sexta-feira, 30 de setembro de 2011




LOBISONICES




raicais cada vez menores (e piores) 
e um cordelzão antigo em ménage 
ao meu amigo.





PASSADA
sigo aquilo que não
pode se alcançar.
fico beira mar.


FOI DO RALO
no começo era
a cheirosa flor.
hoje bolor.


ALMA N´ALGEMAS
presa na mente.
louca gana
de te la.


CEGO
vi a saia
deu tesão
fui lá

PRESSA
ela quer
logo 
eu





A PELEJA DA LOBISOMA COM O HUGUÊRA


e dessa vez não foi o cão
que eu tive o azar de encontrar.
mas tô certo que foi sua irmã
que de lá veio me assombrar.
observe essa história sinistra
que agora eu vou lhes narrar.

não sei se por viver na doidêra
ou por gostar de por terror,
minha vida tem altos e baixos;
qui nem qui num elevador...
me aconteceu essa história
que até matusalém duvidô.

outra vez estava eu
bebidinho, bebidinho...
também era lua cheia,
mas não estava sozinho.
tava eu e o huguêra
voltando do bar do binho.

já era o dia seguinte.
o passo tava apressado.
e foi logo após a uniban
que vimos o 7 pecados.
trocamos olhares sinistros.
meu sangue ficou gelado.

num ataque de responsa
eu falei: “ô huguêra...
vamo nessa porra, não!
hoje ainda é terça-feira!
até as mina essa hora
deve tá na mó sonêra.

se quiser ir lá pra baia
pra poder descansar,
nós vamo na caminhada...
a fê não vai te ligar!
e pode dormir até tarde...
eu mesmo não vou trabalhar!”

foi com muita relutância
que ele desistiu do roteiro.
cê vê como é o destino...
às vezes ele é sorrateiro!
depois eu me arrependi
de não ter ido lá pro puteiro.

andamos que nem cavalo
em direção a carlos caldeira.
itapecerica...fim de semana...
o cemitério... a ladeira.
caindo pro jardim leticia
começou a desgraceira.
  
avistamos uma mulher
que era muito da cabeluda.
tinha os dois olhos verdes
e uma bela de uma bunda.
um sorriso lindo e largo
numa boca bem beiçuda.

veio em nossa direção
e como quem pede um favor,
disse: ‘eu to meio perdida.
não sei bem onde eu tô.
posso acompanhar vocês?
onde vocês for eu vô.’

o huguêra então sacou
logo o seu cavaquinho.
e um som bem mameluco
ecoou daquele pinho.
virou pra moça e falou:
‘vamos lá pro netinho!

lá a gente ouve um som;
de repente toma um vinho...
nóis fica de boa na laje.
que pã, fuma um basidinho.
se quiser nos acompanhar,
ele mora aqui bem pertinho.’
  
me entusiasmei com a idéia:
‘não vejo problema nenhum.
tenho choro, tenho bossa...
eu tenho até um lundu!
tenho o beck; não tenho o vinho...
mas tenho uma cinqüenta e um.’

a moça disse: ‘sei não...
eu quero é pegar um busão.
e se eu for à sua casa,
sei lá qual é sua intenção...
vocês vão querer me comer.
e eu já vou avisando que não!’

eu disse pra ela: ‘kéissssso?
cê ta falando bobagem!
só queremos te proteger
na segurança da laje.
você estando segura,
ai já é outra viagem...

a moça deu um sorriso
um tanto malicioso
e disse: ‘tá bom! eu vô!
não deve ser tão perigoso.
ainda por cima por que
cês tem cara de bom moço.’
  
a moça somou-se a nós
e eram três na madrugada.
o huguêra se coçava,
se ria e chutava lata.
e uma canção do nelsão,
baixinho eu cantarolava.

do letícia pra minha casa
é coisa de dez minuto.
e quando chegamos à mesma,
na moça fui chegando junto.
e disse assim para ela;
‘na geladeira tem um presunto...

e se quiser fazer uma omelete,
os ovos se encontram na porta.
e se quiser tomar um banho,
eu posso esfregar suas costas...’
ela disse: ‘o banho, tomo sozinha,
mas vá deixando a mesa posta.

pois hoje eu vou fazer
um rango bem especial.
e você e seu amigo
tão no prato principal;
eu vô devorar os dois!’
eu disse: ‘uau!!!que legal!’

a moça foi tomar banho
e eu olhei pro huguêra.
us zóin do bixin brilhava,
tava até di tremedeira.
parecia um minininho
gostando da brincadeira.

eu disse assim pro huguêra:
‘vô fazer um frango frito.
tu faz uma caipirinha,
ali tá os limão e o litro.
que demora no chuveiro!
eu já tô ficando é aflito...”

foi ai que no banheiro
eu ouvi grande zuada.
barulho de vidro quebrando.
a mulher dava cada uivada...
eu pensei: “minha nossa senhora...
essa porra ta é drogada!”

fui correndo pra acudi-la
com uma angustia danada.
se ela morre na minha casa,
minha vida ta desgraçada!
e quando eu entrei no banheiro
ela estava transfigurada.
  
ela tava andando de quatro,
de um jeito que eu não queria.
a cabeleira que ela ostentava,
o seu corpo todo cobria.
o olho injetado em sangue.
e os dentes... vixe maria!!!!

quando huguêra viu a lobisoma
ele gritou: ‘kéisssso?????
entrou uma linda gata
e agora sai esse bicho?
tô achando que seu chuveiro
deve ta com algum enguiço.’

a fera olhava pra gente
com muita bestialidade.
eu disse assim: ‘ô huguêra...
tu pode ficar a vontade.
eu vô descansar um pouco,
por que já ta meio tarde...’

o huguêra deu um berro,
dizendo assim: ‘qual o quê?
você é um amigo da onça!
tá querendo me fudê?
você fica ai com ela,
pois eu vou me recolher.’

ficamos alguns minutos
passando a batata quente.
só que nesse ínterim
a fera ficou descontente,
e quando eu penso que não,
ela veio pra cima da gente.

o meu barraco é pequeno;
não tem pra onde correr!
pensei: ‘ai meu jesus cristinho...
ainda não quero morrer!
prometo que essas maluca
aqui nunca mais vou trazer.’

o huguêra só gritava:
‘valei-me virgem maria!!!!’
minha carne dilacerada,
antes da hora eu sentia.
e quando a fera deu o bote,
o dia já amanhecia.

eu abracei o huguêra
e ele se abraçou ni mim.
ficamos ali trancadinhos,
passava nem um ventin!!!
tava  na décima oração
quando o riso d´huguêra ouvi.
  
abri o olho depressa
para ver qual é que é.
a moça tava deitada,
peladinha no nosso pé.
e o huguêra me falou:
‘vai entender as mulé...’

peguei a moça no colo
e a larguei lá no sofá.
e falei assim pro huguêra:
‘vamos colar num bar.
mais essa nossa vitória
temos que comemorar.’

quando eu conto essa história
para um ou mais escutante,
ele zomba da minha cara
e diz: ‘você é delirante!”
mas se quiser ver a lobisoma,
vá em casa, na lua minguante...

o problema é que o huguêra
comigo não quer mais andar.
ele diz: ‘você é doido!!!
qualquer hora vai se lascar.
e quando chegar esse dia
bem longe d´ocê quero estar.’

esse cordel louco eu fiz
inspirado no sobrenatural
e pra homenagear o huguêra;
um musico fenomenal!!!
que também é um grande amigo
e um grande cara de pau.




quinta-feira, 29 de setembro de 2011










poesia não é pastel
pra sair na hora.
aflora.
além da pressa
e da demora,
no vão do tempo
e da memória.
no substrato da ideia
a imagem
busca o trajeto.

poesia não é projeto
a ser aprovado
por acadêmicos
mal humorados,
inchado de tanto saber.
no bastidor de um gemido,
dançam várias palavras
que trazem algum sentido
ao vazio do texto.

poesia não é pretexto
para comer mulheres.
no tilintar dos talheres,
na dissonância das falas,
no alvoroço dos carros
é que a poesia acontece.

desce e dobra a esquina,
bebe um rabo de galo
acende um velho cigarro
e vai encontrar o poeta
que dorme sob a sarjeta.

poesia não é gorjeta
pra ser dada em sinal fechado.
e esse anjo 
sentado ao meu lado
disse ser poesia
a explosão do silêncio.













quarta-feira, 28 de setembro de 2011



HAIKAI



ê minh´alma estranha...
perde pedaço,
pedaço ganha.









 A Escala

toda forma que vês 
tem seu arquétipo 
no mundo sem-lugar.

se a forma esvaece, 
não importa;
permanece o original.

as belas figuras que viste, 
as sábias palavras que escutaste...
não te entristeças se pereceram.

enquanto a fonte é abundante, 
o rio dá água sem cessar.
por que te lamentas 
se nenhum dos dois se detém?

a alma é a fonte 
e as coisas criadas os rios.

enquanto a fonte jorra, correm os rios.
tira da cabeça todo o pesar 
e sorve aos borbotões a água deste rio
que a água não seca, ela não tem fim.

desde que chegaste ao mundo do ser
uma escada foi posta diante de ti
para que escapasses.

primeiro, foste mineral; 
depois, te tornaste planta,
e mais tarde animal.
como pode ser isto segredo para ti?

finalmente foste feito homem, 
com conhecimento, razão e fé.
contempla teu corpo – um punhado de pó –
vê quão perfeito se tornou!

quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto ás de regressar como anjo.
depois disso, terás terminado de vez com a terra
e tua estação há de ser o céu.


passa de novo pela vida evangelical, 
entra naquele oceano, 
e que tua gota se torna mar,
cem vezes maior que o mar de oman.

abandono este filho que chamas corpo
e diz sempre “Um” com toda a alma. 
se teu corpo envelhece, que importa? 
ainda é fresca tua alma.





Jalal ad-Din Muhammad Rumi


segunda-feira, 26 de setembro de 2011













esse meu cordel estradeiro
já viajou por muitas léguas.
andou caminhos tortuosos,
sem métrica, regras ou réguas.
apertou-se em trens na cidade.
apartou-se em lombos de éguas.

com ele fui em muitas salas
e deitei-me em algumas camas.
envolvi-me em brigas, romances,
politicagens e outras tramas.
fiz brotar xingos em homens
e suspiros em muitas damas.

me meti em tudo isso
somente por intenção
de conquistar algum dia
a primorosa elevação
de trazer junto ao peito
um amor no coração.

que não fosse passageiro
e que me deixasse pleno.
um de janeiro a janeiro
e que fosse puro veneno.
mas só encontrei o ligeiro,
desses que é bem pequeno.

e eu também tenho um gênio
que é tremendamente mortal.
percebo que a coisa é frouxa?
mato a cobra e mostro pau!
encharco-me de sentimentos.
não quero o que é visual.

por isso esse meu cordel
tá totalmente emaranhado.
uma linha de cada forma,
um verso pra cada lado.
num ligo para o que acham,
pois assim também sou tratado.

se querem ver rima rica
vão atrás de sérgio vaz.
enquanto não ter esse amor
minhas rimas serão incapaz
de transmitir o que seja:
calma, lindeza ou paz.

eu rimo é por teimosia!
que nem que na respiração.
quando quero fazer poesia
penso em trote e confusão.
talvez ela mude algum dia,
quando ver a tal da paixão.

por hora eu vou destilando
o meu pensamento atroz
que vagueia pra todo lado
de forma cruel e veloz.
e que ninguém deveria ler
e muito menos de ter voz.

poesia é coisa bela,
que fala de sol e gaivota.
que seja ao menos singela
e que ainda renda uma nota.
pra mim ela é pura balela
que uso pra fazer chacota.

mas se um dia à mim chegar
o quisto amor de mulher,
prometo mudar de conduta
e me dedicar ao mister
de parar de fuleiragens
e ser pro que der e vier.

enquanto isso eu vou ficando
nadando em minha amargura.
fazendo cordéis horríveis
que ao povo mete paúra.
mulher; não demore em vir,
pra coisa mudar de figura...