segunda-feira, 29 de agosto de 2011
















naquela manhã, coriolano estava adiantado. 
depois de dois anos desempregado, ele ia entrar as oito e meia. 
as sete e cinquenta já tinha se banhado, penteado o cabelo e já estava até vestido, sentado no sofá da sala.
ligou o som, ascendeu um cigarro e, voltando-se a sentar, pensou o que assinalava esse dia na trajetória que até aqui tinha tomado.
chegou a conclusão que não representava lá muita coisa, já que continuaria duro como antes.
ele sim tinha que representar o papel que era imposto à massa. como ele não era filho de barão e nem tinha tino pra ladrão, não podia ser diferente.
esse devaneio durou o instante do cigarro que, depois de incinerado, serviu de ampulheta para decretar a sua saida.
lenine calou-se naquela casa e coriolano saiu porta a fora, pronto para o que desse e viesse.
caminhada de vinte minutos e já estava lá. emprego novo. gente nova. velhas expectativas.
bem sabia ele que dali a três meses já estaria achando tudo aquilo um saco. 
lembrou-se do pai: "tu és um mandrião!"
não era bem assim. o que poderia coriolano fazer se, como em tudo na sua vida, o tempo se mostrava inexorável na ação de deteriorar os seus melhores anceios?
não era assim na natureza? nasce, cresce, morre. nada é perene. mas dessa vez ia ser diferente.
coriolano estava disposto a representar o seu papel sem maiores delongas. 
continuaria sem dinheiro, mais ao menos teria para ir quando acordasse de manhã. 
devidamente orientado e encrachazado, subiu ao departamento onde iria passar as próximas oito horas. ja tinha familiaridade com o artigo que ia cambiar.
sem sobressaltos até às duas e quarenta, quando chegou lucia, a garota do turno da tarde. 
viu no crachá o nome já citado pelos colegas.
manejou a cabeça para a beldade. ela se dirigiu a ele: 
'oi. sou lucia. espero que você goste de trabalhar com a gente. a equipe é bacana. eu já tinha ouvido falar de você...'
'bem ou mal?'
'ouvi dizer que você gosta de tudo isso...' apontou o ambiente a sua volta, onde estava incluído ela.
'é...'
a chegada de um terceiro, deu espaço para a mente de coriolano voltar do terreno tesudo que tinha entrado. 
se afastou e fingiu arrumar uma prateleira. 'suculenta pra caralho!'
dados os dias, aquela premissa corroía coriolano. 
dezenove aninhos. estudando comunicação. simpática. inteligente. toda engajada filosoficamente. 
reclamava das noites que passava sozinha em casa sem ter nada pra fazer. familia no interior.
'é uma garrfa de vinho, fuminho e filminho. acordo cedo pra facul, sabe?'
entendia do jogo e reconheceu em coriolano um jogador. 
de inicio, coriolano deu trela. 
fazia trocadilhos e falava coisas espirituosas só para vê-la sorrir e sentir a mão dela pousar em seu ombro.
as vezes no braço. um semi-abraço.
coriolano sentia frissons. já sabia onde aquilo ia dar. primeiramente num bar. segundamente: a alcova. e depois?
teria ele que criar um departamento na sua vida para acolher tão delicada passarinha? 
como essa trepada implicaria no emprego? 
e a flavia?
mediu suas possibilidades. 
naquela manhã chegou atrasado. parou de graçinhas com lúcia.
coriolano estava mudando.





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