terça-feira, 1 de novembro de 2011


AURORA



na noite em que helena atendeu o telefonema dele em nossa casa, resolvi deixa-la em paz.
lá ela vinha cada vez menos par dormir e ser monossilábica. entretido que estava eu com o livro, evitei conflito. no dia seguinte rumei com o primeira mão em baixo do braço para a pensão na joaquim nabuco.  ao me recepcionar na mansão  de reboco e forro caindo aos pedaços, fiquei surpreso com a figura de dona aurora. era muito diferente da do telefone. ela tinha mais de sessenta anos, era corpulenta e muito vivaz.
o sangue em sua face dava mostras de saltar pelos poros. nela notei fortes traços indígenas.
dona aurora me disse que a casa era espolio da herança do lélio, aquele mesmo da hebe, e enquanto a decisão judicial não saia, ela administrava a acasa. tinha sido funcionaria da família. questões trabalhistas.
além do quarto amplo com armários perfeitamentes embutidos, muito me agradou os quadros com flores bordadas na parede da sala e uma imagem de nossa senhora das dores no hall. também no quarto tinha uma  cama de viúva adiantei  dois meses de aluguel e naquele mesmo dia levei para lá meu playstation, a tv e o computador. e pornôs. senti na vista de dona aurora ser eu um foragido. essa sensação me deu energia para ouvir paulinho da viola enquanto eu fazia uma faxina master no quarto que se adentrou até as dez da noite. na manhã seguinte fui par o quintal descobrir dois cachorros, uma papagaia e a escada que levava a uma grande área inferior onde tinha uma piscina enorme e azulejada onde algumas larvas nadavam num resto de água esverdeada. adorei aquele cantinho. era ali que eu passava horas a ler e escrever , não antes de varrer as merdas dos cachorros que sempre iam cagar ali. eu ficava ali olhando eles com cara de sorriso enquanto cagavam ao sol. quando os cães faziam isso eu pensava em helena. e passei a pensar demais. não só quando os cachorros cagavam. era o tempo todo. no quarto dia de pensão eu estava arrependido, sofrendo e querendo helena de volta. quando criei forças para dizer isso para ela, helena não me atendeu. e nem no outro dia. e nem no outro. nunca mais falei com ela.
passava eu os dias entre cinzeiros lotados e idas e vindas ao banheiro, que era em frente ao meu quarto e à boca da espraiada., que era a uma quadra. dona aurora reclamou do cheiro. então passei a fumar lá na piscina, onde só eu e os cães desciam. ler e escrever eu já não fazia. fui ficando amuado e socado no quarto.
um dia dona aurora veio perguntar se eu queria tv a cabo no meu quarto. disse á ela que não me interessava a programação da tv e ela ficou só com dois gatinhos,  um na sala e outro no quarto dela.
e ela lá na sala assistia mesmo era o nat geo. e nessas passadas do quarto pra piscina eu fui ficando ali no sofá lateral vendo os tubarões, os gregos e as montanhas do himalaia. dona aurora era a maior brisa e em mim ela tinha um interlocutor. de pena de morte aos galos loucos que se desafiavam à distancia entre as três e oito da manhã, varando a casa com a merda das suas cantorias. quem por ali criava galinha? você acostuma, disse dona aurora. viramos parceiros. ela só chiou aquela vez e eu fui sendo outra pessoa lá na pensão. eu era uma pessoa melhor. eu ia na feira, batia prego, varria, fazia comidinha, lia e escrevia. enchi a piscina com a ligação de água clandestina da regina. vizinha de parede. dona aurora ria e fazia café. não via novela. eu via era série com ela. arrumei um trampo no shopping das duas ás dez. era perto e valia a pena. era só eu e dona aurora no sábado e domingo. e la ficou tão contente de eu trabalhar... das duas as dez. todo dia.
todo dia eu vinha dez e meia e ia ver tv com ela. as duas dormia e eu acordava fluindo entre cigarros, musicas, pregos, nossa senhora das dores, tintas, cafés, lora, falcon e léa (do star wars).
e dona aurora. que preciosidade. filosofava-mos.
uma vez, na saída do trabalho, uma nuvem choveu na cidade e eu cheguei na pensão todo encharcado.
os cachorros já não me latiam. a tv via dona aurora na sala. dei boa noite, me troquei no quarto e fui estender a roupa molhada no quintal. era verão. de manhã estaria secas. dona aurora insistiu para que eu me banhasse.
dormiria melhor. enquanto isso, faria uma coisa leve para que eu comesse. adorei a sugestão.
pus o radio na cultura am, paguei a toalha e fui  morar no chuveiro. banho morno e demorado que usufrui  recompensado. lembro que lembrei de helena. ri satisfeito. sai do banheiro de short e camiseta para estender a toalha no quintal e encontrei dona aurora vestida apenas de chinelas havaianas e colar de pérolas escoando um miojo na pia da cozinha. abri a porta  que antes era aberta, dado o calor, fui até o quintal, estendi a toalha e voltei para a cozinha fechando a porta atras de mim. ela disse assim, ' como foi o seu dia?'
'magnifico. tomei chuva.'
'a chuva renova. ainda mais quando cai desse jeito.'
'mas quando ela cai desse jeito, também destrói. viu o pirajussara como tá?
'é assim quando ela cai desse jeito. pode por tomate?'
'sim.'
levantei pra pegar o saleiro. ela fez um miojo diferente com arroz, azeite, tomate, azeitona e fiapos de um frango de terça. uma canjinha. sentou cara a cara comigo na mesa para me ver comer e se mostrar.
mulher explicita e linda. a parte maior da hecateia. admirei cada parte do seu colo para cima que a mesa me permitia ver. comi o miojo com o olhar fixo em dona aurora. ela com a mão no queixo me ria um riso torto e revelador. o colar era de pérolas mesmo. só podia. ele brilhava demais em contraste da pele dela que parecia mais vermelha do que nunca. era verão e a piscina tava cheia naqueles dias. a canja esfriava entre as beiçadas divagares e meus fixos olhares. ao fim da refeição, levantei o prato e depois a mim, beijei o rosto de dona aurora e fui pra pia. de prato e panela lavada, chamei ela para ver two and half men . sentei juntinho dela no sofá central, cobertos de lençol. dona aurora chegou a esbarrar na minha ereção, mas ela ficou na dela e na dela eu fiquei também. achei tão bonito! tão cuidado.
as duas dormimos. não sei quando chacoalhei dona aurora e lhe disse: 'vamos nos deitar.'
ela se levantou aturdida. cubri-a com o lençol e a levei para a porta do quarto dela.
fui para o meu masturbar. vivi com dona aurora na pensão por dois anos até que outros inquilinos chegaram. nesse ínterim de tempo, finalizei o livro e não me faltou pérolas e miojo. fui feliz. sempre penso em dona aurora.
e em helena também.

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