estudava eu na primeira ou na segunda séria do primeiro grau (hoje, fundamental) quando em uma tarde, a professora entrou anunciando que passaria um ditado para a sala.
sempre me dei bem nesse exercício e, despreocupadamente, tirei aquele papel quadradinho da bolsa e fiz o cabeçalho.
nessa tarde, o ditado era de vinte palavras, as quais dividi em quatro colunas de cinco linhas.
as palavras foram anunciadas repetidas vezes pela professora e os alunos, em silêncio, iam copiando em suas folhas.
fui o primeiros a acabar e entreguei confiante, para a surpresa da professora que acabava de ditar a ultima palavra da lição.
ah! esqueci de dizer que os ditados daquela megera tinha uma regra, dentre tantas: quem errasse uma palavra, teria de copiar cinquenta vezes da forma certa.
então...
eu já estava rabiscando uma linda rosa dos ventos na minha carteira verde-piscina quando ouvi ela dizer:
'augusto, já corrigi o seu ditado.' fui até a mesa dela para ver meu dez.
assustou-me aquele X em cima de uma das minhas palavras preferidas até hoje: muito.
ela também estava lá em vermelho à cima do meu 'muinto'.
eu estava certo de que aquela coisa entre minha garganta e meu nariz era um 'ene'.
'professora, a senhora tem certeza que esse 'muinto' tá errado?'
ela me olhou irônica e disse: 'tenho! vai copiar cinquenta vezes.'
ainda meio aturdido, voltei para a carteira e comecei o castigo. agora em cinco colunas de dez.
mas não parava de pensar no erro: 'muito. muito. palavra feia da porra!'
engraçado como toda a palavra repetida muitas vezes se tornam estranhas e sem sentido.
no meu caso, isso também se aplica à algumas pessoas...
acabei aquela merda e fui levar pra professora a segunda folha, enquanto alguns retardatários ainda faziam o ditado de vinte palavras.
foi eu entregar e dar as costas e ouvi ela dizer: 'que palhaçada é essa, augusto? você acha que eu tô aqui de brincadeira? pode escrever agora cento e cinquenta vezes! e enquanto não acabar, não sai da sala!'
puta que pariu! eu tinha escrito cinquenta vezes 'muinto' de novo. e sem errar!
foi foda! as lagrimas tamparam minha garganta e eu não tive como explicar pra professora que eu não tinha feito aquilo de propósito.
até hoje eu tenho certas funções que vão além do meu comando...
peguei a folha e comecei: 'muito muito muito muito muito...'
cheguei a apagar alguns 'enes' no começo.
fiz 'muito' cento e cinquenta vezes e perdi o recreio.
e mesmo assim, errei muito na minha vida depois disso...
abençoado seja os muintos erros.
ResponderExcluirbjão
juli
que ótemo! e eu ri muintoooooooooo lendo esse texto. delicioso!
ResponderExcluirPS: passei por um constrangimento assim, mas em matemática. até hoje não entendi porra nenhuma qual foi o meu erro. só sei que a sala toda disse que era uma coisa e só eu apontei pro resultado errado na lousa. até hoje acho que todo mundo errou. tinha algum sentido naquele resultado que ninguém viu! rsrsrs. tenho trauma de matemática até hoje. e fui 'castigada' trabalhando com números, mas não com matemática pura, com estatística (números COM SENTIDO) e acertando muinto! kkk. O problema está na matemática, oras! E tenho certeza: no seu caso, o problema está na língua portuguesa! rsrsrsrs
lindo isso...
ResponderExcluirSublime...
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSó mesmo indo na Bubuia...
ResponderExcluirAmei!!! vou ler pros meus alunos na Bem Comum!!!!
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