sexta-feira, 11 de novembro de 2011



SONHO QUE EM UMA NOITE ELES VERÃO
(ou sturm und drang)






como choveu naquele dia. era abril e miró estava em são paulo desde novembro mangueando nos saraus. tinha vindo do recife com dois livros e um dvd. tudo da melhor qualidade. com suas performances poéticas impecáveis, era bem vindo nos bares onde chegava e não lhe faltava goles e tragos. se defendia com os honorários dos produtos que eram vendidos nos referidos ambientes. ainda trincava com uma moeda lá na casa da moça do brás, onde se hospedava. para miró, são paulo era estranha e adequada. 
dai veio o dia que como choveu. miró tinha saído cedo com sol rumo a paulista vender livros e ler de graça na cultura. era duas horas quando vendeu tudo que tinha levado. fez pra mais de duzentos reais, entrou na livraria e ficou varejando entre as prateleiras. comprou as flores do mal. aquela mesmo da martin claret. vinha descendo a augusta quando a chuva desabou com força. era uma tempestade. como chovia. entrou na oscar freire e depois em um bar. gostou do nome. acho que era olinda.  achou engraçado os olhares chocados dirigidos á sua figura negra de sandália, camiseta e bolsona a tira colo. ficou ali no balcão com um sorriso irônico na cara. eu quero um chope, disse para a atendente. são seis reais, ela respondeu. miró tirou uma nota de dez do bolso e deu para ela. abriu seu baudelaire enquanto sorvia o manjar dourado. a leitura estava boa e miró pediu mais um chope. e outro. e mais um. todos pagos na hora. em dado  momento ele pousou o livro no balcão e se pôs a observar as caras de dentro do bar. eram seres pesados em suas gravatas e companhias. poucas mulheres no recinto. desacompanhada, só a garçonete. um grupo de homens ria quando o assunto era futebol. as caras sozinhas mostravam nervosismo. talvez com a tempestade, talvez com a solidão. miró então sentiu uma potência em ser quem era ali naquele lugar que, não sei se tocado pelo álcool ou pela simples liberdade, teve o ímpeto de ir lá fora beber a tempestade. saiu discretamente e sem dar palavra, abriu os braços na calçada. a chuva de vento chicoteou seu corpo todo e ele gritou. ai foi que o povo todo viu ele. viu miró dando pirueta e dizendo palavras ininteligíveis, todas elas de alegre revolta. deitou na sarjeta para receber o jorro d´ água que descia quintuplicado pelo meio fio lá de cima. regozijou-se. miró e a tempestade. ficou ali naquela afirmação por uns dez minutos e voltou todo encharcado para dentro do bar. pôs a bolsa no ombro e pediu mais um chope. todos que estavam lá dentro, fingiram que não viram miró. ele gostou demais e se sentiu. nesse ínterim a tempestade passou e virou chuva fininha. miró pagou o ultimo chope e lá se foi na noite quente.
dizem que ele foi lá pro campo limpo...





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