terça-feira, 9 de novembro de 2010

UM DOMINGO QUALQUER

estava eu na avenida cidade jardim no domingo pela manhã e um passarinho veio planando das arvores e se agarrou na camisa que eu vestia. peguei ele com cuidado e logo vi que era um filhote de colibri. assim como ele, o jardim angela apareceu na minha frente, dei o sinal e subi com ele no ônibus. ele estava fraquinho e mesmo assim, ele as vezes batia as asas vigorosamente buscando sair da proteção de minhas mãos. ao chegar na casa do peu, ensinei minha filha a alimenta-lo com uma mistura de agua e açúcar, a qual ela molhava o dedo e encostava no bico dele. ele chicoteava o dedinho dela com um fiozinho que parecia ser uma língua. as crianças se divertiram muito fazendo isso. tava sol de uma da tarde. tirei a camisa e fiz um ninho para ele na sombra da varanda, bem na muretinha, onde ele devidamente alimentado, piou por uns quarenta minutos ininterruptamente. dei ordens para que as crianças não pusessem mais a mão nele e que o deixassem descansar. o seu piado embalou várias cervejas e a lasanha maravilhosa que a michelle preparou. de repente, olhei para a camisa e cadê o passarinho? ali só tinha um cocôzinho.
procurei-o pelo quintal para que ele não fritasse ao sol,com cuidado para não pisa-lo e quando olhei para frente, lá estava ele equilibrado no fio de luz, já na rua.
o peu chamou minha filha para mostrar. ela queria que eu pegasse ele de volta. eu disse que era pra ela dizer tchau pra ele. depois da despedida ela voltou pra brincadeira dela e eu dirigi ao passarinho um olhar de gato e pensei: 'ele vai morrer. ele vai cair e morrer.' na mesma hora eu pensei com mais certeza: 'vai nada. ele se livrou dos carros do centro. comeu um pouquinho. ele vai é viver!'. e ele ficou ali no fio bastante tempo.piando. e eu olhando. de repente ele aproveitou uma lufada de vento e se jogou lá pro lado do jardim lídia, numa planada que achei tão acertada quanto a primeira.
e lá se foi o milagre do domingo.
chegando na minha casa a noite, soube que mataram o chico no sábado.
chiquitita que vi crescer humilhando os adversários no campo do morrão e na quadra do sinhá.
chiquitita que fazia todos rirem com suas observações e os apelidos que dava aos desavisados.
welington que trabalhava de cobrador de ônibus, tinha dois filhos e deixou um terceiro na barriga da namorada. não era santo, mas também não era um inseto. desabei na frente de meus filhos. eles me perguntaram se o chico era amigo do donaldo, que também foi exterminado de forma covarde e que eles presenciaram minha dor quando a noticia chegou. pior que era.
todos amigos a mais de vinte anos.
não quero mais dor. não quero que meus filhos me vejam assim. não quero ver ninguém assim.
eu só quero ajudar passarinhos...














era para ser
um domingo
qualquer.

mas aquela mulher
quis fazer intervenção.
eu não tinha a intenção
de voltar naquele lugar.
mas ela foi me ligar
bem na parte da manhã.
essa hora o meu afã
esta aberto com os chakras.
e ela, muito velhaca,
me fez falta com os dois pés.
esqueci todo o revés
da nossa situação
e me meti no busão
que sempre desanda
para onde ela manda.
(era esse o lugar)
cheguei na casa dela
com uma flor amarela
e um sonho de valsa
no bolso da calça.
ela fez mil reverências
e disse que minha ausência
as vezes gritava muito...
e que tinha o intuito
de fazer um macarrão.
pegou na minha ereção
e se meteu na cozinha.
ouvi a minha vozinha
dizendo na mente: "fudeu!
será que você esqueceu
como foi o ultimo fim?"
ouvi também um "plim-plim"
que vinha da televisão,
andei até o fogão
aonde a agua fervia
e pus em cima da pia
essa mesma poesia.
ela me olhou espantada
e eu sai sem dizer nada.

você vê como é;
era pra ser
um domingo qualquer...

Um comentário:

muito obrigado por comentar neste blog. só não esqueça que a trema caiu e que berinjela é com J! não leve a mal. estou avisando para que você não passe vergonha na frente dos outros comentaristas.