segunda-feira, 26 de dezembro de 2011



 OS TRÊS IRMÃOS DE SOFIA













um dia eu vinha zanzando
com meu andar de malandro
nas ruas da burguesia.
ia oiando pras janela,
quando topei numa delas
com os dois olhos de sofia.

era dois carvão aceso.
fiquei estancado, preso,
cego, bobo, surdo, mudo.
não consegui dizer nada,
mas também numa oiada
nóis dois si dizia tudo.

sofia era mulher séria.
não sabia o que é miséria
e tinha seu lar, seu marido.
já eu era da orgia,
criado na boemia;
eu era um sujeito perdido.

mas o amor não escolhe cara
e a gente menos repara
e quando vê tá no papo.
sapo amou estrela um dia
e na história d´eu e sofia
estrela também amou sapo.

a gente não pode esconder
aquele amor sem poder
e o povo viram e falaram.
foi ai que eu disse um dia:
"escuta aqui ô sofia,
isso não tá legal!
esse nosso amor escondido,
nóis tapeando o marido...
isso vai acabar mal.

ouça agora o que digo,
você vem morar comigo
e sai da boca do povo.
comigo tu vai ser casada.
cê vem para a minha morada
e fica séria de novo.'

sofia me olhou espantada
como quem não entende nada
e depois só disse: 'tá bem.
se é isso que tu qué
me espere no seu chatô
segunda feira que vem.'

de um jeito descidido
sofia chamou o marido:
'a partir desse momento
acabou nosso casamento
e tu não é mais meu senhor.
pego minhas coisas agora
e dessa casa vou embora.
o amor me chama e eu vô.'

o marido de sofia
ficou danado da vida:
'se pique mulher perdida!
te dei casa e carinho
te dei amor e um ninho
e tu vai largar tudo isso
pra ir morar em cortiço?
pra viver por ai rolando?
pra ser mulher de malandro?
pode ir desgraçada!
e se um dia voltares
a porta vai tá fechada.'

sofia arrumou a trouxa
e muito calada se foi.
ao chegar me disse: 'oi'
e eu fiquei numa alegria...
se para a minha pessoa
teve uma coisa boa
nessa vida vadia
essa coisa foi sofia.
ela era o sol de cada dia
que aquecia o meu coração.
enchia de vida e alegria
de encanto e de harmonia
nosso quarto de porão.

fomos feliz por um tempo...
bebida, más companhias,
o vicio da boemia
me tiraram do caminho.
nos momentos que eu pensava
me arrependia, chorava
e pedia perdão pra sofia.
sofia só perdoava.
perdoava até que enfim
viu que não adiantava
e perdeu a ilusão em mim.

mesmo assim não disse nada.
se tinha vindo calada
muito mais quieta se foi.
não voltou para o marido
e nem continuou a rolar
na estrada da perdição.
não fez nada disso, não...
pra seu amor que era grande
eu era muito pequeno;
sofia tomou veneno.

os três irmãos de sofia
prometeram a minha morte.
a raiva dos três é forte.
querem acabar com a minha raça,
querem ver minha desgraça
e me meter o punhal.
na história da minha vida
querem por ponto final.

deixa eles vir que eu espero.
é isso mesmo que eu quero!
num tô ligando pra nada.
vou por ai rolando
nas vagas da madrugada
sabendo que em uma esquina
tem três navaia assassina
de tocaia me esperendo.
quero encontrar com eles
de costa pra uma parede
na madrugada vazia.
depois de um furdunço feio,
eu pintado de vermeio
do sangue deles e do meu,
me espixo na calçada
e no meio da noite fria,
na urtima gorfada,
morrer chamando sofia.

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