quinta-feira, 17 de maio de 2012









existiu um homem. um cro-magnon que desprezado por sua tribo, vivia solitário e infeliz.
mas excelente caçador que era, conseguia pelo menos arranjar o que comer. mesmo assim ele sentia fome. não sabia bem do que. carne com certeza não era. era de algo mais...
numa manhã ele saiu ao sol mais cedo do que de costume e olhou o cenário familiar a sua volta. o vale. seu mundo verde e luxuriante. foi ai que um ruido atras e acima dele se fez notar. com os músculos tensos, pronto para lutar, ele se virou. algo estava parado na entrada da caverna. ele logo o reconheceu como uma fêmea, mas muito diferente de todas que já tinha visto. ele a queria. e com o desejo, veio uma inquietação em sua mente. uma consciência que dançou pelo seu corpo, se espalhando da cabeça aos pés.
o homem tentou alcança-la, mas ela subiu mais e mais ainda até chegar ao topo da rocha, onde parou com o sol formando uma áurea em torno do seu corpo. a luz parecia envolve-la, deixando o homem cego. quando ele pode ver novamente, nada mais havia ali. nem mesmo aquela consciencia. ele voltou a ser tão ingenuo e estupido como seria por séculos. exceto por alguns breves momentos em cada uma de suas futuras vidas.
quarenta mil anos depois, o homem renasceu como um camponês escocês. um dia ele estava consertando a cerca que separava as terras do seu patrão do pântano e ela apareceu com os pés imersos no solo lodoso e com os cabelos mudando de cor. vermelho para branco. instantaneamente ele se lembrou. ele a desejou e a perseguiu pelo pântano através da nevoa. mas a neblina a envolveu e tudo desapareceu. cem anos mais tarde, um pescador na frança teve a mesma visão. ele então se lembrou e a lembrança o fez gemer por ela, mas a mulher se desvaneceu no entardecer antes que ele pudesse alcança-la. depois disso, era ele um marinheiro.
foi numa véspera de natal em um terminal de ônibus que ele a viu. bastou vê-la pra se lembrar e a desejar.
mas em todas as vezes, ela se afastava dele de forma mágica e inoportuna. ele ainda tentou acompanha-la dizendo: 'por favor! eu preciso falar com você! me espera!' sem sucesso. nos instantes finais, antes que a sua consciência verdadeira voltasse  a hibernar, ele chorou e esbravejou: 'maldita! eu tenho perseguido você por mais de mil gerações. ou entra na minha vida de uma vez ou vá para o inferno. já estou farto disso!'
não estava.
nos séculos seguintes, a humanidade atingiu o auge da sua evolução. o homem já não mais utilizava maquinas movidas por motores a combustão, mas viajava através das estrelas com asas de pura energia tiradas de fontes da própria criação. esses frágeis humanos seguiam imbuídos de conhecimento, e esse saber os protegia do frio, do calor e do vácuo. eles viajavam por todos os lugares. aprendiam muito e passaram a amar tudo o que conheciam. gradualmente a raça percebeu que sua continuidade não tinha mais propósito. assim ela voltou para o nada, contente com o que foi e feliz por não ser mais. mas antes de desaparecer, a raça decretou que um dos seus deveria ficar como um marco. o escolhido havia sido o homem das cavernas,  o fazendeiro, o pescador, o marinheiro... e agora ele era o monumento da sua espécie.
o tempo não mais contado, deu lugar à eternidade e ele ainda persistia, adormecido para sempre.
então, ao acordar, viu-se sozinho e percebendo que não havia necessidade de solidão, foi até um lugar onde a vida estava começando e tocou os átomos, esculpindo e moldando de acordo com as suas lembranças e deu à sua criação consciência e sexualidade feminina. e o tempo voltou a existir, envolvendo o corpo da mulher e a levando eras e eras no passado, colocando-a no topo de uma rocha, num pântano, numa praia, numa rodoviária e finalmente o tempo a devolveu ao homem e ele a recebeu.
e aqui, no começo e fim de tudo, eles se tocaram.

2 comentários:

  1. ô gunnar,
    valeu valeu.
    suas impressões são sempre bem vindas.
    quando achar ma merda diga também, viu?
    forte abraço, irmão!

    ResponderExcluir

muito obrigado por comentar neste blog. só não esqueça que a trema caiu e que berinjela é com J! não leve a mal. estou avisando para que você não passe vergonha na frente dos outros comentaristas.