sexta-feira, 30 de dezembro de 2011




VARIAÇÕES


 




nem toda mulher cria
nem toda criança chora
nem todo pássaro pia
nem todo atraso é demora
nem toda ruiva tem sarda
nem toda cerva é gelada

nem todo chão é de terra
nem todo famoso é rico
nem toda flor é cheirosa
nem todo macaco é mico
nem toda menina é rosa
nem toda briga é guerra

nem toda porta é de trinco
nem toda janela tem grade
nem todo herói salva vida
nem toda bala é perdida
nem todo teto é de zinco
nem todo santo foi frade

nem toda pá é de lixo
nem todo jogo é disputa
nem todo homem é bicho
nem todo filho é da puta
nem toda reta é plana
nem todo dia é semana

nem toda vassoura é de pelo
nem toda linha é novelo
nem toda historia é novela
nem toda donzela é bela
nem todo amor é verdadeiro
nem todo mês é janeiro



VARIE EM 2012!
FELIZ ANO TODO.
INTÉ...







quarta-feira, 28 de dezembro de 2011



POR NO VELA








...agora traço um desenho
de um sonho estranho
que tenho:

tá lá você
deitada na minha cama
completamente pelada
e de bunda pra cima;
puta vitamina
pra minha pica
que se projeta pro alto
no ato de ter.

a sua voz lerda e rouca
fala que quer falo
na boca.
teso, te obedeço.

você lambe a cabeça
latejante
e finge, por um instante,
que vai engoli-lo...
saio do trilho.

mordisco suas costas
do jeito que gostas.
tasco beijos, dedilho seu grelo, 
sinto sede de beber o seu suco
e te chupo
com a língua sem recato
que te cutuca os recantos.

esparrama-se no meu colchão
como se fosse liquida.
um manto de sensação
me cobre ao te ver
dobrar a perna. virar o olho.
já não sei mais onde eu escolho
alojar meu pau em brasa.

à essa altura,
toda a casa,
tá pra lá de iluminada.
velas se derretem
na nossa quente aventura.

a sua mão me procura.
chupa-me mais um pouquinho
enquanto te faço carinho
olhando-te pelo espelho.

te acocho de joelho
abraçando na barriga
e te dou uma estocada
que nos liga
e quase me desfalece.
ouço sino, faço prece
ao entrar em seu universo.

dou um beijo
torto e diverso
no canto da sua boca.
o sangue ferve na sua cara
louca e ruborizada.

aumento o ritmo das estocadas
em penetrações variadas.
meu pau parece uma viga
que sustenta a existência.
trepamos sem clemência!

sorvo os fluidos
da sua pele de louça.
são tantos os gemidos;
foda-se também quem nos ouça!

viro-te e deito
sem sair de dentro
da fresta em que me deleito.
faço festa no teu peito.
beijo o esquerdo,
o direito.
linguo o seu bico perfeito.

aperto seu seio
como se fosse um meio
de me prender ao devaneio
da sua presença ali.

enfio devagar
para que não acabe
o frenesi que nos cabe
na antecedência do gozo.

te como gostoso
como na primeira vez.
lembra como é?

te ponho de pé
com o rosto na parede.
meu corpo te prende
de um jeito bem leve.
derrete-te como neve
quando afasto as bandas
da sua bunda
e dou dedadas com segundas
terceiras, quartas,
intenções.

nossas feições mudam.
o gozo nos inunda
feito lombra
de peiote.

te mordo o cangote
com brava doçura.
a pica dura me jorra em você.

pelos os seus arquejos vejo
que juntos celebramos
o propósito de viver.

caio por ti vencido
nesse lindo combate
de paz.

ainda querendo mais,
acordo sem você do meu lado.
de pau duro e melado...





segunda-feira, 26 de dezembro de 2011



 OS TRÊS IRMÃOS DE SOFIA













um dia eu vinha zanzando
com meu andar de malandro
nas ruas da burguesia.
ia oiando pras janela,
quando topei numa delas
com os dois olhos de sofia.

era dois carvão aceso.
fiquei estancado, preso,
cego, bobo, surdo, mudo.
não consegui dizer nada,
mas também numa oiada
nóis dois si dizia tudo.

sofia era mulher séria.
não sabia o que é miséria
e tinha seu lar, seu marido.
já eu era da orgia,
criado na boemia;
eu era um sujeito perdido.

mas o amor não escolhe cara
e a gente menos repara
e quando vê tá no papo.
sapo amou estrela um dia
e na história d´eu e sofia
estrela também amou sapo.

a gente não pode esconder
aquele amor sem poder
e o povo viram e falaram.
foi ai que eu disse um dia:
"escuta aqui ô sofia,
isso não tá legal!
esse nosso amor escondido,
nóis tapeando o marido...
isso vai acabar mal.

ouça agora o que digo,
você vem morar comigo
e sai da boca do povo.
comigo tu vai ser casada.
cê vem para a minha morada
e fica séria de novo.'

sofia me olhou espantada
como quem não entende nada
e depois só disse: 'tá bem.
se é isso que tu qué
me espere no seu chatô
segunda feira que vem.'

de um jeito descidido
sofia chamou o marido:
'a partir desse momento
acabou nosso casamento
e tu não é mais meu senhor.
pego minhas coisas agora
e dessa casa vou embora.
o amor me chama e eu vô.'

o marido de sofia
ficou danado da vida:
'se pique mulher perdida!
te dei casa e carinho
te dei amor e um ninho
e tu vai largar tudo isso
pra ir morar em cortiço?
pra viver por ai rolando?
pra ser mulher de malandro?
pode ir desgraçada!
e se um dia voltares
a porta vai tá fechada.'

sofia arrumou a trouxa
e muito calada se foi.
ao chegar me disse: 'oi'
e eu fiquei numa alegria...
se para a minha pessoa
teve uma coisa boa
nessa vida vadia
essa coisa foi sofia.
ela era o sol de cada dia
que aquecia o meu coração.
enchia de vida e alegria
de encanto e de harmonia
nosso quarto de porão.

fomos feliz por um tempo...
bebida, más companhias,
o vicio da boemia
me tiraram do caminho.
nos momentos que eu pensava
me arrependia, chorava
e pedia perdão pra sofia.
sofia só perdoava.
perdoava até que enfim
viu que não adiantava
e perdeu a ilusão em mim.

mesmo assim não disse nada.
se tinha vindo calada
muito mais quieta se foi.
não voltou para o marido
e nem continuou a rolar
na estrada da perdição.
não fez nada disso, não...
pra seu amor que era grande
eu era muito pequeno;
sofia tomou veneno.

os três irmãos de sofia
prometeram a minha morte.
a raiva dos três é forte.
querem acabar com a minha raça,
querem ver minha desgraça
e me meter o punhal.
na história da minha vida
querem por ponto final.

deixa eles vir que eu espero.
é isso mesmo que eu quero!
num tô ligando pra nada.
vou por ai rolando
nas vagas da madrugada
sabendo que em uma esquina
tem três navaia assassina
de tocaia me esperendo.
quero encontrar com eles
de costa pra uma parede
na madrugada vazia.
depois de um furdunço feio,
eu pintado de vermeio
do sangue deles e do meu,
me espixo na calçada
e no meio da noite fria,
na urtima gorfada,
morrer chamando sofia.