recebi a grata visita da michele que trouxe o luca pra brincar com os bb´s, que estavam aqui nesse final de semana. eu disse a ela que ia fazer um macarrão nervoso e ela chegou com varias brejas eu um frango de padaria. tarde perfeita! estavamos lá ouvindo um som quando toca a campainha. o davi desceu pra ver quem era. era a mulher do IBGE. no cense. falei pra michele: "vamu dá um nó na cuca dessa lôca?" ele disse: "demorô!" falei pro davi mandar a moça subir. ela subiu simpatississima. perguntei se demorava. ela disse: "depende da maquininha". era um mecanismo parecido com um celular onde ela coletava as respostas através de toques com uma canetinha. primeira pergunta dela: "quantos banheiros tem na sua casa?" putz! bizarro! perguntou se a casa era alugada, quanto eu ganhava, se alguem da familia tinha morrido recentemente e se eu morava ali sozinho.
essas cinco perguntas me levaram para o questionário básico. isso mesmo. tem o questionário básico e o complexo. o governo não se interessa por homens solteiros que ganham pouco e não tem porra nenhuma e nem receberam nada de herança recentemente. percebi que o que eles querem saber mesmo é minha renda.
mas a pergunta que ela fez e que nos leva a esse post foi: "como você define sua raça: parda, branca, negro ou indio?" na lata disse: "indio." ela ficou surpresa e disse: "vou fazer perguntas pra indio aqui..." eu disse: "manda." primeira pergunta dela: "qual etnia ou grupo indígena você descende ou faz parte? eu disse: "da tribo dos kukukaya". kkkkkkkkkkkkkkk.. ai não tinha. ai eu fiquei no basicão. branco. a agata fez a rubrica na tela da maquininha e ficou por isso mesmo. quem sabe daqui a dez anos...
eu,
com muito merecimento,
tenho uma certidão de nascimento.
nasci certinho.
se me entortei
foi no caminho
que logo me fez perceber
como o mundo é cruel...
já naquele papel
questionavam minha raça.
como quem vê
quem passa ou não passa
nas portas dessa babel.
o que pôr naquele campo?
que sou indio,
negro
ou branco?
é a isso que se resume?
toda a minha história
e os meus costumes?
nessa denominação sem graça?
raça?
tenho a raça dos iorubás,
dos portugueses
e dos tupinambás.
raça pra ganhar mundo,
de não hesitar nem um segundo
para melhoria buscar.
ninguém embaça
na minha raça,
pois com ela
faço o que quero.
não tem patrão, policia
ou clero
que me reduza a zero.
Sou nordestino.
Sou menino.
Sou do sul.
Sou do pará.
Sou dos cantos
do espírito santo.
Sou banto.
Sou marajó.
Sou pataxó.
e só tenho a agradecer
esses genes que recebi.
esse gene misturado
pelos meus antepassados
que fazem do meu existir
essa grande miscelânea.
essa energia espontânea
que corre na minha veia;
todo hora
todo dia
toda semana...
que só me dará alento
quando vir, no tal documento
escrito apenas: raça humana!
a poesia é das melhores, mas o relato é imbatível. Fiquei com pena da mocinha, bem treinada, pronta pra qualquer resposta que o destino e o IBGE, puseram na sua porta...
ResponderExcluirkkkk, ESSA FOI BOA , Augusto!
ResponderExcluirEstou trabalhando no IBGE e falta senso pro IBGE. Na verdade a pergunta é ainda pior: " A sua cor ou raça é":
branca
preta
parda
amarela
indígena
Estou impressionada. Primeiro porque a pergunta é cretina demais. Onde estão os mamelucos, os caboclos, os cafusos e os malamanhados?
Na região que estou recenseando quase não existem pessoas da cor preta, todos se declaram pardos e quando o pai ou mãe se declara preto aí diz assim; " mas meus filhos já são mais branquinhos".
Ainda não peguei nenhum tipo que quisesse me dar um nó, mas achei muito divertido a ideia de dizer-se índio.
Vcs , pelo menos, ofereceram um copinho de breja e um pratinho de macarrão pra coitada?
Vamos tratar bem os recenseadores gente!!!!
Suzi
Ah! Publiquei um texto sobre isso no meu blog
ResponderExcluirwww.palavrasesabores.blogspot.com, dá uma lida.
Suzi