segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012



EMILIANO SOFRENDO



 





em sua adolescência, emiliano participou de uma experiencia do governo.
junto com outros mancebos, internou-se em uma instituição não localizada e lá ficou por uns quatro anos, quando deveria ficar dez. o que aconteceu de fato naquele espaço tempo é uma incógnita que nunca saberemos, pois o que vamos tratar aqui é que dezoito anos depois, graças ao advento do facebook, alguns daqueles não mais jovens  resolveram se encontrar. podia ser em um domingo. podia ser no ibirapuera...  emiliano ficou enojado e repudiou a possibilidade de dar forma aquelas sombras que lhe vinham quando se lembrava daquela época. fez que não viu as postagens do convite, até ver adriana nas conversações.
emiliano molhou a sola dos pés em sensações. pensava nunca mais ver aquele cabelo sedoso, a pele mais clara que já tocara... naquele tempo mesmo ele já não lidava bem com elas. foi com fusão que emiliano se meteu com adriana dentro do armario da area de serviço em uma tarde de sabado. o flerte entrou em erupção ali entre tanques e sabão. o encanto acabou com o flagra do monitor. relação daquela natureza era cabível de expulsão do projeto. ele quase não aguentou o olhar da irmã, que era mãe e pai também, na manhã em que retornou de mala e cuia. ela foi quem arranjará aquela boquinha para ele ganhar um dinheiro enquanto aprendia coisas. e agora? emiliano não parou. logo arranjou emprego em uma livraria que o livraria do mal estar em casa ouvindo as lamurias da irmã. foi indo para o trabalho que um dia conheceu clara, com quem namorou, casou e não teve filhos. nem quiseram saber porque. adotaram edgar, criança pequena e frágil que morreu em dia de festa. não demorou muito para que clara também se fosse, morrer em vida. emiliano nunca mais a viu e nem saiu de casa em paz. tudo o acusava. tudo o fazia lembrar dos desacertos da sua vida. e mais essa agora: adriana ali dizendo que ia no encontro. um dia, ao abrir o facebook, viu a mensagem vermelha de adriana. ela dizia estar feliz em acha-lo na rede social e que ela só iria no encontro dos antigos alunos se ele também confirmasse presença. emiliano não confirmou, não respondeu e sofreu até a data marcada do encontro. vestiu uma roupa sóbria e se meteu no ônibus que o levaria até o parque. sabia de tudo: o horário, o lugar, quem iria... foi e ficou de longe vendo a movimentação. e eles foram chegando. umas doze pessoas. muito menos das que disseram que iam. reconheceu silvana, geórgia e teresa. ninguém mais. nem ele mesmo, que se perguntava o que fazia ali assistindo aqueles sorrisos de longe. mas ele sabia. ele sabia que tinha ido ali pra ver se adriana iria ao piquenique independente da presença dele. se o que ela dizia era verdade e se ele teria alguma chance de ser feliz, caso adriana entrasse na vida dele novamente. mas ela não apareceu no piquenique e ele ali também não foi. ficou em um banco afastado, observando as pessoas tirando fotos abraçadas, vinho, pães e frutas sendo consumidos em meio a gargalhadas. o que poderia ele fazer ali? convivera pouco com aquelas pessoas e não tinha o menor interesse em saber o que eram elas hoje. e se perguntassem da vida dele? nunca que ele teria coragem de dizer que pôs fogo no filho que nem dele era ao tentar ascender a churrasqueira naquele maldito domingo. a explosão do álcool, o cheiro da carne, os gritos... tudo ainda habitava a vida de emiliano. nunca superaria. se alguém perguntasse, nunca que conseguiria dizer simplesmente: 'não tive filhos.' viu as pessoas se despedindo e se irem para o que ele imaginava ser uma vida melhor do que a dele.
chegando em casa, emiliano excluiu seu perfil do facebook.

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