segunda-feira, 21 de maio de 2012








todos eles eram de circo. desses antigos, de roda gigante e cartomante. somavam-se por volta de trinta pessoas fazendo com que o circo acontecesse de cidade em cidade. nos idos dos anos quarenta do século passado, em plena caatinga nordestina, faziam-se raros. entre eles, um mais ainda. rodriguez apresentava um destacado show de 'girls' dentre as atrações do parque. uma dupla de mulheres coreografadas, dançavam foxtrot, can can, hula hula ao passo que se despiam ao som do ritmo. o ponto alto do show era o nu frontal, quando os ávidos espectadores jogavam moedas no palco para as beldades. rodriguez acompanhava o show de espingarda em punho ao lado de um cartaz onde se lia: 'se as dançarinas forem tocadas, encerra-se o show.'
era assim que rodriguez protegia a esposa e a a filha carmela, menina despreocupante, já que é com a esposa de rodriguez que desenrolou-se o drama. e senhores... há, sim, dramas também no circo.
dora era uma morena daquelas roxa, vinda de minas. conhecera rodriguez em uma das primeiras noites nos cabarés de petrolina. ela se encantara pelo bigode á lá gable do esbelto rapaz de fala enrolada. saíram do bordel direto para o idílio. nos tempos em que viveram sem serem nômades, errando pelo sertão, rodriguez caftinou dora.  rodriguez, marido fiel e atencioso e dora, esposa fogosa e prestativa. um descuido dele ou de quem e dora ficou de menino. rodriguez, muito sem jeito, aceitou acompanhar a trupe de um primo de zaragoza que passava por jequié. a ideia do show veio depois de dora dar a luz a carmela e voltar a ser a exuberante mulher coxuda e peituda que deixava rodriguez louco. os mambembes, muito mente aberta, acolheram o trio e não se incomodaram com a ousadia do show de rodriguez e muito menos com alguns distintos cavalheiros que dora recebia em sua tenda após as apresentações. rodriguez aceitava, brincando com a menina pelo parque fechado ou ajudando um e outro companheiro a carregar caixas e a bater lona.
isso era passado, pois já nos tempos em que a filha de dezessete anos aderira ao show, rodriguez andava desanimado e desgostoso de dora. não que não à amasse. isso não! só não sentia mais aquele calor ao toque da mulher, preferindo estar sempre cansado ao ponto de dormir. dora continuava a mesma. fêmea fera de gosto afoito pelo coito. doía em dora o desinteresse do homem amado. tinha a atenção variada de todos eles, mas não mais a de rodriguez. vendo a mulher sofrendo pelos cantos e sem brilho nos shows, rodriguez não teve outra ideia se não arrumar um outro amor para dora. nessa época, o espanhol era muito amigo de um dos palhaços que ali se apresentava. severino era querido por todos e o seu palhaço 'rapadura' era anunciado em cartaz. a proposta de rodriguez foi aceita de primeira por severino. forte desejo o palhaço já sentia por dora, se imaginando naquela sessão extra. dora que prometera nunca se entregar a homem nenhum do circo, não viu problemas quando rodriguez comunicou o encontro e foi muito verdadeiro quando ela perguntou de quem tinha sido a idéia. e o palhaço foi ao encontro. muitas vezes.
nos próximos meses, rodriguez sentia que  plano tinha sucesso ao ver a esposa voltar a sorrir, cantar e dançar como outrora. severino também estava exultante. hilário. até rodriguez recuperou o desejo pela mulher e se viu em apuros quando em uma noite, requisitou o amor de sua dora. dora chorou e disse que não podia. disse ainda que o amor alegre do palhaço tinha tomado o lugar do desinteresse do marido. 
rodriguez perguntou com o coração apertado: 'e o que devo eu fazer?'. 
dora, virando de lado, disse entre um sorriso: 'você sabe bem o que fazer...'
no dia seguinte, rodriguez espreitou o melhor momento em que se viu a sós com severino. 
muito sério, com olhar duro e voz cortante, rodriguez disse: ' acabou, severino. você me deve cento e vinte cruzeiros.' o palhaço imerso na desilusão, ainda balbuciou chocado: 'te dou depois, lá na minha tenda.'
rodriguez consentiu e o amor voltou aos lugares que lhe cabia.













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