quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

sábado e domingo passado estive no rio de janeiro com a primeira caravana de poesia organizado pelo alessando buzzo da suburbano convicto e pelo fernando do sarau da vila fundão.
desse bonde também participou o povo do elo da corrente, do sarau da brasa, do binho, os poetas do tiête e de outros coletivos literários das periferias de são paulo.
já morei no rio de janeiro e de lá eu tenho as melhores lembranças e impressões.
carioca é gente boa, sim. filho da puta tem em todo lugar. rixa mais boba...
as penúltimas noticias que chegaram de lá através da imprensa para mim, dão conta de que o rio de janairo, agora sim, está lindo. se essa beleza se refere à algum tipo de erradicação da violência na dita cidade maravilhosa, a imprensa mentiu de novo.
cito aqui dois extremos que ilustram como o rio de janeiro continua lindo e dividido:
na tarde de sábado estivemos na grota, comunidade que faz parte do complexo do alemão. era dia de festa.
fora os poetas que se apresentariam naquela tarde, teriam outras atividades artísticas e sociais acontecendo abaixo daqueles teleféricos. grafiteiros tomavam as ruas ao redor do palco. crianças riam e corriam. a duzentos metros, na avenida principal, o exercito ostentava tanques e armas pesadíssimas.
tipo sarajevo mesmo. tensão no ar. estavamos ali de visita, não tinha por que abordar. mas conversando com os locais, eles disseram que o morro não esta tão 'pacificado' assim. abusos ainda acontecem.
feita a apresentação na grota, seguimos para o morro do fallet, no centro do rio de janeiro.
não sei porque cargas d´agua, descemos por um caminho diferente de um pessoal que saiu andando logo que o ônibus parou. eu, fernando, pézão, camila e outras pessoas que agora não lembro, dado o meu estado etílico, descemos escadas longínquas até chegar em um largo no coração do morro onde aconteceria as apresentações. 
logo vi a uns oitenta metros um grupo onde um individuo saracoteava uma arma do tamanho de uma picareta. não sei identificar nem carros e nem armas. sei lá que porra era aquela.
a boca miúda, logo nos chegou a informação que não era para tirar fotos. teve gente que tirou. eu mesmo tirei umas com um palhaçinho que por lá se divertia. 
ali também tinha abusos.
dado esses acontecimentos, fui tomado por uma dúvida: 'até que ponto precisamos que as intituições cuidem de nós? até o quando o povo vai viver instituído?' sai de lá sem resposta
no mais; pelos lugares que passamos (ramos, nova iguaçu, borel), fomos muito bem acolhidos e tratados.
as pessoas se identificavam automaticamente com a gente ao saber o motivo da nossa visita ali: ler poesias! 
elas se encantavam e contavam histórias da comunidade relativas a essa elegia. algumas até arriscaram os primeiros versos. 
a magia das palavras sempre vão tocar as pessoas. de um modo ou de outro.
aproveito a deixa para me desculpar com as pessoas que se sentiram perturbadas pelo meu comportamento dionisíaco. naquele fim de semana, especificamente, eu não tinha tomado os meus remédios, já sabendo das cervejas que tomaria.kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
escusas escusas. escusas.
para a maioria (mais de quarenta) que se divertiu levando poesia, música e alegria para essas comunidades tão pejorativamente retratada, fica o meu respeito e admiração, assim como ao povo que ficou lá e, com certeza, pelo menos um vai usar o conhecimento, a força da palavra para mudar algo ao seu redor.
e essa é a mensagem que eu deixo nesse ultimo post do ano: se não conseguimos mudar as coisas, mudemos nós. 
já quintana diria: 'cuide do jardim, as borboletas virão.'
estou indo pra casa de mãinha com meus filinhos e de lá não saio tão cedo. talvez o ano que vem...
para todos: A GLÓRIA!



estamos aqui no tablado,
feito de ouro e prata
e filó de nylon!


eles querem salvar 
as glórias nacionais.
as glórias nacionais!
coitados...




ninguém me salva.
ninguém me engana.
eu sou alegre,
eu sou contente,
eu sou cigana.

eu sou terrível.
eu sou o samba.
a voz do morto,
os pés do torto,
o cais do porto,
a vez do louco,
a paz do mundo:
Na Glória!


eu canto com o mundo que roda.
eu e o paulinho da viola
viva o paulinho da viola!


eu canto com o mundo que roda
mesmo do lado de fora,
mesmo que eu não cante agora.



ninguém me atende,
ninguém me chama.
mas ninguém me prende;
ninguém me engana!


eu sou valente.
eu sou o samba.
a voz do morto
atrás do muro.
a vez de tudo
e a paz do mundo
na Glória!



CAETANO VELOSO



Um comentário:

  1. Adorei as desculpas pelo "comportamento dionisíaco"
    Eu falei até pra Raquel que se fosse nos anos 70, teríamos 42 em "comportamento dionisíaco"....kkkkkkkkkkkkkkkkkk
    Comédia pura...Amei você...fora a "cantata" no ônibus às 6:00 da matina, o resto foi perfeição...kkkkkkkkkkkkkkk
    Até a próxima...
    Beijos carinhosos

    ResponderExcluir

muito obrigado por comentar neste blog. só não esqueça que a trema caiu e que berinjela é com J! não leve a mal. estou avisando para que você não passe vergonha na frente dos outros comentaristas.