quarta-feira, 30 de novembro de 2011



A PELEJA PRA COMER O PASTEL DE 'FLANGO' DO CHINÊS HONORATO






lhes peço licença para contar
mais uma história espetacular
daquelas que não se desvenda
se ela aconteceu de fato
ou se não passa de lenda.
ela é alem da imaginação!
por isso eu quero atenção
pra gigantesca confusão
que um dia fez honorato.

honorato veio da china
morar no parque regina
e montou uma pastelaria
que nunca que fez sucesso
pois sempre estava vazia.
quando honorato falava
o cliente não assimilava
e as encrenca era brava!
era o fim do progresso.

e conforme o povo relata
se via uns rato e umas barata
passeando pelo dito recinto.
isso é lá o que o povo dizia...
seu disser que já vi, eu minto.
mas tem muita gente que jura
que viu cenas de causar paúra.
até eu que não sou de frescura,
nem água lá que eu pedia.

um dia chegou um cliente
desses não tão exigente
e viu uns pastel ressecado.
a barriga já tava no zango
e ele só tinha uns trocado.
com a corda no pescoço,
querendo comer o almoço,
perguntou: 'é de que moço?'
honorato disse: 'é de flango.'

o cabra pensou: 'vou comer.
é o que dá. fazer o que?'
pediu pro china logo dois,
quis ketchup e mostarda
e um caldo de cana depois.
comia o pastel bem feliz,
já pensando em pedir bis.
então o  destino não quis
que tivesse outra rodada.

conforme o cabra mastigava
os farelinhos se espalhava
e foi colando umas pomba
também pra fazer um rango.
honorato fez uma tromba
e saiu de tras do balcão
com uma vassoura na mão
pra acabar com a invasão
dizendo: 'sai flango. sai flango.'



terça-feira, 29 de novembro de 2011


HEIM?








k entre nos, eh msmo mto eskisita essa revolucaum q 1 opradora tlefonika e 1 canal de tv a kbo kerem colokar na kbça da gent, principalmnt na dos mlks, q ainda tm pekeno domínio da língua portuguesa e recebm nas suas ksas est srvço de desutilidad ao jah defasado ensino. falam q hj ngm mais tm tmpo p/ nda, nem p/ screver e mto menos pra ler, só q essa transformacaum da lingua pode fzr gde diferença na formacaum d kem nunk estv na cia da obra de kras como machado de assis, rubem fonseca, clarice lispector ou nélia pinõn. a tal 9vidade de comunicacaum pod virar uma dificuldad para a nova geracaum dcodifik as msgs e nuâncias d nossa scrita, por sua vez, rica e detalhada. naum dvmos crêr q a necessidad de screver rápdo, vire desculpa para screver errado e nda justifik forçar 1 moda d c screver msgs e assisti filmes com esse código. q mulek vai kerer lê 1 jornal ou livro cheio de frases longas e períodos completos, dps q virou 'onda' abrv. o máx. possivel e metamorfosear as palavras?                kro aurélio; fike na sua kietinho descansando ai no céu. ou seria cel?







sábado, 26 de novembro de 2011

PORQUE EU NÃO PENSEI NISSO ANTES?





quatro ignorâncias podem concorrer em um amante que diminua muito a perfeição e merecimento de seu amor: ou porque não se conhece a si, ou porque não se conheça a quem amava., ou porque não se conheça o amor ou porque não se conheça o fim onde há de parar, amando.
pintaram os antigos, um amor menino e a razão é porque nenhum amor dura tanto que chegue a ser velho. mas há, sim, amor que dure muitos anos. porque pintam-no os sábios sempre menino? pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe de sete anos, nunca chega à idade de uso da razão. usar de razão e amar, são duas coisas que não se juntam. a alma de um menino o que vem a ser? uma vontade com afetos e um entendimento sem uso. tal é o amor vulgar. tudo conquista o amor, quando conquista uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. ninguém teve a vontade febricitante, que não tivesse o entendimento frenético. nunca houve enfermidade no coração, que não houvesse fraqueza no juízo. por isso os mesmos pintores do amor lhe vendaram os olhos, pois se o primeiro efeito ou ultima disposição do amor é cegar o entendimento, isso que vulgarmente se chama amor, tem mais partes é de ignorância. e quantas partes tem de ignorância, tantas lhe falta de amor. quem ama porque conhece, é amante. quem ama porque ignora, é néscio.

                                                                                                          padre vieira
                           

sexta-feira, 25 de novembro de 2011







TODOS NÓS TEMOS UMA SENHA EM NOSSO CORPO
(ou desconexo)






foi uma cena inusitada. no minimo particular, para mim que nunca vira um homem dedilhando fervorosamente o seu laptop sentado sob um guarda sol. tipico gringo. camisa regata, óculos de sol, chapelão de aba, bermuda e chinelo. sentadinho com a porra do laptop no colo.  isso muito deve acontecer em ibiza, cancun e quem sabe até copacabana... mas ali no boqueirão me chamou muito a atenção. era feriado prolongado e a praia grande ficou pequena. os paulistas invadiram e eu tinha que ir buscar uma peça lá na segunda feira. não liguei para o transito. pus a camisa e o tênis dentro da mochila, dobrei as carça e sai andando na areia. foi a primeira vez que eu vi um computador assim na praia. à lazer? sei lá. continuei andando sem nunca saber que aquele homem era odivan oliveira da silva.
odivan era um jovem e promissor doutor da academia, se destacando nas aulas de história que dava em certa universidade publica. mas não foi fácil, não. mesmo odivan sendo inteligente. tinha livros e artigos publicados e em seu meio, era bem reconhecido. odivan nasceu em carapicuiba e tinha esse nome por conta de uma canção do roberto carlos da qual a mãe dele ouvia no radinho das casa das madame. odivan tá de boa. odivan tem um blog. algumas alunas são seguidoras. odivan ama e trapa com uma delas muito mais do que com a esposa. ééééé minha filha...
a esposa quis saber porque ele não deixava aquela merda no apartamento e levava a long board ou o cooler com as cervejinhas. as cruzadas que fosse... odivan argumentou sobre importantes atualizações no blog. assim foi. ela não lhe escreveu. haviam brigado na quinta e odivan, em resposta, enviou para ela mensagens longas e desaforadas. chorou um pouquinho e os óculos escuros vieram a calhar. as visualizações no blog foram poucas. talvez pelo feriado... o computador, parou de funcionar aquela noite, pois a areia da maresia oxidou os circuitos. em são paulo, o técnico condenou o aparelho e a conduta de odivan em levar laptop´s na praia.





.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011





SOU PATRIOTA MAS NÃO SOU IDIOTA.





o brasil é um pais tão feliz
que não precisa de poesia.

prefere o jogo. o logro
do artista atual
com ares de monarquia
que na vida real,
não duraria um dia.

eu não sei tocar violão.
eu não sei fazer gol.
marco minha impressão
dos cantos aonde vou.
e vejo tanta coisa
que não se encaixa:
interesses desgovernados
atropelando amores
em cima da faixa.
rumores de um pajé
massacrado em rondônia
perante a parcimônia
de um governo ralé.
ministros imaturos
caindo de podre.

pode vir drummond,
bandeira, baudelaire...
pode vir quem quiser!
continua a minoria
desse escrever poesia.

o deslumbre e a ordem
estarão sempre incólume
enquanto tiver big brother.
que também é poesia!

vê que contradição...
nesse pais de milhão,
eu, que não valho o tostão,
dou um conto.






quarta-feira, 23 de novembro de 2011





CIÚME DO CÃO







dizia-me ramon de quando morava na rua da paz: eu tinha acabado de me mudar pra quele apê e nos primeiros dias eu fumava na rua. andando no entorno eu vi uma área verde no fim de uma ruazinha que sai da verbo divino. no dia claro seguinte, voltei lá. era um parque. um eucalipal cortado por um esgoto corrente que já fora um riacho. dos dois lados tinha tanques de areia, playground e umas trilhazinhas onde velhos de short caminhavam. um inferno. nesse dia fumei em casa. um mês e pouco depois, foi o primeiro fim de semana em que ana foi lá também. eu tinha pedido pra mãe dela pra arrumar tudo primeiro. eu tava muito sem grana nesses dias. sem trampo, sem norte. criança em mudança embaça. deu tempo de deixar tudo lindo. manga leite requeijão pão papel lápis de cor bala bola e amor. mó saudade da miúda... e ela lá foi. disse 'que apartamento enorme!' de pequena que era. tinha o que naquela época? três aninhos? sei lá. só sei que dessa primeira vez eu levei ana no parque. era domingo e ela gostou  muito e eu também. fazia sol e as pessoas estavam por ali se exercitando, lendo, deitadas e brincando. com seus cães e suas crianças. tinha crianças. enquanto ana brincava com a filhinha de dara, que eu acabara de conhecer e já querendo comer, chegou um negão com um dog alemão que não tinha tamanho. sabe o dog alemão? o scooby doo? então.
ana morre de medo de cachorro e correu pra perto do véio. seguro na coleira, o homem disse 'morde não, fia.'. eu ri. fiz festinha e passei a mão no bicho. que cachorro lindo! tinha o pelo curto, caramelo. brilhava ao sol. um porte esnobe. parecia um cavalo e em pé, devia ter um metro e setenta. ana não quis papo.
o cara me olhou na cara, fez um manejo de cabeça e se foi. fora a tarde que tava linda, o melhor foi dara dar o telefone dela quando eu disse que em quinze dias eu vinha. liga antes, disse ela. então.
vieram falar do cheiro dos cigarros. certas horas, voltei a fumar na rua e numa dessas, lá perto do carrefour, eu vi de novo o negão do dog alemão. ele tava só em pé perto de uma dessas cabines de vigia, sabe? dessas de fibra que finca na calçada? eu tava entretido com o cigarro e quando eu vi, ele me ria já a uns dois metros da minha frente. era madrugada. ele disse assim: tem um desse ai? tinha. ele deu uns tragos, apertamos a mão e eu continuei andando. nessa coisa de segundos ele me disse seu nome. michel. mudei de curso. dai pra frente eu só via michel com o dog lá no parque, quando ana vinha. eu ficava puto quando isso acontecia porque ana tinha medo e não queria desagarrar das minhas pernas quando via o cachorrão. largava os brinquedos dela  lá na areia e vinha jogar a mesma nos meus. eu só queria que ela brincasse enquanto eu lia deitado ao lado de dara. deu-se o tempo. uma quarta feira encontro michel na padaria. acabava de chegar à minha mesa uma feijoada que sobraria. michel entrou pedindo o cardápio. eu disse, ô indio! vamu meia esse feijão aqui. ele meio que rio e fez que não ia, mas eu mandei parar de gueri gueri e se abundar. michel sentou na minha frente pedindo prato e talher pro balcão. se serviu comedidamente e disse estar ali aquela hora pra cobrir as férias do guarda da tarde. a sei lá quantos anos varava as madrugadas naquela cabine fazendo cruzadas e vendo uma tvzinha, que também era radio. morava ali no imbé, também tinha uma filha  mas de trinta anos e dava uns dois nas altas horas. e o cachorro michel? ele deu uma risada descarada e disse que era do doutor tavares. doutor tavares morava num daqueles casarões e tinha haras. e dava cem reais para michel passear com duque todos os domingos. duque era estrela de filme pornô. comia melhor do que nós. veterinário, spa e os caralho. quando eu duvidei, michel disse que se eu passasse lá de noite, me dava um dvd de duque. eu disse é claro que não! aquele cachorro filho da puta ganhava uns três paus por filme.que raiva que eu fiquei! mudei de assunto e de parque. depois dessa, ana eu dara e luciana íamos dominicar num parque que tem lá na vicente rao.











segunda-feira, 21 de novembro de 2011







A PALAVRA NÃO PASSA DE UMA GRANDE FARSA


no principio era o verbo. e o verbo estava com deus. deus era o verbo.
então, de começo, tudo tem a ver com a palavra. a comunicação.
alguns milênios depois, deus fez o homem. deus queria alguém pra conversar.
ótimo. tudo bem. só que o homem queria mais que isso.
o homem queria sala de bate-papo, disque sexo e novelas.
o homem tem seus próprios planos no que diz respeito às comunicações e as invenções relacionadas a ela.
pobre deus.
continua sem ninguém pra conversar...







                                                                            eu elemento
                                                                            tu alimentas
                                                                            ele mata
                                                                            nós metemos
                                                                            vós elementais
                                                                            eles mentem






sexta-feira, 11 de novembro de 2011



SONHO QUE EM UMA NOITE ELES VERÃO
(ou sturm und drang)






como choveu naquele dia. era abril e miró estava em são paulo desde novembro mangueando nos saraus. tinha vindo do recife com dois livros e um dvd. tudo da melhor qualidade. com suas performances poéticas impecáveis, era bem vindo nos bares onde chegava e não lhe faltava goles e tragos. se defendia com os honorários dos produtos que eram vendidos nos referidos ambientes. ainda trincava com uma moeda lá na casa da moça do brás, onde se hospedava. para miró, são paulo era estranha e adequada. 
dai veio o dia que como choveu. miró tinha saído cedo com sol rumo a paulista vender livros e ler de graça na cultura. era duas horas quando vendeu tudo que tinha levado. fez pra mais de duzentos reais, entrou na livraria e ficou varejando entre as prateleiras. comprou as flores do mal. aquela mesmo da martin claret. vinha descendo a augusta quando a chuva desabou com força. era uma tempestade. como chovia. entrou na oscar freire e depois em um bar. gostou do nome. acho que era olinda.  achou engraçado os olhares chocados dirigidos á sua figura negra de sandália, camiseta e bolsona a tira colo. ficou ali no balcão com um sorriso irônico na cara. eu quero um chope, disse para a atendente. são seis reais, ela respondeu. miró tirou uma nota de dez do bolso e deu para ela. abriu seu baudelaire enquanto sorvia o manjar dourado. a leitura estava boa e miró pediu mais um chope. e outro. e mais um. todos pagos na hora. em dado  momento ele pousou o livro no balcão e se pôs a observar as caras de dentro do bar. eram seres pesados em suas gravatas e companhias. poucas mulheres no recinto. desacompanhada, só a garçonete. um grupo de homens ria quando o assunto era futebol. as caras sozinhas mostravam nervosismo. talvez com a tempestade, talvez com a solidão. miró então sentiu uma potência em ser quem era ali naquele lugar que, não sei se tocado pelo álcool ou pela simples liberdade, teve o ímpeto de ir lá fora beber a tempestade. saiu discretamente e sem dar palavra, abriu os braços na calçada. a chuva de vento chicoteou seu corpo todo e ele gritou. ai foi que o povo todo viu ele. viu miró dando pirueta e dizendo palavras ininteligíveis, todas elas de alegre revolta. deitou na sarjeta para receber o jorro d´ água que descia quintuplicado pelo meio fio lá de cima. regozijou-se. miró e a tempestade. ficou ali naquela afirmação por uns dez minutos e voltou todo encharcado para dentro do bar. pôs a bolsa no ombro e pediu mais um chope. todos que estavam lá dentro, fingiram que não viram miró. ele gostou demais e se sentiu. nesse ínterim a tempestade passou e virou chuva fininha. miró pagou o ultimo chope e lá se foi na noite quente.
dizem que ele foi lá pro campo limpo...





sábado, 5 de novembro de 2011



APERTANDO OS BOTÕES CERTOS, 
  TUDO NA VIDA FUNCIONA.




hoje foi foda, me disse suzana deitada. fui trabalhar com uma blusinha bem decotada. mó calor lá na loja. os ventiladores tudo pifado, eu já disse pra gerente levar eles lá na sua oficina... fui com a blusinha. ai sabe o felipe que trabalha na prefeitura? ele foi lá com um amigo dele comprar uma bermuda. você tinha que ver, netinho, o amigo dele não tirava o olho do meu peito e ficava todo sorrisos comigo. vendi bermuda, camisa, meia, boné. suzana ri. perguntei para ele, você não quer levar esse tênis, ó? tá duzentos e trinta na promoção. suzana ri. ele disse, quero, quero quero. me secando. vendi quase quinhentos reais para ele rapidinho. as meninas tiraram mó sarro quando ele se foi. dai vem o pior. depois entrou um casal que a mulher queria ver uma saia. a venda da saia mais um vestido tava quase fechada quando a mulher percebeu que o marido dela tava babando meus  peitos na caruda. na hora ela disse que ia pensar mais um pouco e qualquer coisa voltava. fiquei com um ódio daquele pateta! as meninas riram a perda da venda. minha gerente não riu. ela vira e me diz que amanhã tenho que ir com roupas adequadas à loja. porra, eu vendo biquíni lá, netinho! mó calor...
use blusinha de botões, meu amor, eu disse para suzana. blusinha de botões. 
o rosto de suzana iluminou-se.




sexta-feira, 4 de novembro de 2011






a minha poesia é vadia
como a tia papa
cabaço.

sabe o que eu faço?
entretenho um pensamento
em mente enclausurada.
o que me custa?
nada.

confundir é um prazer
que não dá pra explicar.

poesia de alegria, elegia,
sol se pondo, gaivota voando...
perdeu!

nessa vida/poesia
quem manda é eu!
e ela é assim
pois é grande parte de mim.



terça-feira, 1 de novembro de 2011


AURORA



na noite em que helena atendeu o telefonema dele em nossa casa, resolvi deixa-la em paz.
lá ela vinha cada vez menos par dormir e ser monossilábica. entretido que estava eu com o livro, evitei conflito. no dia seguinte rumei com o primeira mão em baixo do braço para a pensão na joaquim nabuco.  ao me recepcionar na mansão  de reboco e forro caindo aos pedaços, fiquei surpreso com a figura de dona aurora. era muito diferente da do telefone. ela tinha mais de sessenta anos, era corpulenta e muito vivaz.
o sangue em sua face dava mostras de saltar pelos poros. nela notei fortes traços indígenas.
dona aurora me disse que a casa era espolio da herança do lélio, aquele mesmo da hebe, e enquanto a decisão judicial não saia, ela administrava a acasa. tinha sido funcionaria da família. questões trabalhistas.
além do quarto amplo com armários perfeitamentes embutidos, muito me agradou os quadros com flores bordadas na parede da sala e uma imagem de nossa senhora das dores no hall. também no quarto tinha uma  cama de viúva adiantei  dois meses de aluguel e naquele mesmo dia levei para lá meu playstation, a tv e o computador. e pornôs. senti na vista de dona aurora ser eu um foragido. essa sensação me deu energia para ouvir paulinho da viola enquanto eu fazia uma faxina master no quarto que se adentrou até as dez da noite. na manhã seguinte fui par o quintal descobrir dois cachorros, uma papagaia e a escada que levava a uma grande área inferior onde tinha uma piscina enorme e azulejada onde algumas larvas nadavam num resto de água esverdeada. adorei aquele cantinho. era ali que eu passava horas a ler e escrever , não antes de varrer as merdas dos cachorros que sempre iam cagar ali. eu ficava ali olhando eles com cara de sorriso enquanto cagavam ao sol. quando os cães faziam isso eu pensava em helena. e passei a pensar demais. não só quando os cachorros cagavam. era o tempo todo. no quarto dia de pensão eu estava arrependido, sofrendo e querendo helena de volta. quando criei forças para dizer isso para ela, helena não me atendeu. e nem no outro dia. e nem no outro. nunca mais falei com ela.
passava eu os dias entre cinzeiros lotados e idas e vindas ao banheiro, que era em frente ao meu quarto e à boca da espraiada., que era a uma quadra. dona aurora reclamou do cheiro. então passei a fumar lá na piscina, onde só eu e os cães desciam. ler e escrever eu já não fazia. fui ficando amuado e socado no quarto.
um dia dona aurora veio perguntar se eu queria tv a cabo no meu quarto. disse á ela que não me interessava a programação da tv e ela ficou só com dois gatinhos,  um na sala e outro no quarto dela.
e ela lá na sala assistia mesmo era o nat geo. e nessas passadas do quarto pra piscina eu fui ficando ali no sofá lateral vendo os tubarões, os gregos e as montanhas do himalaia. dona aurora era a maior brisa e em mim ela tinha um interlocutor. de pena de morte aos galos loucos que se desafiavam à distancia entre as três e oito da manhã, varando a casa com a merda das suas cantorias. quem por ali criava galinha? você acostuma, disse dona aurora. viramos parceiros. ela só chiou aquela vez e eu fui sendo outra pessoa lá na pensão. eu era uma pessoa melhor. eu ia na feira, batia prego, varria, fazia comidinha, lia e escrevia. enchi a piscina com a ligação de água clandestina da regina. vizinha de parede. dona aurora ria e fazia café. não via novela. eu via era série com ela. arrumei um trampo no shopping das duas ás dez. era perto e valia a pena. era só eu e dona aurora no sábado e domingo. e la ficou tão contente de eu trabalhar... das duas as dez. todo dia.
todo dia eu vinha dez e meia e ia ver tv com ela. as duas dormia e eu acordava fluindo entre cigarros, musicas, pregos, nossa senhora das dores, tintas, cafés, lora, falcon e léa (do star wars).
e dona aurora. que preciosidade. filosofava-mos.
uma vez, na saída do trabalho, uma nuvem choveu na cidade e eu cheguei na pensão todo encharcado.
os cachorros já não me latiam. a tv via dona aurora na sala. dei boa noite, me troquei no quarto e fui estender a roupa molhada no quintal. era verão. de manhã estaria secas. dona aurora insistiu para que eu me banhasse.
dormiria melhor. enquanto isso, faria uma coisa leve para que eu comesse. adorei a sugestão.
pus o radio na cultura am, paguei a toalha e fui  morar no chuveiro. banho morno e demorado que usufrui  recompensado. lembro que lembrei de helena. ri satisfeito. sai do banheiro de short e camiseta para estender a toalha no quintal e encontrei dona aurora vestida apenas de chinelas havaianas e colar de pérolas escoando um miojo na pia da cozinha. abri a porta  que antes era aberta, dado o calor, fui até o quintal, estendi a toalha e voltei para a cozinha fechando a porta atras de mim. ela disse assim, ' como foi o seu dia?'
'magnifico. tomei chuva.'
'a chuva renova. ainda mais quando cai desse jeito.'
'mas quando ela cai desse jeito, também destrói. viu o pirajussara como tá?
'é assim quando ela cai desse jeito. pode por tomate?'
'sim.'
levantei pra pegar o saleiro. ela fez um miojo diferente com arroz, azeite, tomate, azeitona e fiapos de um frango de terça. uma canjinha. sentou cara a cara comigo na mesa para me ver comer e se mostrar.
mulher explicita e linda. a parte maior da hecateia. admirei cada parte do seu colo para cima que a mesa me permitia ver. comi o miojo com o olhar fixo em dona aurora. ela com a mão no queixo me ria um riso torto e revelador. o colar era de pérolas mesmo. só podia. ele brilhava demais em contraste da pele dela que parecia mais vermelha do que nunca. era verão e a piscina tava cheia naqueles dias. a canja esfriava entre as beiçadas divagares e meus fixos olhares. ao fim da refeição, levantei o prato e depois a mim, beijei o rosto de dona aurora e fui pra pia. de prato e panela lavada, chamei ela para ver two and half men . sentei juntinho dela no sofá central, cobertos de lençol. dona aurora chegou a esbarrar na minha ereção, mas ela ficou na dela e na dela eu fiquei também. achei tão bonito! tão cuidado.
as duas dormimos. não sei quando chacoalhei dona aurora e lhe disse: 'vamos nos deitar.'
ela se levantou aturdida. cubri-a com o lençol e a levei para a porta do quarto dela.
fui para o meu masturbar. vivi com dona aurora na pensão por dois anos até que outros inquilinos chegaram. nesse ínterim de tempo, finalizei o livro e não me faltou pérolas e miojo. fui feliz. sempre penso em dona aurora.
e em helena também.