segunda-feira, 29 de novembro de 2010









dodói






subia danúbia
no bonde
do desajeitado
desejo.

dentro da condução
um estranho realejo
descreveu que,
aonde o bonde
fazia final,
era mesmo um lugar
supra-sentimental.

esquisito por estar
sem lá ficar

danúbia então foi tomada
de uma grande desarmonia.
olhou ara os lados calada,
mas logo disse em pilhéria:
"peguei a condução errada.
essa é a van filosofia."









no olho nasce o tesão.
depois, se cria na mão.
não avisa. alisa e tira camisa
para ter a melhor sensação.

na palma da mão tem escrito
encontros implacáveis
que podem ser favoráveis.
deleite-se nesse delito!

mão curiosa e cautelosa
vagando em morena pele.
pela linha que revele
uma estrela poderosa,
que goza e deixa sem ar;
possante luz a brilhar...

mão criadeira de maneiras
de estar do jeito certo.
de bem star perto.
repartindo sentido rico,
escritos e carinhos lúdicos
que guardo na palma da mão,
no coração e na sola do pé...
abre o olho, mulher!!!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

quem tá no erro sabe: a coisa tá feia no rio de janeiro!
aqui em casa não tem tv, mas acompanho nos jornais impressos e no radio a guerra que assola a minha querida guanabara a alguns anos e se intensificou na ultima semana. 
jogo de cartas marcadas, onde o povo é o desavisado que é rapelado. 
quando isso vai acabar? será que acaba? oremos...



 


us cara tão sentando o dedo.
e eu poeta, fuleiro e notívago
me sinto indigno desse medo.

a matemática é fatal:
duas motos+quatro caras+
trezentos e oitenta...
é igual a tchau!

quantos amigos meus
foram levados por essa ventania.
o ultimo, não faz nem cinco dia.
mas de dez presenciaram,
nem foram na delegacia.
se calaram. claro!
sabem que podem pagar caro
por não aceitar covardia.

e quem mora na periferia
sabe da doutrinação.
da antiga lei do cão
que deixa a vida osso.
quem quer corda no pescoço?

mas já estamos com ela!
e não é só aqui na favela.
no cruzamento do brasil
a miséria se aglomera.
e gera essa besta fera
que entra por sua janela.
pela televisão,
e corrompe tudo que é bom.
meninos em desatino
de pistola na mão.
se fazem deuses do seu micro verso
as vezes, de um jeito tão perverso
que custa crer em perdão.

então...
isso é só um desabafo
desse poeta safo
que não guenta mais porrada.
a letra tá dada!
iraque? aqui é piada.
na policia ou no bandido?
aonde a bala vai ser achada?

e a poesia é minoria.
pra esse poeta véio
andar tranquilo no sereno
ainda falta ganhar
muito terreno.
eu não me engano;
é lá fora do meu sonho,
que o bicho tá pegando.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

BILHETE ÚNICO (direto ao ponto)



caros apostadores;
por motivo de falecimento, o bicho não corre hoje.

                                             a banca

olá;
tentei te acordar... tive que ir trabalhar.
fiz um chá de boldo que está sobre o fogão. ajuda.
antes de ir, me deixe seu nome e telefone.
pode ser nesse papel mesmo. beijos.

                                              tiago

querido;
estou na minha mãe. suas malas estão no quarto.
quando eu voltar, não esteja.

                                               ana

pai;
amanhã preciso levar esse boletim.
assina e não me assassina.
no outro bimestre, dou o melhor de mim.

                                               fabinho

                                       
homem da luz;
tô na correria pra pagar a conta.
favor não cortar essa!

                                              chico


vagabunda;
pegue esses cem mil e nunca mais me procure.
está dado o desquite.
     
                                             assis


querido irmão;
veja o estado da casa... surtei de novo!
não perca tempo limpando o sangue. 
junte você também poucas coisas e saia dai.
acho que a policia já foi avisada.

                                            desculpe           

seu getúlio;
não tente me encontrar. você pode se complicar.
deixei em sua conta fantasma o suficiente para
sua empresa não vir a bancarrota e parar de explorar 
os otários que enchem o seu rabo de dinheiro.
dona marina manda lembranças e diz não mais voltar,
'seu velho sujo' (palavras dela...)

                                         seu humilde e servil criado:
                                               abelardo


mãezinha;
se o fabinho ligar, diga que eu estava com cólica 
e fui dormir cedo. vou numa festa com a ligia
e dormirei na casa dela. o luis pediu pra você 
ligar pra ele. o vinho que vocês gostam está
em baixo da pia. divirtam-se!
                                         
                                               claudinha




meus filhos;
a dívida divida entre vocês.
da onde eu estiver, lhes cuidarei.
                                            adeus.

                                                dr. simão

sábado, 20 de novembro de 2010





eu pintei a casa dela.
ela queria amarela.
e eu, cego,
peguei no pincel
como um menino
colorindo algum papel.
foi um escracel!
 
eu salvei a vida dela.
foi na rua que sai da favela.
levei a mão em seus peitos,
e desse jeito,
a livrei do atropelo
eminente.
 
eu amei tanto ela
por essas vielas...
entre dedadas
e mentiras
deslavadas.
 
ela era o meu solo.
quando eu havia
ela era agua
no meu colo.
 
sujeitamente
saudade
na(o) mente

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

EXERCÍCIO:eu me lembro de ter tido sorte...







sai da cooperifa e fui pro jú. era o ultimo dia da fafá lá. cara querida que nos serve com cervejas e simpatias. tinha eu uma lata de spray na bolsa e, duas e pouca, fiz um desenho para ela no espaço onde era um itaú. bebemos, cantamos, dançamos e outras 'cositas más'. cinco horas. vamu embora?
eu e mais duas pessoas (pediram anonimato) entramos na belina véia. sentido são luis. na joão dia, o giroflex ilumina o carro. paramos para o enquadro.
"vocês tão vindo lá daquela festa no borba gato?"
"sim senhor, senhor soldado."
"tem arma ou droga em cima?"
"não senhor, senhor soldado."
"todo mundo de rg na mão e bolsa aberta no chão. lá é o que? um bar?"
"não, senhor soldado. é casa de um amigo."
"se eu quiser entrar lá de boa eu entro?"
"depende. se o senhor for meu amigo..."
"documento do carro."
claro. licenciamento atrasado. o que esperar de uma belina véia com bagageiro e tudo?
"e esse spray aki é o que? é você que anda pixando por ai 'vote nulo'?"
"não, senhor soldado. é que eu faço uma atividade com as crianças numa ong da periferia e esse é meu material de trabalho."
"quem é que toca violão de vocês três?"
madureira (kkkkkkkkkk) se apresenta. forrozeiro vagabundo.
"se você tocar uma do roberto a gente deixa vocês irem de boa. se não vamos ver essa lance do licenciamento ai..."
silêncio. madureira começa um: " lá. lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá...."
os policiais impacientes: "e a letra, porra? canta essa merda ai!"
e eu, com a voz embargadamente etílica, emendo: "tanta gente se esqueceu. que a verdade tá pra vir..."
todos racharam o bico. rolou até um improviso.
"pode ir senhores. cuidado nos faróis. e você moça? não tem receio de andar com esses malucos a essa hora da madrugada?"
"eu sou a namorada do augusto. vamos juntos pra casa."
'tô sabendo... vão com cuidado."
peguei minha bolsa no chão e disparei: "senhor soldado; o senhor se importa de eu perguntar em quem o senhor vai votar nesse domingo?'
"eu? eu voto nulo!" mais risadas.
no carro, madureira confessa: "porra! se não fosse chico science..."

terça-feira, 16 de novembro de 2010

meninos;
orem sempre
pro santo dos assassinos.

meninas;
respeitem muito
a nossa senhora da esquina.

talvez vocês precisem deles...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

leve como a alma tem que ser.






e eu, já tão pecado,
me encharco do salgado
que é dado por seus poros.

me ajoelho, oro e te devoro
com ares de doce recato.
pentelhos no palato
brecam o ato
do minete.
o seu cheiro
é dominante.

devo seguir adiante
nesse encontro
delirante
que me desfaz
por inteiro?

sei que passei do ponto.
me rendi ao seu encanto
de sereia virtual.

por favor, não leve a mal
a minha errónea conduta.
sei que sou filho da puta
mas minha mãe é uma santa.

sei que não mais adianta
tentar esquecer o momento
de tão grande contentamento...

linda figura fugaz;
eu juro que dar-te-ei
no escuro
instantes do mais puro
pau duro.
e nada mais.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

UM DOMINGO QUALQUER

estava eu na avenida cidade jardim no domingo pela manhã e um passarinho veio planando das arvores e se agarrou na camisa que eu vestia. peguei ele com cuidado e logo vi que era um filhote de colibri. assim como ele, o jardim angela apareceu na minha frente, dei o sinal e subi com ele no ônibus. ele estava fraquinho e mesmo assim, ele as vezes batia as asas vigorosamente buscando sair da proteção de minhas mãos. ao chegar na casa do peu, ensinei minha filha a alimenta-lo com uma mistura de agua e açúcar, a qual ela molhava o dedo e encostava no bico dele. ele chicoteava o dedinho dela com um fiozinho que parecia ser uma língua. as crianças se divertiram muito fazendo isso. tava sol de uma da tarde. tirei a camisa e fiz um ninho para ele na sombra da varanda, bem na muretinha, onde ele devidamente alimentado, piou por uns quarenta minutos ininterruptamente. dei ordens para que as crianças não pusessem mais a mão nele e que o deixassem descansar. o seu piado embalou várias cervejas e a lasanha maravilhosa que a michelle preparou. de repente, olhei para a camisa e cadê o passarinho? ali só tinha um cocôzinho.
procurei-o pelo quintal para que ele não fritasse ao sol,com cuidado para não pisa-lo e quando olhei para frente, lá estava ele equilibrado no fio de luz, já na rua.
o peu chamou minha filha para mostrar. ela queria que eu pegasse ele de volta. eu disse que era pra ela dizer tchau pra ele. depois da despedida ela voltou pra brincadeira dela e eu dirigi ao passarinho um olhar de gato e pensei: 'ele vai morrer. ele vai cair e morrer.' na mesma hora eu pensei com mais certeza: 'vai nada. ele se livrou dos carros do centro. comeu um pouquinho. ele vai é viver!'. e ele ficou ali no fio bastante tempo.piando. e eu olhando. de repente ele aproveitou uma lufada de vento e se jogou lá pro lado do jardim lídia, numa planada que achei tão acertada quanto a primeira.
e lá se foi o milagre do domingo.
chegando na minha casa a noite, soube que mataram o chico no sábado.
chiquitita que vi crescer humilhando os adversários no campo do morrão e na quadra do sinhá.
chiquitita que fazia todos rirem com suas observações e os apelidos que dava aos desavisados.
welington que trabalhava de cobrador de ônibus, tinha dois filhos e deixou um terceiro na barriga da namorada. não era santo, mas também não era um inseto. desabei na frente de meus filhos. eles me perguntaram se o chico era amigo do donaldo, que também foi exterminado de forma covarde e que eles presenciaram minha dor quando a noticia chegou. pior que era.
todos amigos a mais de vinte anos.
não quero mais dor. não quero que meus filhos me vejam assim. não quero ver ninguém assim.
eu só quero ajudar passarinhos...














era para ser
um domingo
qualquer.

mas aquela mulher
quis fazer intervenção.
eu não tinha a intenção
de voltar naquele lugar.
mas ela foi me ligar
bem na parte da manhã.
essa hora o meu afã
esta aberto com os chakras.
e ela, muito velhaca,
me fez falta com os dois pés.
esqueci todo o revés
da nossa situação
e me meti no busão
que sempre desanda
para onde ela manda.
(era esse o lugar)
cheguei na casa dela
com uma flor amarela
e um sonho de valsa
no bolso da calça.
ela fez mil reverências
e disse que minha ausência
as vezes gritava muito...
e que tinha o intuito
de fazer um macarrão.
pegou na minha ereção
e se meteu na cozinha.
ouvi a minha vozinha
dizendo na mente: "fudeu!
será que você esqueceu
como foi o ultimo fim?"
ouvi também um "plim-plim"
que vinha da televisão,
andei até o fogão
aonde a agua fervia
e pus em cima da pia
essa mesma poesia.
ela me olhou espantada
e eu sai sem dizer nada.

você vê como é;
era pra ser
um domingo qualquer...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

não consigo mais por imagens. e mesmo que conseguisse, não seria das melhores...







muitas sextas-fritas depois
nós dois
estamos em casa.

em meio a uma crise
de asma
vejo o fantasma
da sua pessoa
vindo em forma de garoa
do inferno
ou shangri-lá
sei lá...

ele quer me assustar
me pussuir
querendo fuder
o meu existir

só mesmo doente
me assombra novamente
esse passado
exorcizado

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

estou assim como você.






meu gatinho chernobyl
dormiu entre blusas sujas
que estavam no sofá
e que ainda estão por lá.

bill não sentiu frio.
mas creio que ele previu
que as suas sete vidas
logo serão perdidas
entre essas blusas fedidas.