terça-feira, 13 de março de 2012




O BURACO





 





será que não te ocorreu perdoar enquanto você cavava esse buraco? realmente é uma pena que uma amizade que parecia imperecível tenha sido destruída pelo mero toque dos lábios dela. eu não tinha a menor ideia que você sabia, até te ver ali do meu lado com a arma na mão. três meses? sério? você sabia de nós esse tempo todo e só se afastou para traçar esse plano? plano dos bons, tenho que admitir: uma tarde de caça na serra do mar. uma das nossas atividades favoritas. especialmente há alguns anos atrás, antes de sossegarmos um pouco. naquela época, vivíamos muitas aventuras juntos e eramos inseparáveis. era da hora! as vezes eramos imprudentes, mas quase sempre imponentes. mas ai você quis me matar aqui nesse lugar que conhecemos tão bem. há inúmeras maneiras de esconder um corpo no meio dese mato, né? diabos! já havíamos brincado com isso antes, creio, enquanto bebíamos umas cachaças perto da fogueira. e quem iria questionar você e a sua história da minha morte por aqui? quem iria questionar a nossa amizade de toda vida? enquanto discutíamos a nossa viagem, nunca passou pela minha cabeça que entre seus planos estava a minha morte. mas por que? até onde me consta, você não sabia nada da minha traição. conheço-o tão bem, suponho que você deva ter notado algum sinal, mas acho que eu estava muito absorvido pelo amor de sua esposa e ocupado demais fazendo planos, meus próprios planos, para tirar vantagem dessa viagem e te matar.
eu não queria que... isso acontecesse. começou tão sutilmente. um olhar quase imperceptível dado num momento de desconfortável silêncio. depois veio um roçar de ombros (ou será que foi de mão?)... será que foi ela que levou isso adiante? ou será que eu que fiquei cego com a minha obsessão? será que ela queria mais do que já tinha? você e eu eramos tão parecidos... as pessoas chegavam a dizer que parecíamos irmãos. ou será que a curiosidade acabou se transformando no mais simples e complexo dos sentimentos? amor.
não sei. sei que eu estava afundando e não sabia disso. esse seu buraco é bem profundo. bem mais do que aquele que eu cavei para te enterrar. e você nem deixou sinais óbvios do seu trabalho inspirado. a viagem aos parentes dela em itariri foi uma artimanha da sua parte. ela bem queria adiar a viagem. estávamos no auge da nossa paixão um pelo outro. as horas que podíamos ficar juntos eram tão limitadas... mas como ela mesmo me disse, você parecia tão determinado em ir que ela não teve como evitar. quando você retornou sozinho e me falou que a irmã dela estava com a saúde debilitada, eu sabia que ela seria a primeira a se oferecer a ficar pra tomar conta. não tinha motivo algum pra suspeitar de alguma coisa, tinha? só agora, só agora na escuridão do seu olhar e vendo ela de bruços lá dentro do buraco, posso ver seu plano na totalidade e a beleza horrível de tudo.

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