segunda-feira, 12 de março de 2012



SACO DE VIDA!






derley bateu em alzira bem no dia das mães. e foi na cara. por alguma causa não justificada, ele agarrou o cabelo de alzira e esfregou no prato de macarrão à bolonhesa que ela fez pela manhã. as crianças calaram apavoradas. derley despejou suas ébreis retóricas sobre toda a família suja de medo e saiu  porta afora afim de tomar outras doses. alzira recolheu as dores e os cacos do prato pelo chão. sentiu-se envergonhada perante as meninas. a vergonha maior que a dor não cabia nela. aquele pirão de vergonha entalado na garganta de alzira não descia. a mais novinha agachou pra ajudar a mãe. a mais velha até defendia o pai e ficou ali quieta sentada. foi com a pequenina que, ali agachadas, alzira trocou um trato no olhar. chega de apanhar! naquele mesmo dia o plano começou a nascer. alzira sentia-se um lixo por deixar que derley acabasse assim com o seu domingo. com a sua vida. meu deus; esse homem me mata uma hora dessas! e as meninas sem mim? derley não cuida de nada a não ser da água, da luz e do feijão. ele sempre chegava em casa com sapatos e roupas velhas que os ricos davam pra o jardineiro. como alzira odiava ver as filhas vestidas de menino. achava tudo um lixo. ela. a casa. a vida... a vida, não. o lixo era derley. porque se igualara à ele por tanto tempo? alzira é muito mais do que derley. alzira bota ordem. alzira gera vida, porra! da barriga dela saíram aquelas duas mulheres que ela tinha que defender. e da barriga de derley? o que saia? saia só merda. aquele saco de merda... derley mata plantas. amputa-as. faz de tudo artificial com elas para alegras as vistas dos ricaços. uma hora mata ela... aquele monte de lixo! ele vai ver só... sorriu alzira.
certo fim de tarde,  derley chegou em casa com mais dois bêbados trazendo um freezer desses horizontais em um carrinho de mão. 'pra que você quer isso, derley?'. 'pra enfiar no seu rabo, porra! cala a boca e vem aqui ajudar.' quando alzira fez menção de ir, os três bêbados despejaram o freezer na calçada em meio a gargalhadas e saíram pra devolver o carrinho. coube a alzira por aquele trambolho na cozinha com a ajuda de uma vizinha. o aparelho bem acoplou-se na minuscula parede que parecia ter sido feita para ele. começou a gostar do bichinho. era uma velharia que, não sei porque, sabia servir para alguma coisa. funciona? ligado na tomada, o bichinho roncava. um zumbido metálico e continuo que deu um click nas idéias de alzira. desligou o freezer assustada e pôs a mão na parte interna do aparelho. estava frio como a sua própria alma. gelava rápido. o bichinho... correu pelo quintal em direção da rua não dando tempo da mais velha perguntar aonde ia alzira. sabemos nós que alzira foi na lan house da rua de trás com a cabeça a mil. tinha que ser rápida. tinha que ser essa noite. alzira achou no google o que precisava e, pasmem, tinha o produto lá na prateleira alta onde derley guardava seus apetrechos de jardinagem. uma porção daquele pó na comida do marido produziria o efeito desejado. e assim foi. derley deve ter apagado por ai, pois chegou em casa depois das onze e quieto, já meio curado da bebedeira. engoliu a comida preparada e deito-se sem se banhar. para não mais. a normalidade da manhã fez com que as meninas nem percebessem que o pai não tinha se levantado para trabalhar. tomaram o café com pão que alzira lhes preparou e foram pra escola. entravam às sete horas. alzira as acompanhou do portão com o olhar até elas sumirem na esquina do fim da rua. ela tinha quatro horas. entrou no quarto aonde o homem morto jazia na cama. espalhou plásticos pelo quarto. trouxe as ferramentas de derley também. desmembrou o marido com precisão cirúrgica. era dez e meia da manhã quando o quarto estava impecavelmente limpo e no freezer, oito sacos pretos que já começavam a congelar e seriam postos no lixo nas próximas terças, quintas e sábado, quando ela ouvisse o barulho do caminhão na rua. a mais velha chorou um pouquinho quando o pai não apareceu. mas foi só na primeira semana...

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