quarta-feira, 18 de abril de 2012

INSIGHTS
(ou as filhas do pastor)






elas eram célia e circe. irmãs nascidas na diferença de três minutos. pela proximidade, cresceram juntas em afinidades, pois além de irmãs eram melhores amigas. ficavam horas absortas  em brincadeiras que faziam apenas com papel e caneta. célia e circe estavam sempre administrando um escritório, um restaurante ou uma floricultura onde elas eram chefia, produção e clientela. a brincadeira sempre acabava bem com as duas se refestelando com o produto final. e riam. riam. não tinham bonecas, panelas, bambolês ou lápis de cor. não gostavam. de escola também não brincavam. na escola eram séria e melhores alunas em todas as matérias e  anos. tinham a antipatia dos coleguinhas, porem, elas em si se bastavam
o pai dessas meninas era um pastor profissional. adão era graduado em psicologia, pós-graduado em comportamento humano e doutorado em mentalismo. tudo na rua. muito cedo ele percebera o poder da palavra observando o homem da cobra na praça da sé. seu pai, o avô das meninas, era o cara que nunca pulava pelo circulo de facas, mas vendia por cinco cruzeiros centenas de latinhas com óleo de figado de peixe elétrico que ele mesmo preparava em casa. e nessas observações, adão um dia  viu um jovem edir macedo proferindo palavras enérgicas sobre um pequeno circulo que o rodeava. foi lá ver. o cara era bom. falava de deus e no fim do falatório, convocou as pessoas a darem dez por cento do que tinham ali no bolso. e algumas deram mesmo. ele foi um dos que não deram, talvez por nada ter naquela hora. mas ficou impressionado. tanto que trinta anos depois, tinha a sua própria igreja e prestava consultoria à novos empreendedores dispostos a entrar no lucrativo ramo da fé.
se na escola torciam o nariz para célia e circe, nas congregações aonde acompanhavam o pai, eram solicitadas e invejadas. templos ficavam lotados aonde o pastor adão aparecia. ele tinha a manha de curar doenças e resolver qualquer problema nos breves intervalos de sua santa palavra proferida qual metralhadora. crianças não gostam de verborragia.  elas ficavam geralmente pelas calçadas ou por algum páteo interno, brincando muito e falando baixo. célia e circe, como novidades, sempre comandavam essas brincadeiras. advinha de que? só que ali elas eram sempre as clientes. vai vendo...
certa feita em goiania, dois meninos passaram a se xingar para ter atenção das gêmeas. entre lágrimas, um deles grudou no pescoço do outro e chegou a desferir alguns golpes no subjugado antes que um adulto ali mais próximo separasse a contenda. as meninas se entreolharam e assim que o adulto se afastou, circe disse para eles: 'minha irmã brinca com quem ganhar o duelo entre vocês.' toparam. um menino dali falou: 'eu aposto que o leandro ganha.' uma outra discordou: 'mas o leonardo já bateu nele...' o menino triplicou: 'aposto no leandro!' e deu-se. num canto livre de adultos, célia e circe organizaram a primeira rinha de criança. as regras foram aprimoradas. ninguém se feria. meninos dispostos a brincar, não faltavam. até meninas. as irmãs ganhavam nas inscrições e em parte das apostas. quase sempre um dízimo.
uma certa noite, eu vi uma dessas apresentações na janela do meu apartamento da gávea, que ficava um inferno em dias de culto. saquei tudo na hora. eliminei todas as regras da brincadeira das meninas, me mudei pra bangcoc e também fiquei milionário.

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