria o guarda lá já vindo e dizendo que apreenderia o carro. então ela xingaria o guarda, eu, deus e o mundo. e essa seria  a hora de eu também meter o biruta e sair correndo pela estarda afora rumo a pousada.
essa fantasia ilustra bem o porque desse aborto na nossa história e por favor, dagmar, não me procure mais. isso não!

sexta-feira, 2 de março de 2012










 



era de porcelana o meu amor?
e agora cacos e amanhã poeira
e depois paisagens de um mundo
que certo iras desconhecer.

era porcelana! eu sei que era!
pequena e delicada xícara
em que bebeste o mar.
e tu nem viste que era o mar...